“Dossiê Hiléia”: entre massas, bolachas e biscoitos, gestão familiar declina para brigas e rasteiras

Parte final - Na década de 1980, com a aposentadoria e o afastamento dos fundadores, os herdeiros assumem os negócios da empresa, mas...

16/03/2024, 09:20
“Dossiê Hiléia”: entre massas, bolachas e biscoitos,  gestão familiar declina para brigas e rasteiras
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história de sucesso da Hiléia contada por ela mesma é muito bonita, desde o nascimento, em maio de 1964, quando um grupo de amigos da cidade de Castanhal, com tradição no comércio, se uniu para criar uma fábrica de biscoitos e macarrão. Eles fizeram o projeto, começaram a comprar o maquinário, e no ano seguinte, em 26 de setembro de 1965, inauguraram a fábrica com o primeiro nome: Indústria de Produtos Alimentícios S.A, a Ipasa.


Sob nova direção desde 1980, os herdeiros do negócio passaram a se desentender, inaugurando uma série de batalhas judiciais/Fotos: Divulgação.

A narrativa conta que o contexto em que a Ipasa foi criada era desafiador, devido à situação política conturbada do País, em plena ditadura militar. Além disso, havia falta de estrutura logística e escassez de energia elétrica, o que aumentava a dificuldade enfrentada pelos novos empreendedores. Mas eles venceram, estabelecendo-se como uma empresa familiar, que, na década de 1970, acompanhou o chamado “milagre brasileiro”, período em que o País experimentou um notável crescimento econômico, levando a empresa à primeira expansão física de sua planta industrial, com o apoio da Sudam.

 

O nome do sucesso

 

Foi nesse boom de crescimento que a empresa se modernizou e adotou o nome de Hiléia, proposto a partir dos naturalistas Alexander Von Humboldt (1769-1859) e Aimé Bonpland (1773-1858), remetendo à floresta equatorial que se estende das encostas orientais dos Andes até as Guianas, passando pelo vale do Amazonas. A palavra tem origem no grego hulaîa, feminino de hulaîos, e significa “bosque selvagem”.

 

Na década de 1980, com a aposentadoria e afastamentos dos fundadores, a segunda geração - os herdeiros - assume a direção dos negócios, e aí, devagar, as coisas começam a tomar novos rumos.

 

Grupos no controle

 

Hoje, a Hiléia é uma sociedade anônima, na qual o controle acionário está nas mãos de três famílias: Araújo, Melo e Gabriel. Filho de um dos sócios fundadores, Hélio Melo herdou o controle da empresa com os irmãos.

 

Já a família Gabriel entrou na Hiléia em 1994, quando o engenheiro mecânico Sílvio Gabriel, já envolvido com a empresa como técnico desde seu estágio na faculdade, assumiu a diretoria Industrial. Em setembro de 2012, com o falecimento de Sílvio Gabriel, a direção industrial foi transferida para seu irmão, Sérgio Gabriel.

 

Na família Araújo, Odilardo Júnior havia iniciado como estagiário na Hiléia em 1987, e ao ser efetivado assumiu uma posição na área administrativo-financeira, crescendo dentro da empresa. Hoje, a família Araújo é representada pela holding Araújo Participações.

 

A família Melo segue com Hélio Melo Filho como acionista principal, junto com os irmãos. O grupo supostamente seria representado também pelo espólio do pai, Hélio Moura Melo, que faleceu em 2007, quando seu filho Hélio é nomeado inventariante e passa a votar na empresa em nome do espólio, o que ocorre até hoje, sendo que uma investigação interna aponta que esse espólio já foi extinto em 2007, e é usado até hoje para ocultar bens de credores desse braço familiar.

 

Já a família Gabriel, hoje, tem vários acionistas herdeiros de Maria Perpétua Gabriel e Silvio de Oliveira Gabriel. Após a morte do pai, o filho Sérgio Gabriel enganou a mãe, Maria Perpétua, e o irmão Silvio Gabriel Filho, e seguiu, de forma fraudulenta, com o controle acionário desse braço familiar.

 

Temperamento difícil

 

Antes de enganar a própria mãe, Sérgio Gabriel não era um acionista participativo na Hiléia. Ele tinha poucas ações na empresa e não participava da gestão. É tido por quem está próximo como uma pessoa de “temperamento difícil” e dono de dois cães de muita estimação: “Adolf” e “Rommel”, nomes dados em suposta homenagem aos infames general Johannes Erwin Eugen Rommel e ao Fuhrer Adolf Hitler.

 

Trama e golpe

 

Dentro da Hiléia, seu irmão Silvio Ubirajara de Oliveira Gabriel, este sim, um dos maiores acionistas individuais da empresa, sempre representou bem a família, segundo informações dos colaboradores saudosos: Silvio Gabriel faleceu em 2012, e hoje muitos colaboradores são perseguidos por Sérgio Gabriel, que se tornou o principal acionista após enganar a mãe e o sucessor natural da Silvio, que seria Silvio Ubirajara Gabriel Filho.

