as manifestações que chamam a atenção da Coluna Olavo Dutra em meio a essa crise política na Venezuela, duas se destacam pelas ‘entrelinhas”. A de que a Executiva Nacional do PT afirma que o processo eleitoral que elegeu Nicolás Maduro foi uma “jornada pacífica, democrática e soberana” e outra, bem paroquial, por assim dizer, do governador Helder Barbalho, no Twitter (veja abaixo).

Das duas, uma: tanto a declaração do PT - praticamente a mesma não manifestada pelo governo brasileiro -, quanto a do governador do Pará colocam panos quentes na situação e entregam a Venezuela à própria sorte. Simples assim: a cautela política que beira a hipocrisia, ou o ‘toma que o filho é teu’.
A ciência política ensina que
eleições servem para “sustentar uma solução provisória às disputas políticas e
promover uma reunificação momentânea em sociedades cindidas por interesses
antagônicos”. Isso é verdade, embora esse efeito tenha diminuído conforme
avança o mecanismo que o jornalismo chama pudicamente de “polarização”.
Eleições contestadas, porém, sempre levam ao resultado oposto do desejado. E é
difícil acreditar que a vitória de Nicolás Maduro no último final de semana
corresponda mesmo ao resultado das urnas. Ou mesmo que corresponda, não parece
crível.
Reeleição duvidosa
Embora o “Poder Eleitoral”
conte como uma corte independente na Venezuela, o fato é que a Comissão
Nacional Eleitoral serve a Maduro e ao seu regime. A falta de transparência e
as incongruências do anúncio do resultado tornam a reeleição bem duvidosa.
O anúncio do resultado na madrugada do dia 29 de julho gerou um turbilhão de
reações tanto dentro quanto fora do país. Em um cenário marcado por uma
polarização extrema, onde os interesses políticos se chocam de forma violenta,
a vitória de Maduro, com 51,2% dos votos, foi contestada por muitos como
resultado de um processo eleitoral viciado e repleto de irregularidades.
Tensão e desconfiança
O Conselho Nacional
Eleitoral, controlado por aliados de Maduro, proclamou a vitória do presidente
em meio a um clima de tensão e desconfiança. O opositor Edmundo González, que
recebeu 44,2% dos votos, segundo a apuração oficial, denunciou a realização de
fraudes "grosseiras" que teriam manipulado os números. María Corina
Machado, uma das principais figuras da oposição e que foi barrada de concorrer,
afirmou ter evidências concretas de que González teria, de fato, vencido com
uma margem significativa, ao receber 6,27 milhões de votos, em comparação aos
2,75 milhões de Maduro, de acordo com apuração paralela.
Manobras de sempre
As alegações de fraude e a
falta de transparência no processo eleitoral levantam sérias questões sobre a
legitimidade do resultado. O CNE, em uma manobra que não é nova na política
venezuelana, atribuiu o atraso na apuração a "ataques terroristas" ao
sistema eleitoral, mas não apresentou provas concretas que respaldassem essa
afirmação. Essa narrativa de vitimismo, muito utilizada por Maduro em discursos
passados, parece agora ser uma estratégia para justificar sua permanência no
poder, em um contexto onde as críticas da oposição e da comunidade
internacional se intensificam.
Pacifismo com mortes
A reação do governo
brasileiro e de outros países da América Latina é um elemento crucial a ser
considerado. Enquanto o Itamaraty se limitou a saudar o caráter pacífico da
jornada eleitoral e aguardar dados desagregados do CNE para uma verificação
mais aprofundada, países como Chile e Colômbia, governados pela esquerda, se
mostraram mais cautelosos. O presidente chileno, Gabriel Boric, foi incisivo ao
afirmar que seu país só reconhecerá resultados "verificáveis",
enquanto a Colômbia exigiu uma auditoria independente do processo.
Posições moderadas
O silêncio do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sobre o tema é notável, especialmente considerando suas
relações históricas com o chavismo e atendem a um movimento crescente de
distanciamento do presidente brasileiro do regime de Maduro.
Enquanto isso, a
vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, expressou uma mensagem
dúbia, segundo a qual "a vontade do povo venezuelano deve ser
respeitada", indicando que a administração Biden está atenta a qualquer
sinal de desestabilização na região, mas expressando uma posição moderada.
