olítica é um xadrez delicado. A velocidade com que se movem as peças às vezes prevalece sobre o movimento delas no tabuleiro. Outras vezes, é o oposto. Acompanhar para onde as mãos que definem o jogo se movem pode fazer com que os movimentos seguintes se tornem previsíveis.
Para os que acreditam que as pesquisas de um ano antes do pleito desenham desígnios irreversíveis, lembramos que, após o mensalão, o obituário da morte política de Lula foi publicado muitas vezes. O mesmo ocorreu após sua prisão. Mas o fato de ele ter vencido a eleição contra a máquina em 2022 mostra que sua força de chegada não pode ser ignorada. Por isso a definição de sua chapa continua tendo relevância, em que pesem os números negativos que tendenciam, novamente, a decretar a morte do presidente de véspera, como Peru do Círio de Nazaré.
É preciso ficar atento aos movimentos. Até o ano passado, o governador do Pará, Helder Barbalho, era um nome forte para a disputa do lugar de vice na chapa de Lula à Presidência. Vários gestos mostravam isso. A definição da COP30 no Pará, o aporte de recursos para garantir infraestrutura, o envolvimento da Itaipu Binacional no financiamento de obras em Belém, o apoio irrestrito do PT local ao governo e a visita de Macron e Lula à Belém demonstravam esse prestígio.
“Conspiração Nordeste”
O peso agigantado do Nordeste no destino eleitoral de uma eleição presidencial e a pouca relevância do Norte sempre trabalharam contra as pretensões de Helder em ocupar um lugar na chapa majoritária. Esse sonho parece ter chegado ao seu fim. O desenho que a política antecipa agora descreve um verdadeiro "xeque-mate" político: Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, seria vice de Lula e João Campos, atual prefeito de Recife, candidato a governador. Geraldo Alckmin, hoje vice, iria de volta a São Paulo e Kassab, o cacife de uma das maiores agremiações partidárias brasileiras, assumiria um ministério, provavelmente o da Previdência.
Nos bastidores da política nacional, um cenário começa a ser descrito como um verdadeiro "xeque-mate" estratégico para unir forças e atender interesses de diferentes campos partidários, promovendo estabilidade, governabilidade e alianças que podem redesenhar o futuro do Brasil.
Desenho pragmático
A proposta? Uma composição que coloca a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra como vice do presidente Lula em potencial candidatura à reeleição.
A movimentação surpreende, mas se justifica: Raquel traz força do Nordeste, simboliza renovação e equilibra a chapa com um nome de centro-direita respeitado nacionalmente. Ao mesmo tempo, João Campos (PSB), jovem prefeito do Recife e nome promissor da política nordestina, viria como candidato ao governo do Estado com apoio amplo e transversal - sobretudo do próprio presidente Lula.
No xadrez paulista, o ex-governador Geraldo Alckmin voltaria ao seu reduto político como candidato ao governo de São Paulo, enquanto o ex-prefeito Gilberto Kassab assumiria papel de destaque como ministro e coordenador da campanha nacional de Lula, representando um aceno claro ao PSD e ao centro político.
Perda de densidade
Fechando a costura com chave de ouro a deputada federal Priscila Krause, vice-governadora de Pernambuco e nome em ascensão, seria candidata ao Senado na chapa de João Campos, ampliando a representatividade feminina e consolidando uma frente ampla com apoio diversificado.
A articulação, se concretizada, pode garantir palanques fortes nos principais Estados, fortalecer a governabilidade e mostrar que, na política, os adversários de ontem podem ser os aliados decisivos de amanhã.
A Helder Barbalho resta disputar uma das vagas para o Senado, onde desponta como favorito. Em uma conjuntura de perda de densidade política e de acúmulo de desgastes desde o começo de 2025, se eleger senador seria o melhor dos mundos para o governador, que enfrentará uma disputa difícil para fazer seu sucessor.