 

O golpe se deu no mesmo ano da morte do irmão. Sérgio Gabriel induziu a erro a matriarca Maria Perpétua de Oliveira Gabriel, que foi forçada pelo filho a doar suas ações - e o direito a voto - que representavam mais de 50% do seu patrimônio. Tudo feito à revelia dos demais herdeiros. Foi de posse dessas ações que ele assumiu a diretoria Industrial da empresa, onde manteve apenas os parentes que se submetiam à sua vontade, como Sérgio de Carvalho Verdelho.

 

A briga como ela é

 

Os demais herdeiros, que discordam do tio, foram naturalmente afastados. É o caso de Silvio Filho, Débora Gabriel, Paulo Gabriel, Felipe Gabriel, Nissar Gabriel e Thais Gabriel.

 

Com a morte da matriarca Maria Perpétua, em 2020, seu filho mais velho, Carlos Gabriel, aliado de Sérgio, foi nomeado inventariante, e notadamente Sérgio toma ainda mais a frente dos bens do espólio, determinando que o irmão Carlos, o inventariante, outorgar procuração do espólio para seu filho, Sérgio Gabriel Filho, que passa a compor o conselho de administração da Hiléia.

 

Mas, nos últimos dois anos, as cobranças dos demais herdeiros, os excluídos do processo, se intensificaram, oficializadas com diversos documentos destinados à Hiléia solicitando informações da gestão. Esses herdeiros ganham o apoio do então diretor Financeiro, Odilardo Júnior que, por sua vez, ganhou o ódio da dupla Sérgio Gabriel e Hélio Moura Melo Filho.

 

Perseguição e afastamento

 

Para afastar Odilardo Junior, Hélio Melo e Sérgio Gabriel acusaram o diretor Financeiro de ter praticado concorrência desleal, após abertura de uma empresa de Jaime Araújo, filho de Odilardo Junior. Porém, diferente da acusação, a empresa, que ainda não havia entrado operação

seria aberta em São Paulo, onde a Hileia não tem filial, e atuaria em outro segmento. Estranhamente, o braço da família Araújo precisou batalhar muito na Justiça para ser inocentado da acusação.

 

Com o afastamento de Odilardo Junior, Sérgio Gabriel e Hélio Melo continuaram livres na empresa, onde também, de forma contínua, apropriaram-se de vultosos valores com o apoio de Sérgio Gabriel Filho, que hoje atua na empresa como uma espécie de operador do pai.

 

Convocação e mudanças

 

Com um dossiê completo, ao qual esta coluna teve acesso, o grupo de sócios descontentes convocou uma nova assembleia geral extraordinária para a próxima segunda-feira, 18 de março. Publicada no Diário Oficial do Estado e nos jornais de grande circulação, os sócios temem manobras judiciais que cancelem a assembleia ou que ela tenha o mesmo destino da AGE realizada em 27 de novembro do ano passado, quando os sócios da Hiléia se reuniram na cidade de castanhal para decidir o futuro da empresa.

 

Na ocasião, foram afastados os administrados e eleitos novos. Igualmente, foi determinado que fosse feita uma auditoria independente na empresa. Mas, recorrendo praticamente aos mesmos canais jurídicos que estão sendo acionados agora, os antigos gestores retornaram à cena, beneficiados por várias liminares que, até hoje, são alvo de denúncias e estão sob investigação do Conselho Nacional de Justiça.

 

Papo Reto

 

Não será novidade se a banda Beto Faro (foto) no PT, que está fechada com o governador Helder Barbalho, ficar com a vaga de vice na chapa encabeçada pelo secretário Igor Normando à sucessão municipal.

 

Erramos na informação sobre tecnologia 5G. Onde saiu “no Pará, se Deus mandar bom tempo e as empresas assim o desejarem, serão beneficiados com a tecnologia cerca de 3º os municípios”, leia-se “30 municípios”. Perdão.

 

O boletim InfoGripe, da Fiocruz, não mente: o número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, na maior parte do País e em todas as faixas etárias analisadas, não para de subir.

 

Acredite, 28% dos alimentos industrializados têm sódio em excesso, diz a Anvisa.

 

Entre os grupos de produtos alimentícios considerados verdadeiros venenos estão: biscoito salgado, bolos prontos sem recheio, hambúrgueres, mortadela conservada em refrigeração, pães de forma, muçarela e requeijão.

 

 Aperte o cinto porque a inflação acelera para todas as faixas de renda, em fevereiro, diz o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

 

Detalhe: as famílias com renda média alta foram as que mais sentiram o inchaço dos preços.

 

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