Governo do Pará corta e negocia, mas hospitais ligados a OS continuam sem poder pagar salários

Gestores são surpreendidos com anúncio de recursos para execução de obras do Hospital de Itupiranga, sudeste do Estado.

06/02/2025, 12:00

Governo do Estado partilha controle do Hospital Ofir Loyola, mas surpreende ao anunciar investimento em hospital, tendo pendências junto às OS/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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om salários nos hospitais regionais atrasados pelas OS que administram a maioria e os demais hospitais públicos - Ofir Loyola, Hospital das Clínicas Gaspar Viana e Santa Casa de Misericórdia - de pires na mão, as áreas administrativas dessas unidades foram surpreendidas com o anúncio da vice-governadora Hana Ghassan sobre um aditivo de recursos para obras do Hospital de Itupiranga, na região sudeste do Pará.

A surpresa de muitos e a pergunta “de onde vem esse dinheiro” têm resposta: vem do fato de que a própria vice-governadora, agora sentada na cadeira da Secretaria de Planejamento, cortou recursos dos orçamentos ano dessas unidades, das demais e até do Hospital Abelardo Santos, gerido por OS.

O corte, movido pelo delicado momento de déficit nas contas do Estado, na realidade deslocou parte dos orçamentos dos próprios hospitais para áreas mais nervosas, espécie de “tapa-buracos” para tentar honrar compromissos prioritários.

Novo imbróglio político

Para completar, a celeuma anunciada na Coluna Olavo Dutra sobre a disputa pelo comando de um dos hospitais públicos - o Ofir Loiola -, envolvendo os deputados Erick Monteiro. do PSDB, e Thiago Araújo, do Republicanos, terminou em um bom acordo político, com a indicação do médico Heraldo Francisco da Costa Pedreira como diretor-geral, na cota de Thiago Araújo, e do advogado Yan Serrão, diretor Administrativo e Financeiro, da cota de Erick Monteiro.

A questão principal nessa negociação é que, segundo fonte da coluna, a ordem do governador Helder Barbalho foi a entrega do Ofir Loiola “de porteira fechada” para os dois deputados estaduais. “Na verdade, o diretor-geral é mero figurante no contexto da gestão. Quem dá as cartas de fato é o diretor Administrativo e Financeiro, neste caso, Yan Serrão, que é pessoa de estreita relação e confiança dos dois parlamentares. Então, tecnicamente, não devem ocorrer desentendimentos, ou ao menos é que se espera”, diz a fonte sobre as nomeações, sendo que Yan Serrão já estava atuando, embora sem portaria de nomeação, que só saiu na última terça-feira no Diário Oficial do Estado.

“Porteira é fatídica”

A ordem para entregar o hospital aos dois deputados, porém, teve total resistência da secretária de Saúde do Estado, Ivete Vaz, que no dia anterior não permitiu que Yan Serrão subisse ao palco do auditório para compor a mesa durante a nomeação do novo diretor. “Ele ainda não foi legalmente nomeado”, teria dito a secretária, taxativa.

Porém, os santos bastidores também dão conta de que o ranço de Ivete Vaz em relação ao nome de Yan Serrão vem de outro momento, quando ele foi também o diretor Administrativo e Financeiro do Hospital das Clínicas Gaspar Viana, na gestão da própria Ivete que, agora secretária, posicionou-se totalmente contra a entrega da direção do hospital aos parlamentares.

Hospital está à míngua

O que se comenta no interior do hospital é que, com ou sem política, será difícil para qualquer gestor administrar o Ofir Loyola com os parcos recursos, mas, no caso político, fica pior. Os fornecedores também são resistentes ao fato de que os dois deputados possam dar abertura ao médico e ex- diretor geral e ex-deputado estadual Jaques Neves.

À época, Jaques Neves foi exonerado com a notícia espalhada no interior do hospital de denúncias sobre uma folha salarial avulsa com salários altíssimos e a falta de medicamentos e medicações, sobretudo os quimioterápicos. Porém, consultada, uma fonte ligada ao Dr. Jaques Neves garante que ele bateu de frente contra um esquema que vinha da gestão anterior na Secretaria de Planejamento, que mantinha um “círculo de licitações montadas para as empresas sempre”.

Atrasos de pagamento

Se a situação da gestão direta pelo Estado é temerosa e ligada à política, nos hospitais geridos por organizações sociais a situação é igualmente grave e os médicos enfrentam, mais uma vez, atrasos no pagamento de salários.O problema tem sido recorrente em diversas ocasiões, e os profissionais da saúde denunciam a falta de previsibilidade nos repasses e o impacto direto na qualidade do atendimento prestado à população.

Eles recorreram ao Sindicato dos Médicos do Pará, o Sindmepa, que convocou uma assembleia geral extraordinária para esta sexta-feira, às 20h, para discutir a situação e definir possíveis medidas judiciais a serem adotadas.

Sem comprovação

O Sindicato dos Médicos também fez contato com a Secretaria de Saúde para cobrar esclarecimentos sobre os novos atrasos. Em resposta, a Secretaria afirmou apenas que “o pagamento referente ao mês de dezembro de 2024 e janeiro de 2025 foi repassado para a Organização Social que administra o Hospital Abelardo Santos dentro do prazo legal estabelecido.”

No entanto, o Sindicato garante que os médicos continuam sem receber, e que também não recebeu da Secretaria qualquer demonstrativo de repasse, nem comprovação de que a Sespa fiscalizou o cumprimento das obrigações da OS perante terceirizados, fornecedores e empregados, conforme determina a legislação vigente.

Papo Reto

·Veja o que dizem: não há mais apenas um, mas dois elevadores no Palácio do Governo para uso do governador Helder Barbalho (foto) e da vice-governadora Hana Ghassan. O primeiro instalado era de uso comum.

· E esta: a nova vaga do quinto constitucional pela OAB no Tribunal de Justiça do Pará terá candidatos de peso político muito grande, alguns ligados à família do governador Helder Barbalho.

·Como o ungido será apenas um, o desgaste para o governador será inevitável.  

·E mais esta: o governo do Pará inaugurou a nova Unidade Integrada Propaz de Benevides, cidade da Grande Belém, no Distrito de Murinim

·A unidade prevê atender comunidades de Benfica, do bairro Santa Maria e adjacências, mas tem um detalhe: essa delegacia foi inaugurada na gestão Jatene.  

·O Ibama desferiu multa de R$ 683 mil em empresa de Icoaraci flagrada vendendo 31 toneladas de peixes e camarão rosa, que estão no período de defeso.

·O Estado do Amapá, que abraçou o ex-presidente José Sarney e o senador Randolfe Rodrigues, tem no médico Antônio Furlan o prefeito de capital mais bem avaliado do País.

·Furlan é formado pela UFPA, mas nasceu em San José da Costa Rica, onde seu pai, agrônomo e pesquisador da Embrapa, estudava.

·Voltou com dez meses de idade para Belém, onde viveu até se formar médico e foi trabalhar em Macapá, onde entrou na política. Tem dupla nacionalidade. 

·A população não tem defesa contra o pagamento da infame "taxa de proteção "cobrada por organizações criminosas, inclusive em Belém, onde abundam relatos de fechamento de empresas devido ao achaque.


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