ensaio dos cerca de 40 cantores do Coro Lírico do Theatro da Paz, na noite de terça-feira, 9, nem foi realizado por conta de uma notícia bombástica: o Festival de Ópera do Theatro da Paz, que é encenado há mais de 20 anos ininterruptos, em Belém, teve o orçamento para a temporada 2024 cortado em mais de 50%, inviabilizando as atrações já programadas, como a ópera “La Bohème”, de Giacomo Puccini, que estava em produção desde o mês de maio passado.

Cultura ‘meia sola’
Por uma daquelas “estranhas
coincidências”, a notícia do cancelamento do Festival de Ópera chega no mesmo
dia, quarta-feira, 10, em que a Secretaria de Cultura do Pará (Secult-PA),
produtora do evento, promoveu uma coletiva de imprensa para informar as
atrações da 27ª edição da Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que
será realizada de 17 a 25 de agosto, no Hangar Centro de Convenções da
Amazônia.
O evento de literatura, além
dos encontros com escritores, terá também shows - shows populares, diga-se de
passagem -, reunindo Amazônia Jazz Band e convidados; Frutos do Pará e
convidados; AQNO; Dona Onete; Carabao - aparelhagem vinda diretamente do
Marajó; Zaynara; Trilogia e um tributo a Tonny Brasil.
Espanto geral
A notícia foi dada pela
cantora lírica Dione Colares, que dirigiu o Theatro da Paz na época do governo
Ana Júlia Carepa, mas está, este ano, como consultora artística. Os cantores,
estarrecidos, ouviram de Dione que houve uma reunião do atual titular da
Secult, Bruno Chagas, que substituiu Úrsula Vidal, com os membros da Academia
Paraense de Música, que produz o evento; e o diretor do teatro, Edyr Augusto
Proença, que, comenta-se, “de ópera quer distância”. Há divergências.
E o resultado da reunião é
que o evento teve orçamento cortado e não terá como arcar com as atrações que
já haviam sido programadas. Dione lamentou o cancelamento, mas disse que não há
dinheiro e recomendou aos artistas: “Sejam criativos!” e perguntou ainda
se não haveria “outra ópera mais curta e mais barata” para apresentar.
Festival 2024
Desde o início do ano já se
sabia que o Festival de Ópera, neste ano, teria no máximo, como atração, apenas
uma ópera. E isso em um evento que já chegou a encenar três grandes óperas por
temporada em anos anteriores. A opção foi pela encenação de “La Bohème”, de
Puccini, ópera clássica e famosa, que atrairia bastante público, e que já fora
encenada na edição anterior do festival.
Em maio deste ano, começaram
os preparativos para a ópera, que deveria ser encenada em agosto. Os cantores
do Coro Lírico foram convocados, como em anos anteriores, e passaram a ensaiar
sob a regência do maestro Vanildo Monteiro. A Orquestra Sinfônica do Theatro da
Paz juntou as partituras e começou também os ensaios.
Tudo parecia normal. No final
de junho, costureiras e figurinistas do festival chegaram a tirar medidas dos
cantores para começar a produção dos figurinos que seriam usados.
Também foi anunciado que cada
cantor receberia R$ 2 mil pelo trabalho. Uma fonte da Coluna Olavo
Dutra revelou que nem sabe mais se os cantores irão receber. “É muito
frustrante. Receberíamos R$ 2 mil, mas ontem (9), nos informaram que seriam
apenas R$ 1 mil, mas estamos achando que vai acabar em R$ 500, isso se não
cortarem tudo”, lamentou.
Tirando a bronca
Para não ficar “feio” para o
governo Helder Barbalho, que se arvora em falar que é um grande propagador de
cultura paraense, foi informado que a temporada de 2024 terá apenas uma única
apresentação, mas com a produção de “La Bohème” sendo retalhada, reduzida, e
que vai ser apresentada somente com o Coro Lírico, solistas e a Orquestra do
TP, sem cenários e figurinos, sem encenação dramática e muito menos iluminação
cênica. Uma espécie de cantata ou recital, como se diz no jargão operístico.
