ocaso do mandato do reitor Emmanuel Tourinho aponta uma verdadeira “farra” de nomeações na UFPA, segundo denúncias encaminhadas à Coluna Olavo Dutra. No “apagar das luzes”, Tourinho, que inaugurou ontem a sede do Campus da UFPA em Ananindeua sem o campus, passou a inflar o gabinete da Reitoria de assessores com cargos de direção e assessoramento e salários de R$ 4 mil, no mínimo.

Segundo
o site da UFPA, a comissão organizadora da consulta prévia para escolha de
dirigentes do Campus de Ananindeua - quadriênio 2025-2029 - se reuniu no dia 23
de setembro nas dependências da entidade e deliberou sobre a inscrição de chapa
- e nada mais que isso. O campus foi “inaugurado”, inclusive sob aplausos, não
existe, mas vai cair no colo do novo reitor nomeado, professor Gilmar Pereira.
Ação entre amigos
Um
dos atos do magnífico, no uso de suas “atribuições legais e estatutárias”,
concedeu aposentadoria voluntária, por tempo de contribuição, com proventos
integrais, à professora Zélia Amador de Deus, ocupante do cargo de professora
do magistério superior, classe D, com denominação de associado nível 2, em
regime de dedicação exclusiva, código de vaga 251452, pertencente ao quadro de
pessoal. O fundamento está no artigo 3º da Emenda Constitucional nº 47/2005,
combinado com o artigo 3° da Emenda Constitucional 103/2019.
Quase
imediatamente, depois de ter sido aposentada, a professora Zélia foi nomeada
para o cargo de direção de Assessoria de Diversidade e Inclusão Social da UFPA,
código CD-4, em portaria no Diário Oficial da União, processo
23073.046697/2024-92.
Fonte
da coluna questiona: “Primeiro, foi concedida aposentadoria, a pedido, para
Zélia, e na mesma canetada deram a ela o agrado de ser diretora. Se ela pediu
aposentadoria voluntariamente, é porque quer se afastar do serviço público. Ou
não?”, indaga.
Repercussão
da nomeação de Zélia - e a preocupação em relação à situação na UFPA,
aumenta a cada dia. O caso levanta algumas questões importantes. A permanência
de Zela em funções de destaque, mesmo aposentada, “parece impedir a renovação
de lideranças, deixando de abrir oportunidades para novos talentos que poderiam
trazer visões diferentes”, reflete a fonte da coluna.
Além
disso, a nomeação foi para uma área sensível, a Assessoria de Diversidade e
Inclusão Social, na qual é essencial promover a pluralidade de pensamentos e
perspectivas. Manter as mesmas pessoas pode acabar limitando o processo a que
se destina a Assessoria. “Seria interessante que houvesse mais transparência e
abertura, permitindo que outras pessoas pudessem concorrer a esses cargos, o que
promoveria uma maior rotatividade e inovação na gestão. É necessário discutir
mais sobre como garantir uma verdadeira renovação e inclusão nos cargos de
liderança na UFPA", destaca a fonte.
Novas lideranças?
Segundo
as informações, “é preciso discutir essas questões sensíveis de gestão de
pessoas e de formação de novas lideranças na UFPA. “Há, de fato, pouco espaço
para elas, pois os cargos de direção e assessoramento viraram instrumentos para
cabides de emprego na Reitoria e de barganha para o reitor em final de mandato.
Recentemente, Tourinho nomeou uma diretora que renunciou ao cargo na área da
saúde”. Continua a fonte: “com que interesse Tourinho faz isso? Qual o objetivo
dessa ação? Inflar a Reitoria de assessores?”.
A
fonte relembra o caso de Maria Ataíde Malcher, do Núcleo de Inovação e
Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão, que passou ao cargo de assessora da
Reitoria. No gabinete de Tourinho já estão três assessores com cargos de
direção: o chefe de gabinete; a assessora dele, Terezinha; e também Maria
Ataíde Malcher, amiga íntima da esposa de Tourinho, Simone Neno, a quem defende
com fidelidade.
Também
teve repercussão a nomeação recente de Eliete Araújo, que renunciou à função de
diretora do Instituto de Ciências da Saúde da UFPA, no final de setembro.
Sucupira no roteiro
Além
das últimas nomeações, o que se comenta pelos corredores da UFPA é que só falta
ao reitor inaugurar, agora, seu próprio cemitério. Um escritório ele já tratou
de organizar o Complexo dos Mercedários.
Qualquer semelhança com “Sucupira”, a cidade de Odorico Paraguaçu da novela “O Bem Amado”, não será mera coincidência.
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Pressão do grupo de Paulo
Rocha sobre Lula antecipa
nomeação e posse do novo
reitor da Universidade
A publicação da portaria de nomeação do professor Gilmar
Pereira para exercer o cargo de reitor da UFPA pelos próximos quatro anos
apenas 15 dias antes da data estipulada para a posse tem lá seus
significados. O primeiro é que sugere uma disputa de bastidores entre
aliados do presidente Lula contra e a favor da nomeação - havia, por assim
dizer, defensores de outra solução que não a disponível.
Esse ponto revela certa violência no embate político-partidário e, por incrível que pareça, no espectro da centro-direita, replicando na UFPA o cenário eleitoral em Belém entre o MDB, o Psol e o PT, nesse caso, a banda do senador Beto Faro, o PT do B. Associado a este detalhe, um fator de bastidores assanhou os apoiadores de Gilmar Pereira na UFPA fortemente fincado do PT do B - o PT hoje se digladia entre as correntes que gravitam em torno do ex-senador Paulo Rocha e as que estão na influência do senador Beto Faro. O reitor eleito é ligado a Paulo Rocha.
Transição uma ova
Ocorre que, em meados de setembro, Gilmar Pereira achou
por bem promover informalmente uma reunião em seu gabinete de vice-reitor com
alguns apoiadores mais próximos vinculados à vida acadêmica da UFPA para
analisar o cenário e projetar iniciativas de transição, algo então bastante
problemático e sensível. Para surpresa de ninguém, eis que surge na sala
de reunião o ainda reitor em pessoa, Emmanuel Tourinho, que, de forma incisiva,
desaconselhou a continuidade da reunião alegando que eventualmente só haveria
transição após a oficialização da nomeação do futuro reitor.
Disputa partidária
Passado o constrangimento inicial e geral, a reunião se
desfez, mas foi o estopim para que a ala do PT e do Psol acampasse na Casa
Civil da Presidência da República - antessala do gabinete de Lula -
pressionando o desenlace imediato da indefinição. Dito e feito: Lula assinou no
final de setembro a portaria, dando a Gilmar Pereira 17 dias de prazo para a
transição. Ou seja, praticamente, vai subir no bonde andando, mas, dos males, o
menor, em função dos riscos: há novo reitor.