u não passei 30 anos na Polícia para pagar de otária agora”. O desabafo é de uma delegada aposentada da Polícia Civil do Pará, que, nos últimos dois anos, anda às voltas para receber direitos trabalhistas devidos pelo Estado, através do Instituto de Gestão Previdenciária, atual Igepps. O caso, noticiado pela coluna, é polêmico (veja o link da matéria aqui).
Ao passo em que servidores denunciam, através do Ministério Público Estadual, que o pagamento de 24 parcelas de retroativos não ocorreu da forma devida, o presidente do Sindicato, Ednaldo Araújo, sustenta justamente o contrário, em resposta atravessada à coluna: “...servidores que se aposentaram e, portanto, têm direito ao retroativo, ao contrário do que foi divulgado por um blog, receberam e continuam a receber normalmente”.
Nem todos, eis a questão. Mas a
confirmação da regularidade dos pagamentos consta de um documento enviado à
advogada Brenda Braga, em que Ednaldo Araújo explica sobre os processos já
deferidos - e os respectivos pagamentos -, e outros não deferidos -,
evidentemente não pagos até agora, e que representam a base da denúncia
engavetada pelo MP.
A bem da verdade
A Coluna Olavo Dutra retorna
ao assunto por dever profissional e em nome da transparência e da Justiça: o
único pagamento concreto - mas não necessariamente correto -
religiosamente operado nesse rumoroso caso beneficia principalmente o
escritório Fernando Mendes Sociedade Individual de Advocacia, pertencente ao
advogado Fernando Mendes, que vem a ser irmão do atual presidente do Instituto
de Previdência.
Para se ter ideia, de 2021 até este ano, o escritório já recebeu
repasses financeiros que somam R$ 28 milhões, embora supostamente sem contrato
formal com o Sindicato da Polícia Civil. De outra parte, policiais aposentados
cujos processos foram deferidos seguem recebendo, mas um grupo inicialmente de
51 aposentados - o mesmo que recorreu e aguarda providências do Ministério
Público - sequer tem conhecimento da base de cálculo que estabeleceu os valores
a receber por falta de transparência no processo conduzido pelo Instituto e
ante o silêncio obsequioso do Sindicato e da Associação dos Delegados.
“Advogado prodígio”
Sobre os pagamentos de honorários ao
escritório de advocacia do irmão do presidente do Instituto, a coluna tem a
acrescentar outro ponto fundamental. Além da repercussão política, a postagem
gerou grande ressonância nos meios jurídicos, não apenas pelos altíssimos
valores pagos ao escritório, mas por se tratar de um “advogado prodígio” que,
com pouco tempo de advocacia, abocanhou valores nunca vistos em tão curto tempo
de militância.
“Modus operandi”
Que fique claro, principalmente, que
os desembargadores Constantino Guerreiro e Roberto Moura, que aparecem na
postagem, não possuem nenhuma relação com os pagamentos dos honorários para o
escritório, isto é, não autorizaram os repasses: foram citados porque o
Igeprev, à época, deixou de cumprir as decisões judiciais dos dois magistrados
e priorizou a seu modo o pagamento para o escritório Fernando Mendes. Enveredar
por esse entendimento e envolver os desembargadores é tentar “envernizar de
legalidade” um negócio no mínimo suspeito.
Ainda no assunto, a coluna aproveita para reafirmar que qualquer correlação com
os desembargadores Constantino Guerreiro e Roberto Moura é pura maldade de quem
leu, ou leu e não entendeu. A publicação, datada do dia 5 deste mês,
aponta que os repasses de R$ 28 milhões ocorreram, efetivamente, de acordo com
o Portal da Transparência, e saíram diretamente dos cofres do Igeprev para a
conta do escritório, e não do Judiciário.
Cédula de R$ 3
Não à toa, o que se se comenta, não
apenas nos corredores políticos e entre os advogados, é a inércia da
Auditoria-Geral do Estado ante essa farra com dinheiro público. O atual
presidente e ordenador de despesa do Igeprev, que mandou pagar o escritório do
irmão, foi o auditor-geral no primeiro mandato do governo Helder Barbalho,
quando investigou empresas que participaram no programa “Asfalto na cidade”, do
governo anterior, instaurando inquéritos e fazendo denúncias.
Siga o dinheiro
Também não se sabe de qualquer ação
das promotorias de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa,
que são autônomas e, portanto, não precisam da autorização do PGJ Cezar Mattar
para agir, muito menos do COAF ou da Polícia Federal para seguir o dinheiro
dessa tenebrosa transação de R$ 28 milhões de crédito de conta para conta do
meu, do seu, do nosso dinheiro.
Moral da história
Como dizem os bons advogados, “quando
um estagiário de Direito mente, a advocacia terá um advogado mentiroso” - e
falsidade ideológica nunca foi bem de raiz; pelo contrário.
Papo Reto
· Não será novidade se o
pré-candidato do MDB a prefeito de Belém, Igor Normando (foto),
aparecer em pesquisa eleitoral à frente do prefeito Edmilson Rodrigues.
· A
informação é de uma fonte da coluna ligada ao Psol, para quem o prefeito
entregou as rédeas da administração ao Gabinete, que decide com um grupo
comandado por Aldenor Júnior.
· A Polícia Federal fechou um
farto garimpo na Terra Indígena Kayapó, município de Bannach, causando furor em
certo personagem com forte presença e influência no cenário político paraense.
· O Papa
Francisco ligou para o arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, dom
Jaime Spengler, solidarizando-se com as vítimas da tragédia.
· Ajuda financeira do trilionário
Banco do Vaticano que é bom...
· O Banco
Mundial foi mais humanitário: anunciou ajuda emergencial ao Rio Grande do Sul.
· Apontar qualquer notícia
desfavorável ao governo como fake news virou modo preferencial
de enfrentamento às críticas que se multiplicam feito praga nas redes sociais,
tirando o sono da esquerda.
· A banalização da conduta, no
entanto, começou a dar sinais de que "ela já deu o que tinha de dar",
na medida em que o Parlamento brasileiro, mesmo parcialmente dominado, começa
reagir.
· Convocações em série de
ministros para esclarecimentos dos escabrosos fatos fazem sangrar a máquina de
propaganda do governo.
· Acredite, a volta do imposto
DPVAT garantiu a senadores R$ 3,6 dos R$ 5,6 bilhões daquelas emendas de
comissão antes vetadas por Lula, mas liberadas no dia seguinte à aprovação da
medida.