Em Belém, onde o crime compensa, a história se derrete ante a falta de fiscalização e a impunidade

Nos últimos 24 anos, cerca de 30 peças de bronze foram surrupiadas de logradouros públicos, mas ninguém procura, ninguém foi preso.

Por Sebastião Godinho | Colaborador*

06/04/2024, 08:00
Em Belém, onde o crime compensa, a história se derrete ante a falta de fiscalização e a impunidade
V


inte e quatro anos se passaram desde o desaparecimento do busto de Rui Barbosa, erguido no centro da Praça Barão do Rio Branco, defronte à sede da OAB, no bairro da Campina. De lá pra cá, quase trinta peças confeccionadas em bronze sumiram de nossos logradouros sem que nenhum órgão da administração municipal ou outra instituição oficial, inclusive aquelas às quais a Constituição Federal atribui a responsabilidade de promover as medidas administrativas e judiciais para apurar responsabilidades em torno da questão, adotem qualquer providência.


Parte da asa da imagem que representa a História do Monumento à República e o lugar de onde o busto de Rui Barbosa sumiu/Fotos: Divulgação.

Se hoje existe um inquérito policial aberto para tentar esclarecer esses crimes, deve-se à iniciativa da Comissão Especial de Defesa do Patrimônio Histórico de Belém do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, que chamou para si essa tarefa, em face da irresponsável omissão do poder público municipal.

 

Sumidouro de história

 

Em outubro do ano passado, mais um item foi acrescentado à essa triste lista de bens perdidos, quando ladrões fracionaram e furtaram a extremidade da asa da imagem que representa a História do Monumento à República, do centro da Praça homônima. 

 

Não é a primeira vez que o ícone foi alvo da cobiça de ladrões.  Antes, em data ainda não precisa, parte da túnica que ficava suspensa a partir da base onde a figura se acha sentada sobre grossos volumes foi quebrada e sumiu para nunca mais ser encontrada.  Ninguém jamais comentou sobre o assunto. Um silêncio sepulcral se abateu sobre a ação criminosa, como, aliás, sempre ocorreu em torno do sumiço das demais peças.

 

Bastou uma pequena nota com fotos numa página eletrônica de um órgão da assim chamada grande imprensa para que a questão despertasse subitamente o interesse de alguns setores que, ao que tudo indica, estavam adormecidos até então.  

 

Bustos surrupiados

 

E foi a sonolência dessas instituições que deveriam, reitero, por dever constitucional, zelar, guardar e preservar a integridade desses bens, e, por outro lado, fiscalizar a atuação dos poderes a cuja guarda esses tesouros estão tutelados que favoreceu a ação audaciosa dos bandidos que, nesse longo período, surrupiaram quatro bustos com as imagens de Rui Barbosa, Barão do Rio Branco, Osvaldo Cruz e Antônio Marçal, uma estátua, a do Escoteiro, assinada por Humberto Cavina; vários medalhões, uma placa com a efígie do maestro italiano Ettore Bosio, duas imagens devidas ao cinzel de ninguém menos do que Bruno Giorgi, além de peças de adornos, placas e caracteres, todos com uma particularidade em comum: eram fundidos em bronze. 


Como se sabe, o bronze é um dos metais mais valiosos no mercado clandestino de ferro-velho, daí resultando essa sanha iconoclasta que parece não ter fim.

 

Impunidade em alta

 

Apesar do tempo e do número de peças furtadas, ninguém nunca foi preso. A impunidade tem incentivado a prática continuada dessas subtrações que, curiosamente, pra dizer o mínimo, não despertam nem mesmo a indignação daqueles que, por sua omissão, deveriam, sim, responder por tão notória e censurável negligência.  

Por tudo isso, notadamente pela inércia das autoridades, não temos como deixar de reconhecer: Em Belém, o crime compensa!


 


Pesquisadores montam
propostas para conferência
nacional que acontece em
Belém, em junho deste ano

 

As instituições de pesquisa da região, lideradas pela recém-criada Subsecretaria de Ciência e Tecnologia para a Amazônia, estão mobilizadas na construção de propostas para a V Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorre em junho e vai ditar as estratégias que serão executadas na área no período 2024 a 2030.

 

Sustentável e inclusivo

 

A articulação se dá nas conferências livres. O Museu Paraense Emílio Goeldi esteve à frente de duas delas realizadas nesta semana, que resultaram em uma proposta intitulada “Amazônia - para um futuro sustentável e inclusivo”. O documento chama atenção para a necessidade de recuperar, expandir e consolidar o sistema de CT&I na Amazônia e a importância desse campo para o desenvolvimento socioeconômico da região.

 

Interação de conhecimentos


Outro destaque é o enfoque na Tecnologia Social, que abrange iniciativas caracterizadas pela interação entre conhecimentos tradicionais, populares e científicos e que fornecem soluções de baixo custo e reaplicáveis para questões como a segurança alimentar, o acesso à água e esgoto e a melhoria da produção agrícola.

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