Bispo de Bragança se queixa de "frieza" dos fiéis que não veneram Nossa Senhora do Rosário

Diocese vive dividida entre a padroeira da cidade e São Benedito, mas Igreja tem dilemas menos espirituais a resolver sob a gestão de Dom Possidônio, que corre para os 100 dias.

04/10/2024, 11:40

Dilema religioso: fiéis católicos da cidade se identificam com o “Santo Preto”, herança do sincretismo religioso do período colonial/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


O


bispo da Diocese de Bragança, Dom Raimundo Possidônio da Mata, se manifesta incomodado com o que entende como "frieza" do povo católico ao não demonstrar “entusiasmo” pela festa de Nossa Senhora do Rosário, venerada justamente na Paróquia da Catedral, a "Paróquia do Bispo", nem no restante da cidade e muito menos nas paróquias da diocese, muitas da quais não têm sequer uma imagem exposta da santa. A da Catedral, aliás, Dom Possidônio mandou recolher de um depósito na igreja para exibir aos fiéis. 

 

De fato, desde a fundação da diocese, há quase cem anos, a veneração à Nossa Senhora do Rosário foi introduzida na cidade de Bragança, mas esbarrou em um fator complicador: a veneração, que remonta a mais de 200 anos, ao Glorioso São Benedito - onde, paralelamente, ocorre a Marujada - tradição, como se vê, anterior enraizada no hábito religioso e cultura da região, herança do sincretismo religioso do Brasil Colonial.

 

Queridinho dos fiéis

 

No português claro, São Benedito é o "queridinho" do povo católico de Bragança e região. Tanto que, décadas atrás, a Câmara de Vereadores aclamou o “Santo Preto” como padroeiro da cidade - lei, aliás, que não foi revogada até hoje. Mesmo ‘rebaixado’ - com o perdão do vernáculo - para a atual condição, digamos de ‘padroeiro-adjunto’, ou ‘padroeiro-auxiliar’, é a São Benedito que a população católica recorre. Nesse item, faltou à Igreja combinar com o rebanho, que nunca aceitou pacificamente a decisão vertical e autoritária.

 

Rui Barata na causa

 

Conta a história que a então Prelazia do Guamá, no governo de Dom Eliseu Maria Corolli, chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal - que à época não era ilustrado por um Alexandre de Moraes - na tentativa de assumir a Festividade de São Benedito, então dirigida por uma entidade privada, a Irmandade de São Benedito, também herança da tradição colonial - movimento recorrente na Igreja Católica do Brasil, principalmente na Bahia e em Minas Gerais.  O advogado da Irmandade, nesta causa, foi ninguém menos que Rui Barata. 

 

A prelazia venceu a demanda na Suprema Corte e assumiu os atos devocionais - e patrimoniais - da Irmandade, o que deixou sequelas subliminares até hoje no sentimento do povo que, por exemplo, faz da procissão de São Benedito, na tarde de 26 de dezembro de cada ano, uma das mais gigantescas manifestações proporcionalmente do Pará e do Brasil, com cerca de 200 mil romeiros nas ruas.

 

A raiz da questão

 

Talvez esteja aí a raiz dos fatos em que se debruça a perspicácia de Dom Possidônio que, por sinal, é professor de História da Igreja. Também talvez esteja aí a maior obra do bispo nomeado pelo Papa Francisco em tempo recorde e que este mês chega aos 100 dias na titularidade do cargo, substituindo, na prática, com uma canetada só, três bispos que faziam da Diocese de Bragança única no País.

 

Marca de 100 dias

 

Depois dos 100 dias, também talvez, Dom Possidônio se sinta à vontade para corrigir os rumos da Igreja na região, abalada por uma série de denúncias de improbidade administrativa a partir do Hospital Santo Antônio Maria Zaccaria, como bem sabe o povo que acompanha São Benedito e a Marujada; os que veneram a padroeira oficial, Nossa Senhora do Rosário, e até os opositores da Santa Madre Igreja - os que vivem dentro e os que a observam atentamente do lado de fora - todos. 

 

Desde os primórdios que, em Bragança, no nordeste do Pará, constantemente acontecem denúncias, críticas e outras do ramo contra a administração do Hospital Santo Antônio.

 

Mesma ladainha

 

“Entram governos e saem governos e nada muda; a ladainha é a mesma. Também desde as mesmas épocas não vimos nenhuma providência dos órgãos de fiscalização sobre o assunto de grande repercussão. Sendo verdade e havendo comprovação de crime, por que nunca se movimentaram e nem se movimentam os responsáveis, que podem impedir a continuação do malfeito?

 

Em tendo verbas públicas municipais, estaduais e federais, poderíamos ajudar apontando os órgãos - CGE, AGU, MPF, MPE, TCE, CCM, TCU e Câmara Municipal de Bragança”.

Entre aspas extraído do Blog Pero Vaz de Caminha, Bragança.

 

Papo Reto

 

· Análise de jornalistas que comentaram em grupo de WhatsApp o debate entre os candidatos a prefeito de Belém, ontem, sugere que Thiago Araújo, do Republicanos, se mostrou mais preparado.

 

· O grupo considerou o candidato “isolado” pelos demais concorrentes, que pouco se dirigiram a ele. Jefferson Lima, do Podemos, se destacou por concentrar fogo em Igor Normando, do MDB, e no governador.

 

· O prefeito Edmilson Rodrigues (foto), que busca a reeleição, não foi de todo mal, mas não desgrudou os olhos do papel, de onde tirou perguntas e respostas.

 

· O candidato do MDB cometeu um ato falho ao citar os atendimentos nas Usinas da Paz. Não deixou claro se o número de atendimentos - 3, 5 milhões - se referiam a Belém, foco do debate, ou ao Estado.

 

· Os candidatos Eder Mauro, do PL, e Everaldo Eguchi, do PRTB, ambos delegados, não corresponderam ao que a militância esperava deles no debate.

 

· Aliás, Eguchi chega à eleição com um baita problema na Justiça Eleitoral envolvendo o candidato a vice na chapa, conforme a o Portal Olavo Dutra antecipou ontem à noite.  

 

· A PF já abriu 660 inquéritos para investigar crimes eleitorais. Na média, 14 inquéritos foram abertos por dia. As acusações mais comuns se referem ao crime de caixa dois, objeto de 155 apurações.

 

· A pesquisa estimulada registrada no TSE PA-02291-2024 aponta o empresário Orisvaldo Bateria, do PSD, com 60,8% dos votos contra 39,2% dados ao atual prefeito de São Domingos do Capim, Osny Oliveira, do MDB.

 

· Não se fala no assunto em Belém, mas, em pelo menos 19 capitais brasileiras, haverá transporte público gratuito durante o primeiro turno das eleições municipais, no domingo.

 

· O governo alterou os editais que norteiam o Concurso Público Nacional Unificado na questão da titulação acadêmica e experiência profissional.

 

· O Tribunal de Contas da União vai acompanhar o impacto do próspero mercado das jogatinas, hoje pomposamente rebatizado de "bets" - que deve movimentar quase R$ 130 bilhões só neste ano - na saúde e na economia.

 

· Uma coisa é certa: a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços já proibiu o uso de cartão de crédito para pagar bets, a partir de janeiro do ano que vem.

 

 

Mais matérias OLAVO DUTRA