Lula, eis a Quaest:
A entrevista de Carlos
Jordy à TV Globo sobre
a "exaustão" do governo
A frase de efeito “exaustão com a política”, que Carlos Jordy, do Instituto Quest, usa como “gancho” na entrevista concedida à TV Globo (vídeo), tem pontos a ponderar. Veja: se a exaustão com a política existisse, o número de abstenções aumentaria eleição após eleição a ponto de gerar o colapso do sistema eleitoral. O que parece existir é o contrário: existe uma adesão crescente da população à política, mas - e aí ele tem razão -, uma adesão imediatista. O eleitor quer que a política cumpra a promessa que liberais ou conservadores são incapazes de cumprir - garantir “a todos a sua parte” no bolo do crescimento econômico. E quer isso “agora”.
Somente a social-democracia europeia consegue isso e, sempre, em sistemas parlamentaristas, porque o presidencialismo é incapaz de colocar freios e contrapesos na política. O que existe - e nisso ele também tem razão -, é um acúmulo de erros táticos do governo, tanto de gestão quanto de política. Todos eles cometidos pelo ministro Fernando Haddad.
Culpa do Haddad
Haddad, que, tendo a máquina da Prefeitura de São Paulo na mão não conseguiu se reeleger, está tornando a reeleição de Lula cada vez mais difícil - não impossível, como ele insinua, porque Lula ainda é a maior liderança política do Brasil -, foi o mesmo que derrubou Dilma, ao produzir as mobilizações antigoverno que iniciaram com o aumento da passagem de ônibus em São Paulo em um momento em que a crise política só precisava de uma faísca para explodir.
Haddad não é um político, embora o PT insista em fazê-lo assim. Haddad é um técnico, um acadêmico - e quando se coloca um acadêmico em uma pasta-chave para a sociedade, as reflexões substituem o pragmatismo eleitoral que se precisa ter para garantir a continuidade.
Outro fator curioso que Jordy levanta é querer atribuir “segurança pública” ao governo federal, cuja responsabilidade constitucional é apenas garantir “recursos” para que os Estados operem, o que se dá em transferências automáticas, como acontece com a saúde.
É verdade que a imprensa não esclarece isso nem o governo federal enfatiza esse ponto e isso tem a ver com a inépcia do governo em se comunicar, por um lado, e com a adesão da quase totalidade da imprensa nacional ao discurso mudancista, que beneficia a direita.
Atribuir problemas de segurança ao governo federal é deslealdade intelectual pura é simples. Em tempo: Quest e a Paraná Pesquisa são os dois institutos que têm contratos generosos com União Brasil e PL, respectivamente. E foram eles que mudaram a matriz de avaliação que deixou de prever uma gradação entre “ótimo”, “bom”, “ruim” e “péssimo” para um maniqueísmo simples do “aprovo” ou “desaprovo”.
Papo Reto
•Saiu no Diário Oficial do Estado de hoje a exoneração do secretário Rossieli Soares do comando da Secretaria de Educação, a Seduc. A publicação traz uma novidade no mínimo intrigante: o Procurador-Geral do Estado, Ricardo Sefer (foto), passa a responder pelo cargo. Só Deus sabe porquê.
•A Globo News "traulitou" o secretário de Educação de São Paulo - também dono da Multilaser -, Renato Feder, pela "sucessão de escândalos" que provocou desgastes ao governo Tarcísio de Freitas.
•Renato Feder andou circulando em Belém no final de semana, provocando informações - aparentemente infundadas, até agora - de que assumiria a titularidade da Secretaria de Educação do Estado.
•Quem não está habituado reclama: o mês de junho chega à metade do calendário bafejando a Região Metropolitana de Belém com seus ventos frios e cortantes. Parece vento de montanha e sinaliza que julho vai arder.
•Da série "Se a inveja matasse..." baixa violência e qualidade de vida colocam Santa Catarina como o Estado mais seguro do Brasil, com apenas nove homicídios para cada 100 mil habitantes.
•Em segundo lugar no ranking, São Paulo registra 11,2 por 100 mil habitantes. Os dados são do Atlas da Violência 2025, produzido pelo Ipea em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
•Tragédia mais do que anunciada: a gastança do governo Lula fora da meta fiscal já ultrapassa a casa dos R$ 300 bilhões.
•Por falar em Lula, visivelmente irritado, o presidente chamou Hugo Motta no fim de semana para avaliar a insatisfação dos parlamentares com o aumento de impostos sem um plano claro de redução de gastos públicos.