Helder "versus" Daniel: com guerra fria instalada, "turma do deixa-disso" sugere acordo como saída

"Você tem poder sobre sua mente - não sobre eventos externos. Perceba isso e você encontrará sua força".

Por Olavo Dutra | Colaboradores

21/01/2024, 11:00

Prefeito de Ananindeua optou por solução doméstica para ampliar seu raio político, sugerindo um confronto com o governador que, por sua vez, encontra dificuldades para conter avanços do aliado/Fotos-Imagem: Divulgação-Redes Sociais.


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frase é de Marco Aurélio, imperador romano que governou de 161 a 180 d.C. Ele é autor do clássico "Meditações", escrito como uma espécie de diário pessoal, refletindo sobre suas experiências e a filosofia estóica - escola de que surgiu na Grécia Antiga -, que o inspirava. 

 

Os estóicos acreditam que podemos controlar nossas ações, atitudes e decisões, mas não podemos controlar eventos externos, como o clima, as opiniões dos outros ou o destino. Portanto, devemos focar nossa energia no que podemos controlar e aceitar com serenidade o que não podemos.

 

Em política, como a simples observação pode comprovar, os estóicos são cada vez mais raros. A necessidade que prefeitos paraenses têm de controlar eventos externos, por exemplo, levou grande parte deles, em 2022, a exaurir a máquina para eleger “os seus próprios deputados federais”, levando ilustres desconhecidos a votações superlativas, o que não chama a atenção de ninguém em um lugar onde o peso do dinheiro e do poder público sempre foram fatores decisivos para a obtenção de mandatos.

 

Dentre os que optaram por uma solução doméstica para garantir representação em Brasília, destaque para Daniel Santos, prefeito de Ananindeua, que não apenas elegeu a mulher dele para uma vaga na Câmara Federal, como o fez com requintes de crueldade.

 

Médica dermatologista, Alessandra Haber recebeu mais de 258 mil votos, tornando-se a deputada mais votada daquele pleito. 

As relações entre Daniel Santos e Hélder Barbalho eram fáceis e fluidas até meados de 2022. Vereador, presidente da Câmara de Ananindeua, em 2018 Daniel foi um dos nomes decisivos para a vitória de Helder na região metropolitana.

 

Eleito deputado estadual naquele pleito como o mais votado dentre seus pares, assumiu a presidência da Assembleia Legislativa com apoio incondicional do governador.

 

Começo do fim

 

A doce relação só começou a azedar depois que Daniel Santos assumiu o comando da Prefeitura de Ananindeua, a mesma que Helder havia administrado duas vezes, e começou a se movimentar publicamente como pré-candidato ao governo do Estado em 2026. Sem que houvesse uma ruptura pública entre ambos, estabeleceu-se uma guerra fria, o que levou Helder a se mover no sentido contrário aos desejos e projetos de Daniel - a demissão de aliados de Daniel e do deputado estadual Erick Monteiro, que havia sido eleito vice-prefeito de Ananindeua em 2020.

 

Sigam-me os bons?

 

A guerra fria entre os dois personagens centrais dessa história teve momentos de tensão explícita, como no dia em que, na frente de Daniel Santos, durante a inauguração de uma avenida em Ananindeua, Helder não titubeou: anunciou que Hana Ghassan será sua sucessora por ser “a melhor opção” para o MDB e aqueles que não concordassem teriam todo o direito de deixar a legenda. Daniel e Alessandra Haber são filiados ao MDB.

 

Empreitada inútil

 

As movimentações de bastidores de Helder para criar embaraços à reeleição de Daniel ao cargo que já ocupa tendem ao mais absoluto fracasso. O prefeito de Ananindeua exibe índices de aprovação e de intenção de votos, em seu território, maior do que o governador exibe no Estado, o que torna qualquer oposição a ele uma empreitada inútil.

 

Fora de controle

 

Esse é um daqueles “eventos externos” aos quais o imperador romano Marco Aurélio se refere: não estão sob sua governabilidade. Daniel tende a se reeleger no primeiro turno com votação avassaladora e qualquer candidato que entre nessa disputa com o sinete do governado colherá uma derrota. Se concentrar em praças onde sua base está dividida - como Belém, Santarém e Parauapebas - e a direita tem chances reais, seria menos arriscado. Ou seja, o ideal seria focar a energia no que o governador pode, de fato, controlar. 

 

Em 2022, o Helder Barbalho não teve oposição. Zequinha Marinho, senador eleito com a estrutura e o prestígio do senador Jader Barbalho, retribuiu a gentileza e simplesmente não fez campanha de oposição ao filho de seu tutor. Passou despercebido. Mesmo assim, Zequinha teve mais de 26% dos votos. Imagine se o candidato fosse um prefeito eleito e reeleito, com obras a mostrar e eleitores gratos prontos a depor a seu favor. O efeito multiplicador seria inevitável.

 

Saída honrosa

 

Em que pese o entorno de ambas as lideranças se empenhar diariamente em colocar lenha na fogueira, a “turma do deixa-disso” já opina que o melhor talvez fosse um acordo entre o governador melhor avaliado em duas décadas e o prefeito melhor avaliado dentre todos do Pará nesse momento. Afinal, se a guerra fria serviu para algo, foi para evitar que o confronto final acontecesse de fato, remetendo as disputas para o campo diplomático e da inteligência, ou seja, para depois.

 

Ecos na eternidade

 

Como ensina o imperador filósofo, “o que fazemos agora ecoa na eternidade”. Para o bem ou para o mal. Entender que o poder sobre o próprio espírito não se propaga automaticamente para eventos externos é uma prova de sabedoria. Do mesmo modo, juntar todos os adversários no mesmo balaio e enfrentá-los de uma só vez nunca foi uma boa ideia.

 

A história está aí, cheia de exemplos para contar.

 

Papo Reto

 

Veja como são as coisas: a secretária de Educação de Belém, professora Araceli Lemos (foto), autorizou o pagamento de R$ 102,4 mil de aluguel do Hangar Centro de Convenções para promover, durante dois dias, a Jornada Pedagógica 2024, evento no qual teve seu discurso bruscamente interrompido sob vaia dos professores.

 

O contrato, assinado com a OS Pará 2000, ocorreu com dispensa de licitação e foi publicado provavelmente com erro, pois em vez de o prazo de vigência apontar dois dias de evento - 18 e 19 deste mês - anota dois meses. Isso é que é pagar caro para ser hostilizada...

 

Ninguém tem mais dúvida de que o previsível “padrão social polêmico” das propostas de redação do Enem possibilitou aos cursos especializados e professores adestrarem seus alunos, munindo-os com uma série de argumentos prontos.

 

O Brasil é tão emergente - emergente? - que até o sonho de um carro 100% nacional foi enterrado há três décadas, com o desmantelamento da fábrica Gurgel.

 

Em 1993, também a Engesa, que fabricava tanques de guerra desde 1958, fechou as portas.

 

Para fortalecer projetos emblemáticos e tão estratégicos como esses, o Brasil, que fez evaporar bilhões de dólares com a corrupção sistêmica na Petrobras e outras estatais, nunca encontrou dinheiro...

 

O certo é que as montadoras estrangeiras de carros a combustão ou elétricos, sobretudo as asiáticas, balançaram o mercado automotivo brasileiro, numa disputa ferrenha e mortal.

 

O presidente Lula sancionou a lei que cria uma bolsa a moradores de rua que frequentem cursos de capacitação, profissionalização e qualificação.

 

Além dos cursos, a nova política também vai dar incentivos à contratação de moradores de rua por meio de parcerias com empresas, que serão sinalizadas com selos por aderirem à iniciativa.

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