Banpará destitui diretor e encara denúncias de inadimplência e suposto favorecimento político

Movimentação evidencia o aumento da pressão do governo estadual sobre a cúpula do banco, sinalizando que mais cabeças podem rolar.

07/06/2025, 08:00
Banpará destitui diretor e encara denúncias de inadimplência e suposto favorecimento político
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ambiente esquentou de vez nos bastidores do Banco do Estado do Pará, o Banpará. Após reiteradas reclamações de clientes e uma devassa do Conselho Fiscal, o governo do Estado decidiu agir e encaminhou um ofício propondo a destituição imediata do diretor de Tecnologia, Adriano de Aguiar Ribeiro.

Decisão do Conselho Fiscal tira de cena Adriano Aguiar Ribeiro, da Diretoria de Tecnologia, que será ocupada interinamente pela presidente Ruth Mello/Fotos: Divulgação.
A resposta foi rápida: no mesmo dia, o Conselho de Administração se reuniu em caráter extraordinário e designou a diretora-presidente, Ruth Mello, para responder interinamente pela Diretoria de Tecnologia, até nova deliberação. O “Comunicado ao Mercado”, onde consta a decisão, é assinado pelo diretor de Controle, Risco e Relações com Investidores, Igor Barbosa Gonçalves.


Para contextualizar: a nomeação de diretores em instituições financeiras não se resume a uma decisão interna. O processo exige análise e habilitação prévia do Banco Central, que verifica a qualificação técnica, a idoneidade e eventuais impedimentos do indicado antes de autorizar o exercício do cargo. Até a conclusão dessa etapa, a presidente Ruth Mello acumulará as duas funções.

Vale lembrar que a Diretoria de Tecnologia encampa os maiores contratos do Banpará, alguns orçados em dezenas de milhões de reais. A movimentação evidencia o aumento da pressão do governo estadual sobre a cúpula do banco, sinalizando que mais cabeças poderão rolar.

Desempenho desaba

O aumento expressivo dos atrasos e da inadimplência nas operações de crédito, principalmente nas linhas voltadas a empresas, é outra preocupação que tem tirado o sono da diretoria do Banpará. Esse movimento tem pesado sobre o desempenho do banco e levantado dúvidas sobre a forma como as liberações de recursos vêm acontecendo.

Um caso que chama atenção nos bastidores é o de uma empresa sediada em Tucuruí, que teria deixado de pagar um financiamento obtido pouco antes das eleições municipais. Há informações de que a aprovação do crédito ocorreu em num momento ‘politicamente sensível’, quando o então prefeito Alexandre Siqueira, hoje cassado, ainda tinha bastante influência na cidade.

Servidores e pessoas próximas ao banco apontam que a operação pode ter sido aprovada sem as precauções normais exigidas em processos de liberação de recursos, mas oficialmente não há confirmação de irregularidades.

A situação fica ainda mais delicada porque a atual diretora Comercial do Banpará tem laços próximos com a família do ex-prefeito cassado e com a mulher dele, deputada federal Andréia Siqueira, do MDB, o que tem gerado comentários sobre possíveis relações de influência na gestão do banco.

Na boca do caixa

Recentes reportagens publicadas pelos Portais A Voz do Xingu e Ver-o-Fato citam a referida diretora nas investigações que apuram esquemas de agiotagem e mortes de prefeitos no Pará, incluindo a do seu ex-marido e ex-prefeito de Tucuruí Jones William. Denominada “Redoma do Lago”, a operação desencadeada pela Polícia Civil em conjunto com a Procuradoria Geral do Ministério Público do Pará constatou que, só em Tucuruí, a quadrilha desviou cerca R$ 180 milhões dos cofres municipais - muito desse dinheiro, descontado diretamente na boca do caixa do Banpará.

Mesmo com as investigações em curso, as menções aos nomes dos envolvidos, inclusive de Poliana Rocha, gerente da agência do Banpará de Goianésia do Pará, levantam preocupações sobre a condução dos negócios e as relações políticas que cercam algumas decisões dentro do banco.

Falta de transparência

Diante desse cenário, muitos cobram mais rigor e transparência nas análises de crédito e maior cuidado para que a política e interesses externos não interfiram na gestão do banco, que é público e tem papel importante no desenvolvimento regional. 

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