À beira da falência, Pará Clube amarga crise e sofre bloqueio judicial avaliado em mais de meio milhão

Execução de sentença da Justiça do Trabalho determina bloqueio imediato de R$ 590.174,67 saídos direto dos aluguéis que o clube recebe.

29/02/2024, 08:40
À beira da falência, Pará Clube amarga crise e sofre bloqueio judicial avaliado em mais de meio milhão
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om 121 anos de fundação, o Pará Clube, um dos mais antigos de Belém, pode entrar em breve para a nostálgica lista do “Belém já teve”. Em situação considerada falimentar, o clube, fundado em 1903, levou um novo tombo, com um mandado de execução de sentença da Justiça do Trabalho com valor que ultrapassa meio milhão de reais. A ordem para o bloqueio imediato de R$ 590.174,67 foi emitida na última segunda-feira, 26, pela 3ª Vara do Trabalho de Belém, em cumprimento à sentença judicial à qual o clube havia sido condenado em junho do ano passado.


Um dos mais tradicionais do Pará, o clube entrou em decadência sem sinais de volta/Fotos: Divulgação-Amanda Martins-O Liberal.

A ação trabalhista foi movida pelo Sindicato dos Trabalhadores em Clubes Recreativos do em favor de onze colaboradores do Pará Clube, que há muito tempo está em crise financeira, mas, desde o ano passado, vem respirando com ajuda de aparelhos, como o aluguel mensal de áreas da sua sede para o Grupo Revemar, a quem a Justiça do Trabalho também destinou a intimação para o bloqueio dos valores dos aluguéis mensais, que, somados, giram em torno de R$ 37 mil, e agora não poderão mais cair na conta do clube, mas em uma conta judicial assinada pelo oficial de Justiça que atua no cumprimento da sentença, até alcançar o total de R$ 590.174,67 definidos pela Justiça.

 

Área retalhada

 

Além das áreas alugadas para o Grupo Revemar, onde a empresa mantém sua loja de veículos seminovos, ano passado o Pará Clube perdeu uma parte importante de sua área total, já que todo o terreno que comporta as quadras esportivas, de frente para a travessa Lomas Valentinas, foi leiloada também pela Justiça do Trabalho.

 

No início do segundo semestre de 2023, a área foi arrematada por R$ 2,7 milhões pela empresa esportiva Byblos, que, segundo apuração da coluna, pertence ao deputado estadual Gustavo Sefer, do PSD.

 

Queda na arrecadação

 

Hoje, o Pará Clube recebe pouco ou quase nenhum recurso de associados que, aliás, caíram de forma drástica nos últimos dois anos e meio. Em meados de 2022, o Pará Clube trabalhava com uma lista de 750 associados, que caíram quase 400% nesse intervalo, e hoje tem cerca de 200 associados, mas não há informações claras sobre pagamentos de mensalidades ou taxas de inadimplência. O que ainda vinha garantindo alguma renda para o clube eram justamente os aluguéis.

 

Mundo da agiotagem

 

A coluna também apurou que muito da derrocada do Pará Clube se deve a um forte esquema de práticas de agiotagem que reinam há muito tempo no clube. Embora a prática de agiotagem seja crime, e a Justiça tenha sempre a desculpa de que “precisa ser provocada”, a prática acaba sendo livre no clube, inclusive de forma recorrente por membros - antigos e atuais - da diretoria, com taxas que podem variar de 10% ao mês e até de 10% por semana.

 

Assim, quando o clube está no perrengue de pagar uma conta alta, chega um bom samaritano, empresta o dinheiro e, semana que vem, quando entra algum valor no clube, o “santo” retira sua parte, naturalmente já com o altíssimo ágio. Ainda assim, isso não livrou o Pará Clube de ter sua conta de energia cortada na semana passada. A luz foi restabelecida três dias depois, mas ainda não se sabe a que preço, ou a qual percentual de ágio.

 

Posando de “rainha”

 

Mesmo com toda a crise financeira, o Pará Clube resolveu manter a “pose de rainha” também este ano, quando integrou o tradicional concurso “Rainha das Rainhas do Carnaval Paraense”, o que só foi possível, segundo fonte da coluna, porque normalmente no concurso é a família quem acaba bancando os custos da participação da candidata. Neste ano, o Pará Clube classificou sua candidata como uma das princesas, ficando em quarta colocação no concurso.

 

História se apagando

 

O Pará Clube é um dos mais antigos de Belém, fundado em 5 de abril de 1903, com o nome de “Sport Pará Club”, com um antigo escudo de futebol com o qual, quatro anos depois, o clube foi um dos fundadores da “Liga Paraense de Foot-ball”, no ano de 1907, segundo informações do site “Parazão Centenário”.

No ano seguinte, o Pará Clube chegou a disputar o primeiro campeonato paraense, realizado no ano de 1908. O único resultado da equipe conhecido naquele certame foi uma goleada por 5×2 diante da União Sportiva, no dia 22/11/1908, “no campo de São Braz”.


Hoje, o Pará Clube corre o risco de entrar para a lista dos clubes que Belém já teve, como o Iate Clube do Pará, o Círculo Militar e o Tele Clube, entre outros.

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