Cerca, corrente e cadeado proíbem ir e vir em praia de Salinópolis e provocam protesto de comunidades

Limites da liberdade na Ponta da Sofia foram demarcados pelo Ideflor-Bio a pretexto de proteger a vida marinha, mas há divergências e suspeitas que o Instituto parece não querer esclarecer.

17/06/2025, 08:00

Espaço de uso restrito demarcado pela cerca é parte Área de Conservação Monumento Natural do Atalaia, onde proliferam invasões desde o ano passado/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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uando se mexe com o mercado imobiliário de Salinópolis, o balneário mais concorrido da Costa Atlântica do Pará, onde o metro quadrado por vezes pode custar os olhos da cara, ou sai insosso ou sai salgado. Parece regra; e é.

Agora, porém, um fato inusitado entorna o caldo na região conhecida como Ponta da Sofia, que não é tão frequentada quanto a Praia do Atalaia, mas onde a natureza esbanja seu esplendor, inclusive por ser área de nidificação de tartarugas e habitat de outros animais marinhos.

Na Ponta da Sofia, plantaram uma cerca de madeira, fincada na areia, que adentra o mar, oficialmente em nome da sagrada defesa da fauna marinha, mas que restringe o trânsito de pessoas, como praticantes de esportes e banhistas e comunitários durante o dia - quando tartarugas sequer chegaram à praia cumprindo a regra imposta pela natureza de retornarem ao lugar em que nasceram para dar sequência à vida.

A justificativa que corre na região - e dá asas à imaginação -, seria do Ideflor-Bio, órgão estadual que administra a Unidade de Conservação de Proteção Integral, que se espraia ao longo de quase 260 mil hectares. Pelo que frequentadores da Ponta da Sofia e esportistas sabem e dizem, o motivo seria outro: o suposto favorecimento de um resort que, de tijolo em tijolo, está sendo plantado na área e detentora de empreendimentos semelhantes em outros Estados.

Fique claro desde já: a Gav Resort responde por três empreendimentos na região - Salinas Park Resort, Salinas Exclusive Resort e Salinas Premium Resort -, mas nenhum se localiza dentro da gigantesca porção de terras que virou motivo de conflito, onde foram vendidos lotes deixados como herança sustentados por documentos falsificados, em uma trama que a Justiça e o Ministério público investigam e motiva dezenas de ações judiciais envolvendo personalidades e cartorários. A praia cercada por estacas de madeira se encontra do lado oposto da estrada que dá acesso à Praia do Atalaia. A Ponta da Sofia já foi motivo de reportagens da Coluna Olavo Dutra no ano passado, conforme os links publicados abaixo:

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Praia da discórdia

A praia da região onde nasceu a infame cerca de madeira é conhecida localmente como Cocal de Fora, na parte mais isolada da Ponta da Sofia, usada por praticantes de uma modalidade de surf que atrai pessoas de todo o País. É a região à qual a coluna se referiu em duas oportunidades, uma delas dando conta de uma ação do Ministério Público que, pelo que se sabe, deu em nada, ou pela morosidade dos procedimentos, ou pela presença de pessoas consideradas “poderosas”, proprietárias de empreendimentos no local. Não há informações atualizadas do MP sobre o caso, como o Ideflor-Bio também se mantém isolado nas suas próprias convicções sobre a denúncia, uma prática corriqueira na administração estadual. As reclamações, porém, se avolumam nas redes sociais, até que alguém se digne a esclarecer a situação.

A novela tem várias versões e parece obscura ante a ausência de informações oficiais. O enredo duvidoso e se personificou no último final de semana na imagem de um portão com corrente e cadeado. É o recado de que na faixa de areia que se estende da Praia do Atalaia às proximidades da Ponta da Sofia é proibido ir e vir.

No vídeo recebido pela coluna, alguém questiona, de modo sarcástico, senão debochado, à guisa de instigar a curiosidade alheia: “Diga aí quem é o dono da praia?...” Também não passa despercebido o cadeado preso a uma corrente, denunciando a restrição e cuja instalação é atribuída pela comunidade ao Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará, o Ideflor-Bio.

