ascida em maio de 1964, em meio à ditadura militar, a Indústria de Produtos Alimentícios S.A (Ipasa), a Hiléia dos dias de hoje, completará 60 anos daqui a dois meses, mas, infelizmente, não chegará à “melhor idade” com boa saúde financeira. A empresa criada na cidade de Castanhal, a maior da região Norte no segmento, acumula dívidas que ultrapassam R$ 100 milhões, com o mercado e os fornecedores, e tem sofrido sucessivos ataques de dilapidação de patrimônio.

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“Dossiê Hiléia”: o estranho
mundo das decisões judiciais
envolvendo a empresa
A coluna teve acesso a uma vasta
documentação que aponta crimes supostamente praticados por Hélio de Moura Melo
Filho, diretor Comercial, e Sérgio de Oliveira Gabriel, diretor Industrial, com
a conivência dos acionistas Rosangela Melo, Sergio de Oliveira Gabriel Filho e
Sérgio de Carvalho Verdelho.
Outra parte dos sócios e acionistas,
que não concordam com a situação interna da empresa, convocaram uma Assembleia
Geral Extraordinária que tem na pauta, entre outras coisas, destituir os dois
diretores acusados de corrupção e determinar uma auditoria externa nas contas
da empresa.
Temendo o desfecho, os dois fizeram,
durante a semana, várias tentativas de manobras judiciais para impedir a
realização da assembleia, incluindo petições dirigidas à 7ª Vara Cível e
Empresarial de Belém solicitando o efeito suspensivo dos direitos de alguns
acionistas de votarem, além da tentativa de impedir a própria assembleia.
Lista de crimes
Por outro lado, se de fato ocorrer, a
assembleia vai expor mais uma vez a lista dos supostos crimes atribuídos a
Hélio de Moura Melo Filho. Começa com apropriação indébita e lavagem de
dinheiro e segue até práticas de estelionato e outras fraudes realizadas após o
falecimento de seu pai, Hélio de Moura Melo, do qual Hélio Filho tornou-se
inventariante do espólio.
Nesse ponto reside a fraude mais
explícita praticada por Hélio Filho, ao lado de sua irmã, Rosangela Oliveira de
Melo. Os dois participam da empresa e já votaram em assembleias como
representantes do espólio de Hélio de Moura Melo Filho, que já foi extinto no
ano de 2007, portanto, há 17 anos.
Na ocasião, o inventário foi
encerrado por desistência, com sentença transitada em julgado, com a partilha
extrajudicial concluída em 14/08/2007, conforme registro que, embora não
apareça nos cartórios de Castanhal, foi realizado no município de Salinópolis,
e confirma que o espólio não poderia mais ser representado por Hélio Filho e
Rosângela, como ocorreu em assembleias e até em ações judiciais da Hiléia, em
manobras deliberadas para enganar os demais sócios e até credores de outras
empresas das quais Hélio Filho tornou-se sócio. Ele também responde na Justiça
por calúnia e difamação de outros sócios, além de outros crimes.
Ataque frontal
Quando se trata de crimes de
apropriação indébita e lavagem de dinheiro, a dupla Hélio Filho e Sérgio
Gabriel disputa o posto de quem ataca de forma mais frontal os cofres da
empresa. Documentos provam que Sérgio apropriou-se indevidamente de ações do
espólio que representava para utilizar em seu benefício, além de doações não
oficiais em nome da empresa, e apropriação mensal de valores que seriam
destinados à sua família e aos demais sócios.
Corrupção ativa
Não contente, ele teria praticado
corrupção ativa ao admitir à pessoas próximas o desembolso de quantias
substanciais na aquisição de decisões judiciais favoráveis às suas causas,
estando disposto a gastar ainda mais dinheiro nesse sentido, com o propósito de
assegurar sua permanência no cargo e neutralizar os sócios opositores.
Foi dessa forma e utilizando uma
falsa narrativa que Hélio Filho e Sérgio Gabriel concentraram acusações
caluniosas contra os sócios Jaime Araújo e Odilardo Júnior, este último
ex-diretor Financeiro, afastado por confrontar os abusos cometidos pela dupla
contra os demais sócios e exigir a reparação pelos dois do que foi retirado
ilegalmente dos cofres da empresa.
Bola de neve
Ao longo de sua gestão na Hiléia,
Hélio Filho abriu outras 17 empresas - todas hoje oficialmente falidas -,
situação que o levou ao endividamento, e a contrair empréstimos junto a
empresas ligadas ao Grupo Líder e até na própria Hiléia, situações nas quais os
pagamentos não foram honrados.
Em 2021, Hélio tentou liderar um
movimento dentro da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) para ser
o sucessor do então presidente José Conrado, mas foi rechaçado e virou
oposição, situação que acabou expondo seu perfil e diversas irregularidades da
sua vida empresarial.
No ano seguinte, em 2022, ele passou
a ser cobrado pelo diretor Financeiro da Hiléia para que efetuasse o pagamento
do empréstimo feito junto à empresa. Sem dinheiro, Hélio recorreu à empresa e a
fundos de investimentos, por meio de uma operação com o Moinho Campo Dourado,
do Estado do Paraná, para negociar junto aos fundos o fomento do fornecimento
de trigo para a Hiléia.
