COP do Agro é cancelada e produtores denunciam "exclusão" supostamente patrocinada pelo Estado

Todos os contratos de aluguel para o evento, que aconteceria em Marabá, foram cancelados, fato que a Associação atribui à “perseguição política”, mas o governo do Estado se justifica.

13/06/2025, 09:30
COP do Agro é cancelada e produtores denunciam
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om a proximidade da Conferência do Clima da ONU, a COP30, em Belém, mais e mais grupos de interesses se mobilizam para ter suas vozes ouvidas antes do evento. O segmento do agronegócio também, mas para esse nicho, que se coloca como opositor declarado nas discussões e ações sobre mudanças climáticas -, o encontro terminou sem começar. Na sexta-feira, 6, a chamada "COP do Agro", prevista para Marabá, região sudeste do Pará, foi cancelada.

 

Desmobilização: presidente da Apria receberia, além do ex-presidente Bolsonaro, o presidente dos EUA e os governadores Romeu Zema e Ronaldo Caiado, em Marabá/Fotos: Divulgação.

A “COP do Agro” seria realizada em outubro próximo, um mês antes da Conferência em Belém, promovida pela Associação dos Produtores Rurais Independentes da Amazônia, a Apria, responsável por declarar o encontro cancelado.  

Os organizadores citam como motivos para o cancelamento a "perseguição política" do governo Helder Barbalho e a "desunião dos produtores rurais" que, segundo eles, “têm medo de se manifestar publicamente”.

A associação disse que eram esperadas cerca de 5 mil pessoas e que já havia mandado convites pessoalmente a Jair e Michelle Bolsonaro, do PL, que foram levados pelo deputado federal Delegado Caveira, PL, e o conselheiro ambiental da Apria. As presenças dos governadores Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), além de senadores e deputados federais ligados à Frente Parlamentar da Agropecuária, como Pedro Lupion (PP-PR), Silvia Waïapi (PL -AP) e Wellington Fagundes (PL-MT), também já estavam confirmadas.  

Sem lugar ao sol 

A secretária-geral da Apria, Ana Flávia Fagundes de Melo, conta que a Associação havia programado a “COP do Agro” no dia 27 de maio, para o Centro de Convenções Carajás, dias 3 e 4 de outubro, pagou o ‘sinal’ da reserva, mas recebeu o aviso de que o contrato do espaço seria rescindido.  

“Eles disseram que receberam uma notificação do governo estadual de que, em outubro e novembro, o local só poderia ficar disponível para eventos da COP oficial”, afirmou Ana Flávia. “O que é estranho, porque o nosso encontro seria a 570 km de Belém”, acrescentou. 

Procurado, o governo do Pará respondeu que "a Organização Social Pará 2000, que administra o Centro de Convenções Carajás, informa que o local está com agenda reservada para eventos oficiais da COP30 no período e foi preciso cancelar o contrato". 

A OS Pará 2000 é um ente privado sem fins lucrativos que atua na gestão de equipamentos turísticos do Estado. "O mesmo acontece no Hangar e na Estação das Docas, espaços também administrados pela OS. O valor adiantado foi devolvido à Associação, com a multa prevista", informou. 

Processo de exclusão  

O cancelamento foi interpretado como parte de um processo de exclusão deliberada do agronegócio paraense das discussões centrais da COP30. Representantes da cadeia produtiva local afirmam que o segmento, responsável por uma fatia expressiva da economia do Pará, foi ignorado pela organização oficial da Conferência Climática da ONU.   

Produtores rurais também acusam Helder Barbalho de evitar o debate com o setor, por não ter, segundo eles, respostas claras para questões consideradas sensíveis, como os impasses nas Terras Indígenas Apyterewa e Jamanxim, além do avanço da insegurança jurídica em áreas produtivas do Estado.  

Segundo informação publicada no Portal do Agronegócio, o Pará é um dos maiores exportadores de grãos, carne e minérios do País, e o sul do Estado concentra uma das fronteiras agrícolas mais ativas da Amazônia. Só em 2024, o Pará exportou cerca de US$ 750,5 milhões em carne bovina, o equivalente a 94 % das exportações de carne do Estado, representando um aumento de 46,7 % em relação a 2023.  

Apesar disso, o setor agropecuário local alega que não foi incluído nas comissões temáticas ou grupos de trabalho preparatórios da COP30 e, diante da exclusão, as lideranças pensaram em um plano alternativo de participação nas discussões ambientais da Conferência, ainda que fora da agenda oficial, no que seria a “COP do Agro”. 

