Reitor da UFPA fecha gestão com chave de ouro e nomeia servidores que pediram aposentadoria

Além de “entupir” gabinete com assessores pagando salário mínimo de R$ 4 mil, Emmanuel Tourinho 'inaugura' campus 'sem campus' em Ananindeua.

05/10/2024, 09:00
Reitor da UFPA fecha gestão com chave de ouro e nomeia servidores que pediram aposentadoria
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ocaso do mandato do reitor Emmanuel Tourinho aponta uma verdadeira “farra” de nomeações na UFPA, segundo denúncias encaminhadas à Coluna Olavo Dutra. No “apagar das luzes”, Tourinho, que inaugurou ontem a sede do Campus da UFPA em Ananindeua sem o campus, passou a inflar o gabinete da Reitoria de assessores com cargos de direção e assessoramento e salários de R$ 4 mil, no mínimo.


Em Ananindeua, dirigentes do campus estão legalmente escolhidos, mas a estrutura não existe/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

Segundo o site da UFPA, a comissão organizadora da consulta prévia para escolha de dirigentes do Campus de Ananindeua - quadriênio 2025-2029 - se reuniu no dia 23 de setembro nas dependências da entidade e deliberou sobre a inscrição de chapa - e nada mais que isso. O campus foi “inaugurado”, inclusive sob aplausos, não existe, mas vai cair no colo do novo reitor nomeado, professor Gilmar Pereira.

 

Ação entre amigos

 

Um dos atos do magnífico, no uso de suas “atribuições legais e estatutárias”, concedeu aposentadoria voluntária, por tempo de contribuição, com proventos integrais, à professora Zélia Amador de Deus, ocupante do cargo de professora do magistério superior, classe D, com denominação de associado nível 2, em regime de dedicação exclusiva, código de vaga 251452, pertencente ao quadro de pessoal. O fundamento está no artigo 3º da Emenda Constitucional nº 47/2005, combinado com o artigo 3° da Emenda Constitucional 103/2019.

 

Quase imediatamente, depois de ter sido aposentada, a professora Zélia foi nomeada para o cargo de direção de Assessoria de Diversidade e Inclusão Social da UFPA, código CD-4, em portaria no Diário Oficial da União, processo 23073.046697/2024-92.

 

Fonte da coluna questiona: “Primeiro, foi concedida aposentadoria, a pedido, para Zélia, e na mesma canetada deram a ela o agrado de ser diretora. Se ela pediu aposentadoria voluntariamente, é porque quer se afastar do serviço público. Ou não?”, indaga.

 

Repercussão da nomeação de Zélia - e a preocupação em relação à situação na UFPA, aumenta a cada dia. O caso levanta algumas questões importantes. A permanência de Zela em funções de destaque, mesmo aposentada, “parece impedir a renovação de lideranças, deixando de abrir oportunidades para novos talentos que poderiam trazer visões diferentes”, reflete a fonte da coluna.

 

Além disso, a nomeação foi para uma área sensível, a Assessoria de Diversidade e Inclusão Social, na qual é essencial promover a pluralidade de pensamentos e perspectivas. Manter as mesmas pessoas pode acabar limitando o processo a que se destina a Assessoria. “Seria interessante que houvesse mais transparência e abertura, permitindo que outras pessoas pudessem concorrer a esses cargos, o que promoveria uma maior rotatividade e inovação na gestão. É necessário discutir mais sobre como garantir uma verdadeira renovação e inclusão nos cargos de liderança na UFPA", destaca a fonte.

 

Novas lideranças?

 

Segundo as informações, “é preciso discutir essas questões sensíveis de gestão de pessoas e de formação de novas lideranças na UFPA. “Há, de fato, pouco espaço para elas, pois os cargos de direção e assessoramento viraram instrumentos para cabides de emprego na Reitoria e de barganha para o reitor em final de mandato. Recentemente, Tourinho nomeou uma diretora que renunciou ao cargo na área da saúde”. Continua a fonte: “com que interesse Tourinho faz isso? Qual o objetivo dessa ação? Inflar a Reitoria de assessores?”.

 

A fonte relembra o caso de Maria Ataíde Malcher, do Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão, que passou ao cargo de assessora da Reitoria. No gabinete de Tourinho já estão três assessores com cargos de direção: o chefe de gabinete; a assessora dele, Terezinha; e também Maria Ataíde Malcher, amiga íntima da esposa de Tourinho, Simone Neno, a quem defende com fidelidade. 

 

Também teve repercussão a nomeação recente de Eliete Araújo, que renunciou à função de diretora do Instituto de Ciências da Saúde da UFPA, no final de setembro.

 

Sucupira no roteiro

 

Além das últimas nomeações, o que se comenta pelos corredores da UFPA é que só falta ao reitor inaugurar, agora, seu próprio cemitério. Um escritório ele já tratou de organizar o Complexo dos Mercedários.


Qualquer semelhança com “Sucupira”, a cidade de Odorico Paraguaçu da novela “O Bem Amado”, não será mera coincidência.


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Pressão do grupo de Paulo

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A publicação da portaria de nomeação do professor Gilmar Pereira para exercer o cargo de reitor da UFPA pelos próximos quatro anos apenas 15 dias antes da data estipulada para a posse tem lá seus significados.  O primeiro é que sugere uma disputa de bastidores entre aliados do presidente Lula contra e a favor da nomeação - havia, por assim dizer, defensores de outra solução que não a disponível.

 

Esse ponto revela certa violência no embate político-partidário e, por incrível que pareça, no espectro da centro-direita, replicando na UFPA o cenário eleitoral em Belém entre o MDB, o Psol e o PT, nesse caso, a banda do senador Beto Faro, o PT do B. Associado a este detalhe, um fator de bastidores assanhou os apoiadores de Gilmar Pereira na UFPA fortemente fincado do PT do B -  o PT hoje se digladia entre as correntes que gravitam em torno do ex-senador Paulo Rocha e as que estão na influência do senador Beto Faro. O reitor eleito é ligado a Paulo Rocha.



 

Transição uma ova

 

Ocorre que, em meados de setembro, Gilmar Pereira achou por bem promover informalmente uma reunião em seu gabinete de vice-reitor com alguns apoiadores mais próximos vinculados à vida acadêmica da UFPA para analisar o cenário e projetar iniciativas de transição, algo então bastante problemático e sensível.  Para surpresa de ninguém, eis que surge na sala de reunião o ainda reitor em pessoa, Emmanuel Tourinho, que, de forma incisiva, desaconselhou a continuidade da reunião alegando que eventualmente só haveria transição após a oficialização da nomeação do futuro reitor.

 

Disputa partidária


Passado o constrangimento inicial e geral, a reunião se desfez, mas foi o estopim para que a ala do PT e do Psol acampasse na Casa Civil da Presidência da República - antessala do gabinete de Lula - pressionando o desenlace imediato da indefinição. Dito e feito: Lula assinou no final de setembro a portaria, dando a Gilmar Pereira 17 dias de prazo para a transição. Ou seja, praticamente, vai subir no bonde andando, mas, dos males, o menor, em função dos riscos: há novo reitor.

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