Trigo do biscoito
Nessa operação, Hélio Filho recebeu
notas fiscais frias e as assinou como se a Hiléia tivesse recebido o trigo. De
forma fraudulenta, Hélio informou ao fundo que poderia repassar o dinheiro ao
Moinho Campo Dourado, o que foi feito, mas o trigo nunca foi entregue e o
dinheiro sumiu, confirmando a fraude e a prática do crime de estelionato.
O grande problema surgiu no momento
em que os fundos de investimentos começaram a cobrar a Hiléia, expondo
diretamente para a administração da empresa a fraude de Hélio Filho que,
afinal, não tinha resposta para a pergunta: onde está o trigo?
Conchavo e cobranças
Com o caso do “trigo fantasma”, o
então diretor financeiro Odilardo Júnior fechou o cerco contra Hélio Filho,
para que pagasse os débitos que detinha junto à empresa e resolvesse o problema
que tinha criado junto aos fundos de investimentos.
Sem saída, Hélio voltou a investir
contra a empresa, ao lado de Sérgio Gabriel, também acusado de praticar uma
série de crimes, como induzir a erro a matriarca da sua família, Maria Perpétua
de Oliveira Gabriel, que doou suas ações - equivalentes a mais de 50% do seu
patrimônio -, dando-lhe o direito a voto. Tudo isso feito à revelia dos demais
herdeiros de Maria Perpétua.
De posse das ações, e do voto, Sérgio
assumiu a diretoria Industrial da empresa, representando sua família. Nessa
condição, atuou com Hélio Filho para afastar o diretor Financeiro, Odilardo
Junior, e continuou livre na empresa, onde também, de forma contínua,
apropria-se indevidamente dos valores que seriam destinados à sua própria
família, depois de afastar todos os parentes da Hiléia, deixando abrigado
apenas o próprio filho, Sérgio Gabriel Filho, que hoje atua na empresa como uma
espécie de operador das ações ilícitas do pai.
Haverá assembleia?
Embora a convocação da assembleia
geral extraordinária da Hiléia para a próxima segunda-feira, 18 de março, tenha
sido publicada no Diário Oficial do Estado, nos grandes jornais e seguindo os
trâmites legais, pode não ocorrer, ou ocorrer e ter o mesmo destino da AGE
realizada em 27 de novembro do ano passado, quando os sócios da Hiléia se
reuniram na cidade de Castanhal para decidir o futuro da empresa.
Na ocasião, foram afastados os
administradores e eleitos novos. Igualmente, foi determinado que fosse feita
uma auditoria independente na empresa. Mas, recorrendo praticamente aos mesmos
canais jurídicos que estão sendo acionados agora, os antigos gestores
retornaram à cena, beneficiados por várias liminares que, até hoje, são alvo de
denúncias e estão sob investigação do Conselho Nacional de Justiça CNJ.
Papo Reto
Dizem que o governador Helder
Barbalho tem como certo que o processo que corre na Justiça Eleitoral
envolvendo a denúncia de uso indevido de cota nas últimas eleições praticamente
inviabiliza a candidatura do delegado Eder Mauro (foto) à
Prefeitura de Belém.
A se confirmar, eventual decisão
contra o PL deve comprometer inclusive os mandatos de todos os integrantes do
partido no Pará, o que explicaria as reticências sobre as eleições deste ano em
Belém.
Entreouvido em conversa com dois
integrantes da base governista na Assembleia Legislativa do Pará: “Se a direção
da Igreja quiser mandar o bispo emérito do Marajó, Dom Luiz Azcona, para os
quintos, pode ficar à vontade...” Que coisa feita!
Com o preço do açaí batendo a casa dos
R$ 70 em Belém, com a fenomenal ajuda dos atravessadores e dos espertalhões,
nem rico se atreve a ir às compras.
Diz um empresário do ramo que se
engana quem pensa que a dinheirama embutida nos preços do açaí em períodos de
entressafra transfere ganhos significativamente extras ao produtor, na ponta.
"Eles continuam ganhando
praticamente o mesmo que na safra" - avalia - "diferente daquele que
integra a intrincada rede de intermediação, muito bem aparelhada para tirar
proveito da diminuição da oferta”.
Remo e Paysandu, “os grandes do
futebol paraense”, ficaram pelo meio do caminho, mas o Águia de Marabá aumentou
seu capital despachando o Capital (TO) com uma goleada de 3 x 0 e embolsando
mais de R$ 2 milhões na Copa do Brasil.
O promotor Aldo Saife, da 6ª
Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade
Administrativa de Belém, pediu ao Conselho Superior do Ministério Público do
Estado prorrogação de prazo do inquérito civil que investiga supostas irregularidades
no Iasep.
O caso envolve a prática de pagamento
a prestadores de serviços em detrimento de outros, mediante o recebimento de
30% sobre o faturamento do credenciado.