Festival de ópera do Theatro da Paz é primeira vítima do corte de gastos do governo do Pará

Contingenciamento suprime 50% dos investimentos previstos para festival e tira de cena atrações como o clássico “La Bohème”.

11/07/2024, 08:00
Festival de ópera do Theatro da Paz é primeira vítima do corte de gastos do governo do Pará
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ensaio dos cerca de 40 cantores do Coro Lírico do Theatro da Paz, na noite de terça-feira, 9, nem foi realizado por conta de uma notícia bombástica: o Festival de Ópera do Theatro da Paz, que é encenado há mais de 20 anos ininterruptos, em Belém, teve o orçamento para a temporada 2024 cortado em mais de 50%, inviabilizando as atrações já programadas, como a ópera “La Bohème”, de Giacomo Puccini, que estava em produção desde o mês de maio passado.


Encenado há 20 anos, festival deste ano perde atrações, mas Feira do Livro, em agosto, terá Carabao, Frutos do Pará e Dona Onete/Fotos: Divulgação.

 

Cultura ‘meia sola’

 

Por uma daquelas “estranhas coincidências”, a notícia do cancelamento do Festival de Ópera chega no mesmo dia, quarta-feira, 10, em que a Secretaria de Cultura do Pará (Secult-PA), produtora do evento, promoveu uma coletiva de imprensa para informar as atrações da 27ª edição da Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que será realizada de 17 a 25 de agosto, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia.

 

O evento de literatura, além dos encontros com escritores, terá também shows - shows populares, diga-se de passagem -, reunindo Amazônia Jazz Band e convidados; Frutos do Pará e convidados; AQNO; Dona Onete; Carabao - aparelhagem vinda diretamente do Marajó; Zaynara; Trilogia e um tributo a Tonny Brasil.

 

Espanto geral

 

A notícia foi dada pela cantora lírica Dione Colares, que dirigiu o Theatro da Paz na época do governo Ana Júlia Carepa, mas está, este ano, como consultora artística. Os cantores, estarrecidos, ouviram de Dione que houve uma reunião do atual titular da Secult, Bruno Chagas, que substituiu Úrsula Vidal, com os membros da Academia Paraense de Música, que produz o evento; e o diretor do teatro, Edyr Augusto Proença, que, comenta-se, “de ópera quer distância”. Há divergências.

 

E o resultado da reunião é que o evento teve orçamento cortado e não terá como arcar com as atrações que já haviam sido programadas. Dione lamentou o cancelamento, mas disse que não há dinheiro e recomendou aos artistas: “Sejam criativos!”  e perguntou ainda se não haveria “outra ópera mais curta e mais barata” para apresentar.

 

Festival 2024

 

Desde o início do ano já se sabia que o Festival de Ópera, neste ano, teria no máximo, como atração, apenas uma ópera. E isso em um evento que já chegou a encenar três grandes óperas por temporada em anos anteriores. A opção foi pela encenação de “La Bohème”, de Puccini, ópera clássica e famosa, que atrairia bastante público, e que já fora encenada na edição anterior do festival.

 

Em maio deste ano, começaram os preparativos para a ópera, que deveria ser encenada em agosto. Os cantores do Coro Lírico foram convocados, como em anos anteriores, e passaram a ensaiar sob a regência do maestro Vanildo Monteiro. A Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz juntou as partituras e começou também os ensaios.

 

Tudo parecia normal. No final de junho, costureiras e figurinistas do festival chegaram a tirar medidas dos cantores para começar a produção dos figurinos que seriam usados.

 

Também foi anunciado que cada cantor receberia R$ 2 mil pelo trabalho. Uma fonte da Coluna Olavo Dutra revelou que nem sabe mais se os cantores irão receber. “É muito frustrante. Receberíamos R$ 2 mil, mas ontem (9), nos informaram que seriam apenas R$ 1 mil, mas estamos achando que vai acabar em R$ 500, isso se não cortarem tudo”, lamentou.

 

Tirando a bronca

 

Para não ficar “feio” para o governo Helder Barbalho, que se arvora em falar que é um grande propagador de cultura paraense, foi informado que a temporada de 2024 terá apenas uma única apresentação, mas com a produção de “La Bohème” sendo retalhada, reduzida, e que vai ser apresentada somente com o Coro Lírico, solistas e a Orquestra do TP, sem cenários e figurinos, sem encenação dramática e muito menos iluminação cênica. Uma espécie de cantata ou recital, como se diz no jargão operístico.