Dono do pedaço?

O que se diz de ponta a ponta na Ponta da Social é que cerca é uma tentativa do Instituto para proteger a vida marinha, caso das tartarugas, sobretudo no período de desova - e nesta fronteira começam as controvérsias. O obstáculo estaria a serviço de um empreendimento particular construído dentro da área do Monumento Atalaia? Alguém deveria avisar. Seria mais uma ilegalidade ambiental? Alguém precisaria advertir.

“Sou daqui da praia. Outro dia, fui jogar uma rede para aquele lado, e o pessoal da fiscalização não me deixou passar. Eu disse que estava indo garantir a minha ‘boia’, mas não teve jeito: disseram que não podia por causa das tartarugas”, relata um atendente de barraca do Atalaia. “O que é estranho é que as tartarugas se movimentam de noite e eu estava indo pescar durante o dia”, explica.

Outro grupo insatisfeito envolve praticantes de esportes nas ondas da Ponta da Sofia e se manifestam em grupos de WhatsApp. O protesto é contra os órgãos de focalização, de quem, também eles, não receberam qualquer informação oficial sobre a medida, mas se sentem prejudicados pela proibição de ir e vir no espaço que exercitam suas habilidades.

Transparência zero

Impera no contexto das supostas irregularidades na Ponta da Sofia o silêncio oficial para denúncias formais. Moradores e especialistas têm se manifestado nos bastidores. Não é de hoje que a coluna tem dado voz a essas irregularidades, restando claro que “fazer ouvidos e mercador” virou prática comum e esconde a falta de transparência e de ações, inclusive e principalmente do Ministério Público.

Para se ter ideia, uma especialista na área ambiental que acompanha a ocupação do balneário ensina que “não é o movimento do dia que incomoda e gera impactos à fauna marinha, mas o tráfego de veículos durante a noite, no caso das tartarugas”, sem contar a ocupação desordenada, com imóveis e iluminação noturna, que deixa os espaços de nidificação às claras, perturbando e afugentando os animais área de conservação Monumento Natural do Atalaia.

Papo Reto

•Tem alguma coisa no ar que não é avião de carreira. A saída do secretário de Educação do Estado Rossieli Soares aponta para possível mudança no secretariado do prefeito de Belém, Igor Normando, do MDB, segundo sugerem observadores da cena.

Patrick Tranjan (foto), que veio de São Paulo com grande equipe para o time da Seduc, foi nomeado secretário de Educação de Belém, de onde saiu para assumir a Secretaria de Planejamento de Igor.

•Agora, por uma razão não esclarecida até o momento, Tranjan deve deixar o cargo, ou para assumir outro, ou acompanhar Rossieli no próximo endereço. É pura especulação.  

O que se sabe é que, ontem, em meio ao burburinho sobre a saída de Tranjan, o Gabinete de Igor Normando recebeu a visita de três nomes, um deles tido como próximo ocupante da Secretaria de Coordenação Geral do Planejamento e Gestão de Tranjan.

•São eles Marcelo Pereira Lobato, Marcus Vinicius Holanda e Silvio Darley Fernandes, que integram o time de Hana Ghassan na Secretaria de Planejamento do Estado.

O STF concluiu o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 982, concluindo que os tribunais de contas possuem competência para julgar contas de prefeitos que atuam como ordenadores de despesas.

• A decisão retira das Câmaras Municipais o poder de mudar decisões tomadas pelos TCEs. Assim, se a conta de um prefeito é desaprovada, não há mais como aprová-la em votação dos vereadores.

O Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública acusando o prefeito de Vitória do Xingu, Márcio Viana Rocha, do MDB, e mais sete pessoas, incluindo empresários e agentes públicos, por improbidade administrativa e suspeita de fraudes em licitação para compra de material de informática no valor de R$ 4,4 milhões. 

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Finalmente, o Pix automático entra no ar hoje, facilitando a quitação de contas como água, luz, telefone e mensalidades.

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