eportagem publicada na edição desta segunda-feira, 1º de abril, no jornal “O Globo”, aponta que os ministérios do Turismo, Integração e Cidades têm turbinado os cofres de prefeituras aliadas, às vésperas da eleição que irá escolher vereadores e prefeitos, em todo o Brasil. Das três pastas analisadas pela reportagem, duas são dirigidas por paraenses: Celso Sabino, do União Brasil, comanda o Turismo; Jader Filho, do MDB, Cidades.
A intenção é ampliar espaços nesses redutos a partir do orçamento federal. Só
para se ter ideia, em janeiro deste ano, os ministérios do Turismo e da
Integração Regional, este comandado pelo ex-governador do Amapá Waldez Góes,
que assumiu a pasta também na cota do União Brasil, liberaram para prefeituras
parceiras em seus Estados de origem mais recursos do que tudo o que foi
liberado em 2023 inteiro.
No Ministério das Cidades, por sua vez, a quantia equivale a quase metade do
total destinado no primeiro ano do governo Lula. Procuradas por “O Globo”, as
pastas afirmam seguir critérios técnicos na distribuição da verba.
Grupos políticos
Nos três casos, os municípios mais contemplados são administrados pelo mesmo
grupo político dos ministros. O dinheiro do governo federal servirá para obras
como pavimentação de ruas, construção de praças e até a instalação de pórticos
nas entradas das cidades.
Tucumã e Medicilândia, cidades do interior do Pará que, juntas, não chegam a
100 mil habitantes, vão receber essas estruturas para desejar
"boas-vindas" aos visitantes. Sem tradição turística, os municípios
lideram o ranking das que mais foram contempladas com recursos
do Ministério do Turismo neste ano. Ambas têm à frente prefeitos do União
Brasil, o mesmo partido do ministro Celso Sabino, que comanda a pasta.
Critérios técnicos
Em nota, a pasta diz que “tem firmado convênios com vários Estados para
incremento da infraestrutura turística”. Em 2023, o ministério não havia
liberado recursos ao Pará. Agora, dos R$ 23 milhões em convênios com cidades
paraenses publicados neste ano, 62% foram para prefeituras do União Brasil. A
sigla elegeu prefeitos em só sete dos 144 municípios do Estado na última
eleição - quando ainda era DEM -, menos de 5% do total.
"Três
convênios já liberados: uma grande reforma no terminal rodoviário, no mercado
municipal e a construção de dois pórticos das cidades. Temos que ser
gratos ao nosso ministro Celso Sabino”, celebrou o prefeito de Tucumã, Dr.
Celso Lopes (União), que vai concorrer à reeleição.
Já em Medicilândia, o próprio Sabino esteve na cidade em fevereiro para
anunciar o repasse de R$ 4 milhões para erguer uma nova rodoviária na cidade.
"Medicilândia hoje tem dois deputados e conseguimos agora, também, um
espaço no Ministério do Turismo”, disse o ministro, em discurso ao lado do prefeito
Júlio César do Egito (União Brasil). Procurado pela reportagem, o prefeito não
retornou.
Meu pirão primeiro
Também do Pará, o ministro das Cidades, Jader Filho, foi outro a despejar verba
nos municípios de aliados. Em pouco mais de dois meses, a pasta publicou
convênios que preveem o envio de R$ 232,6 milhões a prefeituras do Estado,
quase metade dos R$ 470 milhões autorizados ao longo de 2023. A maior fatia
desses recursos (77,7%) ficará com prefeitos emedebistas, que comandam 60% dos
municípios.
O ministério nega influência política e alega seguir uma portaria de 2023 para
definir quais cidades terão prioridade. “Os critérios consideram os indicadores
socioeconômicos e o tamanho da população beneficiada”, diz a pasta, ressaltando
a maioria de prefeituras do MDB no Estado.
Líder partidário
Jader Filho preside o diretório do MDB no Pará, Estado governado por Helder
Barbalho, seu irmão. Os dois são filhos do senador Jader Barbalho. Ananindeua,
que teve Helder como prefeito até 2013, foi a mais contemplada com convênios
neste ano. O município de quase 500 mil habitantes receberá R$ 22 milhões para
obras viárias e de saneamento. Já a capital, Belém, ainda não teve convênios
aprovados neste ano.
Turbinando o inimigo
Ananindeua tem como prefeito o ex-presidente da Assembleia Legislativa paraense
Dr. Daniel Santos, também do MDB, pré-candidato à reeleição. Ele afirma que os
recursos são fruto de emendas que parlamentares indicam para a cidade,
incluindo a mulher dele, a deputada Alessandra Haber (MDB). É o ministério,
contudo, que decide a ordem de municípios que serão contemplados primeiro e
também é responsável pelos trâmites legais da assinatura dos convênios.
O casal esteve com Jader Filho na sede da pasta no dia 22 de fevereiro. A
reunião foi registrada nas redes sociais. "Os convênios já tinham saído -
quando houve a reunião. Nossa pauta era política. O ministro é presidente do
MDB no Estado e temos eleições”, disse o prefeito.
Em Alenquer
Mesmo nos casos dos convênios firmados no ano passado, a previsão é de que boa
parte do dinheiro seja desembolsada neste ano, segundo documentos analisados
pelo jornal “O Globo”. Em Alenquer, por exemplo, o prefeito emedebista Tom
Farias terá um superlativo impulso financeiro para quebrar um tabu local -
desde 2000 um comandante do município não consegue se reeleger. A cidade deve
receber R$ 13,1 milhões em abril para implantar um sistema de abastecimento de
água potável.