 

“Vamos ficar parados no tablado, sozinhos, cantando a parte musical e as árias. Toda uma cadeia de trabalho, de cenógrafos, figurinistas e maquiadores foi cortada”, disse a fonte. “Ensaiamos mais de um mês e achávamos que iríamos cantar uma ópera. Foi traumatizante essa notícia”, reforçou.

 

Alguns dos cantores solistas que foram sondados já declinaram do convite e não se sabe como será, na verdade, a apresentação. A conversa passou ainda pelo contato que a direção do festival teria feito com o Instituto Carlos Gomes, que já tem o teatro cantado “O Príncipe do Egito” pronto e que seria levado ao palco do Theatro da Paz.

 

Festival tradicional

 

O Festival de Ópera do Theatro da Paz foi criado pelo ex-secretário de Cultura do Pará Paulo Chaves, na década de 1990. Desde então, o festival primou pela qualidade artística e técnica, trazendo grandes nomes do mundo operístico nacional e internacional para cantar nas récitas, e também revelou nomes paraenses como Adriane Queiroz e Atalla Ayan, que atualmente brilham em palcos do mundo inteiro.

 

O festival também primava pela ousadia, encenando ópera difíceis e pouco vistas, como “Salomé”, obras de compositores paraenses como Gama Malcher, a até colocou o diretor de cinema, o renomado Fernando Meirelles, para dirigir sua primeira ópera em Belém, em 2015.

 

O evento tem renome nacional, também pela regência do maestro Miguel Campos Neto, frente à OSTP, que já “exportou” excelentes músicos paraenses para orquestras do Brasil e do mundo.

 

Tristeza total

 

E tudo isso foi jogado para “debaixo do carpete vermelho” do Theatro da Paz, reverberando tristeza nas cadeiras de palhinha da plateia e nos tacos dos corredores. “O ideal, mesmo, seria trocar a espalhafatosa iluminação externa do teatro, em verde e vermelho, por uma luz negra, em sinal de luto”, comentou uma das cantoras.

 

“Esperando Godot”

 

A Coluna Olavo Dutra solicitou um posicionamento sobre o cancelamento do festival às assessorias de comunicação do governo do Estado e da Secult, e aguarda retorno - certa de que não vem, como de hábito. 

 

Papo Reto


 ·  Nos EUA, Donald Trump (foto) anunciou o projeto “Paz pela forca”. Se eleito, o ex-presidente imagina aniquilar todos os países que ameaçam a paz mundial.


· Ao que tudo indica, Trump vai acabar sendo o maior responsável pela Terceira Guerra Mundial, se assim agir.

 

· Para não ficar por baixo do Pantanal e do Cerrado, a Amazônia forjou seu novo recorde de queimadas no primeiro semestre de

2024.

 

· O Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), detectou 14.250 focos de calor no bioma só até o último domingo, maior número em duas décadas para o primeiro semestre, e, acredite, um aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano passado.

 

· Ante o silêncio sepulcral dos gigantes da mídia nacional, opositores do governo Lula deitam e rolam nas redes sociais, chamando a sinistra situação de "queimadas do amor".

 

· O agronegócio tem sido vital para manter os saldos comerciais positivos do País nas últimas três décadas, diz o Ipea, em um estudo que englobou período de 34 anos, de 1989 a 2022.

 

· O governo federal aumentou em 427% o volume de recursos destinados ao pagamento de emendas parlamentares de janeiro a 5 de julho.

 

· Neste ano de 2024, quando ocorrem as eleições municipais, o volume de pagamento de emendas parlamentares já alcança R$ 23,08 bilhões.

 

·  No Orçamento de 2024, há a previsão de R$ 49,17 bilhões para pagamentos de emendas parlamentares, enquanto no de 2023 esse valor era de R$ 35,84 bilhões.

 

· Ou seja, somente até o dia 5 de julho, quase 47% do valor total do ano foi desembolsado, contra 12% do mesmo período em 2023, que foi R$ 4,38 bilhões.

 

· Líderes da Câmara chegaram a acordo para criar um gatilho que impeça que a alíquota geral do novo sistema tributário ultrapasse 26,5%. 

 

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