Beco sem saída 

A Apria disse que tentou encontrar outros locais, mas "arrumaram uma desculpa" e não havia disponibilidade. Produtores rurais sugeriram fazer o encontro em algum local privado, porém, a Associação não se sentiu segura e “não quis correr o risco de o evento não acontecer, já que o custo é alto”.

A "COP do Agro" pretendia ser uma “frente narrativa” à Conferência da ONU, que “exclui o setor de discussões e o trata como vilão”. Eram previstos painéis sobre produção sustentável, regularização fundiária e segurança jurídica para produtores, por exemplo. 

O que seria  

A “COP do Agro” já estava ganhando força, quando passou a ter o apoio de Michelle Bolsonaro, por exemplo. O movimento da “COP do Agro” buscava dar voz às regiões produtoras. “Com a adesão de líderes políticos e representantes do setor, a COP do Agro se consolida como uma iniciativa relevante no cenário atual”, diz uma postagem do Instagram de maio passado.  

“A participação de Michelle Bolsonaro e de outras lideranças reforça o compromisso com a valorização do agro brasileiro e a necessidade de promover um diálogo construtivo sobre o futuro do setor. Esse evento é uma realidade em ascensão”, continuou. 

Trump convidado 

Em janeiro deste ano, enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, tomava posse, um advogado de Canaã dos Carajás enviava mensagens à deputada federal Silvia Waïapi (PL-AP), que estava em Washington, pedindo que ela convidasse Trump para a “COP do Agro”. Waïapi é uma deputada indígena filiada ao PL. Ela e mais de uma dezena de senadores, deputados federais e estaduais gravaram vídeos confirmando participação no evento, previsto para o início de outubro 

“O problema climático é global, e nós, amazônidas, não somos os culpados, mas somos penalizados”, afirmou o advogado Vinícius Borba, criador da Apria e principal organizador da “COP do Agro”, à época. 

Efeito estufa

O que a turma da Apria não fala é que dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, mostram que, no Brasil, 74% das emissões estão relacionadas de alguma forma ao setor agropecuário. Borba fez uma live no Instagram da Associação destacando que a eleição do republicano Trump era um “fio de esperança” para todos do setor.   Isso porque, em um de seus primeiros atos, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, que objetiva manter o aquecimento global do planeta abaixo de 1,5°C até o final do século. Também prometeu uma linha dura contra restrições ambientais. Questionado se a “COP do Agro” teria um viés de negacionismo climático, o advogado negou. “Os reais poluidores estão negando a questão climática”, afirma. 

Um dos principais entusiastas da “COP do Agro” era o senador Zequinha Marinho, do Podemos. Em dezembro do ano passado, ele acompanhou Vinícius Borba pelos corredores do Congresso Nacional e citou a presença de Borba durante uma reunião da Frente Parlamentar Agropecuária, braço institucional da bancada ruralista.  

Na ocasião, Marinho também convidou todos os membros da Frente para a “COP do Agro”. Para o senador, a COP30 é “controlada pelo ecoterrorismo ambiental”. 

Papo Reto

O mesmo governo que foi omisso na escandalosa fraude contra os velhinhos do INSS é o mesmo que clama à Justiça, agora, a suspensão de todas as ações de ressarcimento contra ele. Decisão de Lula (foto).

•A Advocacia-Geral da União alega que seria para "garantir a sustentabilidade da Previdência e evitar a insegurança jurídica causada por milhões de ações no País com prováveis resultados diferentes".

Quem duvida que a Justiça não acolherá o pedido? 

•Ou seja: que se lasque todo mundo porque o que importa mesmo não é a safadeza em si e seus efeitos danosos - que em qualquer lugar sério do planeta já teria levado centenas ao cárcere ou, em alguns casos, até mesmo à pena capital -, mas a saúde financeira da máquina governamental.

O atabalhoado governo Lula publicou nova Medida Provisória, agora substituindo o aumento do IOF pelo aumento de impostos das bets, visando "corrigir distorções, construir isonomia tributária e manter o equilíbrio fiscal".

•Olho no lance: a nova isenção na tarifa social de luz começa em julho, garantindo gratuidade no consumo de até 80 kWh mensais para inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais.

Claro, o custo dessa medida eleitoreira será bancado integralmente pelos demais brasileiros que pagam a tarifa cheia.

•Se o lendário Robin Hood e seu bando de homens leais aqui vivessem ficariam até com inveja.

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