Transamazônica segue parada no tempo e no espaço; logística anula setor produtivo do Pará.

Filas quilométricas entre Campo Verde, em Mato Grosso, e Miritituba, região de Itaituba, oeste do Pará, são relatadas em rede social e reforçam a urgência de ação política do Estado.

17/05/2025, 11:00
Transamazônica segue parada no tempo e no espaço; logística anula setor produtivo do Pará.
I


magens que circularam na social, ontem, mostram um intenso congestionamento na BR-230, entre Campo Verde e Miritituba, em Itaituba, oeste do Pará. A fila - que se estende por vários quilômetros e inclui carretas, veículos de passeio e motocicletas - estaria sendo causada pela lentidão nos portos da região, que acumulam carretas aguardando para descarregar. Segundo a postagem, não há previsão para a liberação da via.

Engarrafamento gigantesco registrado ontem sinaliza a eternização da “estrada do sem fim” e a falta de alternativas e de segurança para os produtores/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.
Para lideranças do setor produtivo paraense, a situação na BR-230 reforça a urgência de ampliar e diversificar os modais logísticos no Estado. A concentração do escoamento da produção em uma única via, aliada à lentidão na operação portuária, cria gargalos que afetam não apenas o trânsito local, mas comprometem toda a cadeia produtiva da região. Investir em ferrovias, além de hidrovias e na modernização dos portos é fundamental para reduzir a pressão sobre as rodovias, garantir maior fluidez no transporte e fortalecer a competitividade da Amazônia no cenário nacional e internacional.

Demanda antiga

Para empresários e entidades de defesa do desenvolvimento do Estado, a ferrovia Ferrogrão - que prevê interligar Sinop (MT) a Miritituba, em Itaituba (PA) - seria a alternativa mais viável para minimizar os gargalos logísticos que hoje afetam o escoamento da produção na região. Segundo dados da Agência Nacional de Transporte Terrestres, o investimento previsto para a ferrovia é de R$ 8,42 bilhões, podendo chegar a até R$ 21,57 bilhões de investimento ao longo da concessão. São 933 km de trilhos, entre a região produtora de grãos do Centro-Oeste ao Pará, desembocando no Porto de Miritituba.

Estudos demonstram que a ferrovia deve gerar redução de até 55% no valor do frete interno; redução do custo da logística total em relação ao preço do produto exportado brasileiro de 26 para 21,2%; redução do custo de manutenção da BR 163; redução de 37% das emissões de CO2 em relação ao transporte rodoviário por unidade de peso; diminuição dos riscos de acidentes no transporte da safra pela BR 163; possibilidade de eletrificação da linha férrea, zerado as emissões de CO2 e criação de um corredor logístico interno para cargas da Amazônia Ocidental em direção às grandes praças de consumo brasileiras.

Logística vulnerável

O Pará convive com vulnerabilidade de uma logística dependente de rodovias precárias - sobrecarregadas pelo excesso de carga, altos índices de emissão de carbono e riscos frequentes de acidentes - e trechos fluviais com limitações sazonais. Nesse contexto, também ganha relevância o derrocamento do Pedral do Lourenço - obra estratégica aguardada há mais de quatro décadas -, fundamental para tornar navegável, durante todo o ano, a hidrovia do Tocantins. 

Trilhos embargados

A conclusão dessa obra permitirá a consolidação de um corredor logístico sustentável e competitivo, com impactos diretos no desenvolvimento regional e na segurança das populações que dependem dessas rotas.

O setor produtivo paraense acredita que a Ferrogrão, assim como a modernização da BR-163, o derrocamento do Pedral do Lourenço - e tantos outros projetos de infraestrutura previstos para a região -, trarão benefícios diretos para o Estado, a partir da atração de novos investimentos, aumento da arrecadação, geração de emprego e renda, sendo extremamente importantes para elevar o IDH regional.

Nos Estado Unidos, Fiepa
discute estratégias para
fortalecer diálogo e abrir
novas oportunidades

Diante da reformulação das práticas comerciais do governo dos Estados Unidos e da reorganização das cadeias produtivas globais, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lidera, até hoje, uma missão empresarial aos Estados Unidos. O objetivo foi fortalecer o diálogo bilateral, defender um ambiente de negócios mais integrado e competitivo, e discutir desafios e oportunidades de uma economia de baixo carbono, tema estratégico na agenda da indústria brasileira. A programação incluiu agendas em Washington, Nova York e Boston.

Com foco na realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em novembro deste ano em Belém, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), Alex Carvalho, integrou a delegação - formada por empresários, presidentes de federações de indústrias, representantes de associações industriais e do governo brasileiro - com o objetivo de ampliar o posicionamento da indústria da Amazônia frente aos desafios e oportunidades da nova economia.

Transição e carbono

"A participação da FIEPA nessa missão internacional liderada pela CNI teve um caráter estratégico, ao debater temas urgentes como a transição para uma economia de baixo carbono, especialmente na Amazônia, e ao aproximar o Pará - que vai sediar a COP30 - de soluções inovadoras para os desafios regionais. A agenda em instituições como Harvard e o MIT foi muito positiva, fortalecendo conexões com centros de excelência em tecnologia e inovação. Por meio do Senai, temos capacidade de transformar essas conexões em conhecimento prático, incorporando mais tecnologia e melhorando as entregas da indústria paraense, que pode e deve ser protagonista nessa nova forma de produzir, consumir e se relacionar com a sociedade", afirmou Carvalho.

Em Nova York, Alex Carvalho participou do seminário “Desbloqueando o Potencial Industrial Verde do Brasil: Aproveitando a inovação, políticas e capital para liderar a transição global”, promovido pela CNI em parceria com o jornal americano Financial Times. Durante o evento, Carvalho se reuniu com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, com o diretor do Pacto Global, Rodrigo Favetta, e com o chair da Sustainable Business COP30, Ricardo Mussa. No dia 14, acompanhou a 4ª edição do Brazil Summit, que contou com palestra do presidente da CNI, Ricardo Alban, sobre os desafios e oportunidades para o Brasil avançar na agenda de sustentabilidade.

Potencial competitivo

Na missão, o presidente da CNI defendeu o protagonismo do Brasil no novo ciclo de desenvolvimento sustentável e destacou o potencial competitivo do País em setores estratégicos da indústria verde. “Temos vantagens competitivas claras, que vão desde as energias renováveis até a produção de commodities, passando por um bioma singular e uma indústria com enorme potencial de agregação de valor. E se temos condições tão favoráveis, não podemos desperdiçar a chance de nos posicionar como agregadores no conceito de sustentabilidade”, afirmou Ricardo Alban.

Em Boston, a comitiva brasileira visitou o Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde participou de debates sobre inteligência artificial, ecossistemas de inovação e transformação digital na indústria. Também esteve no campus da Universidade de Harvard, para conhecer iniciativas voltadas à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.

Mais matérias OLAVO DUTRA