COP 30, Belém, 2025: redes sociais alimentam “complexo de vira-lata”, mas há política em jogo.

Bastou uma declaração do chefe climático da ONU sobre a avaliação da cidade: o gatilho da inferioridade foi acionado e o estampido fez calar os murmúrios subterrâneos da disputa pela cadeira no Antônio Lemos, em 2024.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

13/08/2023, 08:13
COP 30, Belém, 2025: redes sociais alimentam  “complexo de vira-lata”, mas há política em jogo.
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o final da Cúpula da Amazônia, a imprensa noticiou com estardalhaço a declaração do Chefe Climático da ONU, Simon Stiell, de que mandará uma equipe avaliar a cidade para a COP 30, lembrando que capital paraense precisará abrigar mais de 70 mil pessoas e hoje, tem apenas 12 mil leitos.

 

Declaração de Simon Stiell soou como “ameaça” ao evento costurado por Lula, que “colou” no governador Helder Barbalho e, juntos, turbinam a gestão municipal para dotar Belém dos meios para receber o mundo/Fotos: Divulgação.

Ocorrida em Belém, nos últimos dias 8 e 9, a Cúpula da Amazônia reuniu chefes de Estado de países amazônicos para discutir iniciativas para o desenvolvimento sustentável na região. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cidade recebeu presidentes ou representantes da Bolívia, Colômbia, Guiana, Peru, Venezuela, Equador e Suriname.

  

A cúpula teve início após os ruidosos Diálogos Amazônicos, que reuniu representantes de entidades, movimentos sociais, universidades, centros de pesquisa, centrais sindicais e agências governamentais do Brasil e demais países amazônicos, para formular sugestões à reconstrução de políticas públicas sustentáveis para a região. O resultado desses debates foi apresentado na forma de propostas aos chefes de Estado durante a cúpula.

 

Os países concordaram em criar uma Aliança Amazônica de Combate ao Desmatamento, mas, obviamente, não definiram uma meta comum. Cada país deve perseguir seus próprios objetivos: no Brasil, a meta é zerar até 2030.

 

O “veto” do Ibama - subordinado à  ministra Marina Silva - à exploração de petróleo na Amazônia também não foi incluído no documento. O encontro não conseguiu gerar compromissos entre os países para diminuir o desmatamento, o que também era esperado.

 

O presente de Belém

 

Enquanto os líderes se debruçaram sobre o futuro, o presente de Belém virou objeto de fértil e barulhento debate nas redes sociais, tendo como ponto focal a viabilidade ou não da capital paraense sediar a COP 30, a Conferência do Clima da ONU, que acontecerá em novembro de 2025.

 

Belém teve a sua candidatura apresentada pelo presidente Lula logo após a eleição em 2022. Como a floresta amazônica era o principal tema de debate nas conferências das quais Lula participou, em Paris e Copenhague, além do Egito, o presidente decidiu sugerir que a COP fosse realizada na região, para que as pessoas pudessem “conhecer a floresta e suas riquezas”.

 

No dia 26 de maio, a ONU confirmou Belém como sede da COP 30. Obviamente, a realização de um evento do porte de uma Conferência do Clima exige um "grande esforço" do país e da cidade-sede. O secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, André Corrêa Lago, reconheceu que não estamos prontos, o que é óbvio, mas ressaltou que “todas as cidades que convidam para a COP têm que fazer um grande esforço". É um evento que, nos últimos anos, tem média de 40 mil a 50 mil pessoas durante duas semanas”, afirmou a jornalistas durante coletiva, em Belém.

 

Palmatória do mundo

 

Desde então, o pessimismo tomou conta das redes sociais no Pará, com opiniões majoritárias de que Belém irá “passar vergonha”. Muitos comparam, ironicamente, a capital e seus problemas com Dubai, cidade dos Emirados Árabes onde se realizará a COP deste ano. Dubai é conhecida mundialmente por sua economia extremamente desenvolvida e por seus enormes arranha-céus, ilhas artificiais e largas avenidas.

 

Os muitos opositores do prefeito Edmilson Rodrigues, do Psol, surfam no mar de pessimismo para tentar imputar a ele todos os problemas de um século de desacertos urbanísticos da cidade. Se for verdade que o prefeito lilás vem frustrando as expectativas da população de Belém de variadas formas, será também verdade, por certo, que há problemas estruturais que têm passado de gestão em gestão sem solução.

 

Um deles é o crônico alagamento de certas vias centrais, produzido não apenas pelo acúmulo de resíduos ou pelo alto índice de chuvas, mas por problemas estruturais, como canais obstruídos por concreto para a construção de vias ainda no século passado ou pela favelização agressiva da região metropolitana.

 

“Eu tenho a força”

 

Obviamente, isso não perdoa a lentidão da máquina municipal em responder aos problemas mais básicos - como capinar praças, recolher o lixo e tapar buracos -; nem perdoa o próprio alcaide por reações destemperadas, como a ocorrida durante uma coletiva em que foi indagado por um repórter da CNN se seria prefeito em 2025 e ele reagiu mal: primeiro calando, para depois gravar um vídeo - quem dirigiu aquele vídeo? - onde dizia que disputará a eleição porque tem “o apoio de Lula e do governador”, que podem ser bastante. mas não são, por certo, o suficiente.

 

Ao final da Cúpula da Amazônia, a imprensa noticiou com estardalhaço a declaração do Chefe Climático da ONU, Simon Stiell, de que mandará uma equipe avaliar a cidade para a COP 30, lembrando que capital paraense precisará abrigar mais de 70 mil pessoas e hoje, tem apenas 12 mil leitos.

 

Embaraço diplomático

 

O susto não passa de alarme falso. Voltar atrás na decisão já tomada pelo órgão e anunciada pelo presidente da República brasileira produziria um desgaste diplomático sem precedentes. A liberação de recursos pelos parceiros da Prefeitura de Belém, como governo federal e estadual, e a agilização na execução de obras e serviços, podem ser suficientes se forem somados a alguma boa vontade do povo de Belém, que de fato será beneficiado pelo legado que a Conferência  da ONU deixará quando 2025 acabar.

 

O ovo do omelete

 

E aqui reside o maior problema. Os que querem antecipar a disputa no ano que vem não pouparão despesas em mobilizar o mau humor subterrâneo contra aquele que ocupa a cadeira de Antônio Lemos.

 

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