Em grande parte da esquerda brasileira, a posição padrão é o apoio acrítico ao
governo da Venezuela. Faz sentido ver a cobiça pelo petróleo como motor
principal da antipatia pelo regime. Donald Trump, um homem cínico e sem meias
palavras, enunciou esse fato francamente.
A retórica antiimperialista de Chávez já despertou simpatia unânime na
esquerda, mas hoje gera inquietação em alguns setores, que veem nessa
retórica apenas um escudo para uma prática bonapartista indefensável.
Poder eternizado
O cruel embargo econômico
gera solidariedade, é verdade, assim como as múltiplas tentativas de
desestabilização do regime por parte dos Estados Unidos geram repúdio e a
demonização da Venezuela pela direita, por vezes de forma absolutamente
caricata, gera revolta. Mas é inegável que a permanência de um mesmo
governante ad eternum produz desconforto e inquieta os
progressistas, árduos defensores da alternância de poder.
As veias da América
O cenário político na
Venezuela é um microcosmo das tensões que permeiam a política latino-americana.
A polarização não é apenas um fenômeno venezuelano, mas um reflexo de uma
realidade mais ampla que afeta vários países da região. Contudo, a realidade da
Venezuela guarda particularidades reluzentes.
O discurso de Maduro, que
acusa opositores e potências estrangeiras de tentarem desestabilizar o país, é
um eco de narrativas utilizadas por líderes autocráticos em diversos contextos,
o que transparece mais ainda seu parentesco com o velho coronelismo
latino-americano do pós-guerra.
Por outro lado, a resistência da oposição, que se organiza em torno de figuras
como Machado e González, mostra que a luta por uma democracia mais robusta e
transparente continua viva na Venezuela. As alegações de fraude e a mobilização
da sociedade civil podem ser sinais de que, apesar das dificuldades, há um real
desejo de mudança na população.
Desafios da democracia
A possibilidade de um novo
ciclo de protestos e confrontos nas ruas é real, especialmente se a oposição
continuar a contestar os resultados e a exigir uma apuração justa. A situação é
delicada e requer uma atenção cuidadosa, tanto da comunidade internacional
quanto dos próprios venezuelanos, que anseiam por um futuro melhor.
A reeleição controversa de Maduro não é apenas um evento isolado, mas parte de
um quadro mais amplo de desafios democráticos enfrentados na América Latina. O
que está em jogo não é apenas o futuro da Venezuela, mas também a saúde da
democracia na região como um todo. As próximas semanas serão cruciais para
determinar se a oposição conseguirá canalizar a insatisfação popular em um
movimento que possa efetivamente contestar o regime de Maduro ou se o
presidente conseguirá consolidar seu poder, aprofundando ainda mais a divisão e
a polarização no país.
Papo Reto
· Viralizou na internet
um post com fotos de Lula e Maduro estampadas com seus
respectivos percentuais de votação: os mesmos 51,2%.
· Observadores avaliam que essa
é uma probabilidade praticamente impossível de acontecer, até mesmo pelas
disparidades e tamanho dos universos eleitorais nos dois países.
· Acredite: dez milhões de
brasileiros já emitiram a nova Carteira de Identidade Nacional, que, a partir
de 2032, será o único documento válido nacionalmente.
· José Tostes Neto (foto),
ex da Receita Federal, não faltou ao depoimento na Polícia Federal sobre o caso
da “Abin paralela”. Ele apenas pediu a remarcação da oitiva.
· A Biomanguinhos agora integra
a rede de preparação para epidemias, turbinando as ações de produção de vacinas
na região da América Latina e do Caribe.
· Tá aí um exemplo que merecia
ser copiado pelo Pará: o governo de São Paulo largou na frente lançando
diretrizes de combate a estiagens prolongadas.
· A medida inclui a criação e
ou atualização de capacitação para membros do Sistema Estadual de Proteção e
Defesa Civil, além de fornecer equipamentos aos municípios para ações rápidas
de contenção de incêndios florestais logo no seu início.
· O sonho de consumo de
qualquer mineradora passou a ser uma lei que venha desonerar os minerais
críticos e estratégicos no processo de transição energética e de
descarbonização da economia.
· São eles: Cobre, Lítio,
Níquel, Cobalto, Elementos de terras raras, Bauxita e alumínio, Cádmio,
Estanho, Gálio, Germânio, Índio, Ferro, Chumbo, Selênio, Silício, Prata,
Telúrio, Zinco.