m
outubro de 2023, a coluna mostrou um suposto - mas muito evidente - caso de
crime ambiental na Praia de Ajuruteua, em Bragança, em situação que envolvia
uma tubulação instalada na faixa de areia e deságua em um manguezal. A
tubulação foi instalada pela empresa Amazon, prestadora de serviço da
prefeitura do município.
Passados
quase cinco meses e apesar do grave atentado ao ecossistema litorâneo, à fauna
e à flora, as autoridades parecem ter tornado invisível a denúncia feita por
moradores, que temem por diversos outros problemas derivados da poluição do
manguezal.
“As
pessoas têm medo de falar e de represálias, mas a verdade é que estão
contaminando. Caranguejos, mexilhões e sarnambis estão sendo envenenados e, de
alguma forma, a água do mangue vai bater no oceano e acaba por contaminar tudo.
Quem garante que os restaurantes não estão servindo caranguejos contaminados?”,
questiona um morador.
O discurso e a prática
Como
garantiu o texto da Agência Pará de 23 de dezembro de 2023, “ao valor de R$ 12
milhões”, o Estado entrega a nova orla da praia de Ajuruteua com a presença do
governador Helder Barbalho”. Em um trecho do comunicado, segue a garantia de
uma “área urbanizada, drenada e pavimentada”. Algo passou batido na informação.
A cidade de Bragança está inserida em uma região detentora de uma das maiores
reservas de manguezais do mundo e forte presença da Universidade Federal do
Pará, que mantém em Bragança um mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Biologia Ambiental na linha de manguezais.
No
dia da inauguração, em dezembro do ano passado, no calor do discurso, o
governador Helder Barbalho destacou Ajuruteua como um “lugar tão fantástico”
que traria mais turistas e investimentos e fortaleceria a economia. Feito o
dever de casa no componente midiático, o governador fez uma caminhada pela
orla, mas parece ter ignorado a contaminação a partir do despejo de esgoto na
área do Porto do Guarás. Normal: Helder é político, não engenheiro e fez o que
sabe fazer.
Sem banheiro público
O
escândalo da contaminação do mangue traz a reboque um odor insuportável, de
esgoto, pelas ruas de Ajuruteua. Alguns moradores dizem que as caixas e as
instalações de tubulações destinadas ao fluxo de esgoto estão sob suspeitas.
“As caixas estão se desfazendo por conta da qualidade do material e da obra”,
critica um morador,
Durante
a inauguração, dez quiosques teriam sido entregues aos permissionários, mas
muitos outros não estão funcionando e teriam virado banheiros, sobretudo aos
finais de semana. “As pessoas vêm à praia e acabam fazendo as necessidades
dentro dos quiosques fechados. Não tem banheiro público, não tem alternativa”,
diz outro morador.
Piada pronta
Nesse
episódio, vem uma das mais marcantes contradições: a gestão do prefeito
Raimundo Nonato de Oliveira é responsável pela obra da tubulação, mas mantém
uma propaganda sobre o período de defeso do caranguejo (imagem). No
mínimo é a certeza da impunidade.