“Vamos ficar parados no
tablado, sozinhos, cantando a parte musical e as árias. Toda uma cadeia de
trabalho, de cenógrafos, figurinistas e maquiadores foi cortada”, disse a
fonte. “Ensaiamos mais de um mês e achávamos que iríamos cantar uma ópera. Foi
traumatizante essa notícia”, reforçou.
Alguns dos cantores solistas
que foram sondados já declinaram do convite e não se sabe como será, na
verdade, a apresentação. A conversa passou ainda pelo contato que a direção do
festival teria feito com o Instituto Carlos Gomes, que já tem o teatro cantado “O
Príncipe do Egito” pronto e que seria levado ao palco do Theatro da Paz.
Festival tradicional
O Festival de Ópera do
Theatro da Paz foi criado pelo ex-secretário de Cultura do Pará Paulo Chaves,
na década de 1990. Desde então, o festival primou pela qualidade artística e
técnica, trazendo grandes nomes do mundo operístico nacional e internacional
para cantar nas récitas, e também revelou nomes paraenses como Adriane Queiroz
e Atalla Ayan, que atualmente brilham em palcos do mundo inteiro.
O festival também primava
pela ousadia, encenando ópera difíceis e pouco vistas, como “Salomé”, obras de
compositores paraenses como Gama Malcher, a até colocou o diretor de cinema, o
renomado Fernando Meirelles, para dirigir sua primeira ópera em Belém, em 2015.
O evento tem renome nacional,
também pela regência do maestro Miguel Campos Neto, frente à OSTP, que já
“exportou” excelentes músicos paraenses para orquestras do Brasil e do mundo.
Tristeza total
E tudo isso foi jogado para
“debaixo do carpete vermelho” do Theatro da Paz, reverberando tristeza nas
cadeiras de palhinha da plateia e nos tacos dos corredores. “O ideal, mesmo,
seria trocar a espalhafatosa iluminação externa do teatro, em verde e vermelho,
por uma luz negra, em sinal de luto”, comentou uma das cantoras.
“Esperando Godot”
A Coluna Olavo Dutra solicitou
um posicionamento sobre o cancelamento do festival às assessorias de
comunicação do governo do Estado e da Secult, e aguarda retorno - certa de que
não vem, como de hábito.
Papo Reto
· Nos EUA, Donald Trump (foto) anunciou o projeto “Paz pela forca”. Se eleito, o ex-presidente imagina aniquilar todos os países que ameaçam a paz mundial.
· Ao que tudo indica, Trump vai
acabar sendo o maior responsável pela Terceira Guerra Mundial, se assim agir.
· Para não ficar por baixo do
Pantanal e do Cerrado, a Amazônia forjou seu novo recorde de queimadas no
primeiro semestre de
2024.
· O Programa Queimadas, do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), detectou 14.250 focos de
calor no bioma só até o último domingo, maior
número em duas décadas para o primeiro semestre, e, acredite, um aumento de 60%
em relação ao mesmo período do ano passado.
· Ante o silêncio sepulcral dos
gigantes da mídia nacional, opositores do governo Lula deitam e rolam nas redes
sociais, chamando a sinistra situação de "queimadas do amor".
· O agronegócio tem
sido vital para manter os saldos comerciais positivos do País nas últimas três
décadas, diz o Ipea, em um estudo que englobou período de 34 anos, de 1989
a 2022.
· O governo federal aumentou em
427% o volume de recursos destinados ao pagamento de emendas parlamentares de
janeiro a 5 de julho.
· Neste ano de 2024, quando
ocorrem as eleições municipais, o volume de pagamento de emendas parlamentares
já alcança R$ 23,08 bilhões.
· No
Orçamento de 2024, há a previsão de R$ 49,17 bilhões para pagamentos de emendas
parlamentares, enquanto no de 2023 esse valor era de R$ 35,84 bilhões.
· Ou seja, somente até o dia 5 de
julho, quase 47% do valor total do ano foi desembolsado, contra 12% do mesmo
período em 2023, que foi R$ 4,38 bilhões.
· Líderes da Câmara chegaram a acordo para criar um gatilho que impeça que
a alíquota geral do novo sistema tributário ultrapasse 26,5%.
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