Esgoto da nova orla da Praia de Ajuruteua deságua em área de manguezal e contamina meio ambiente

Moradores denunciam suposto crime e má qualidade da obra, que começa a se desfazer; falta de banheiros públicos na praia contribui no despejo irregular no interior do mangue.

09/03/2024, 08:00

Governador esteve na inauguração, caminhou na praia, elogiou e fez discurso, mas não viu a saída de esgoto apontada diretamente para o mangue/Fotos: Divulgação.


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m outubro de 2023, a coluna mostrou um suposto - mas muito evidente - caso de crime ambiental na Praia de Ajuruteua, em Bragança, em situação que envolvia uma tubulação instalada na faixa de areia e deságua em um manguezal. A tubulação foi instalada pela empresa Amazon, prestadora de serviço da prefeitura do município.

 

Passados quase cinco meses e apesar do grave atentado ao ecossistema litorâneo, à fauna e à flora, as autoridades parecem ter tornado invisível a denúncia feita por moradores, que temem por diversos outros problemas derivados da poluição do manguezal.

 

“As pessoas têm medo de falar e de represálias, mas a verdade é que estão contaminando. Caranguejos, mexilhões e sarnambis estão sendo envenenados e, de alguma forma, a água do mangue vai bater no oceano e acaba por contaminar tudo. Quem garante que os restaurantes não estão servindo caranguejos contaminados?”, questiona um morador.

 

O discurso e a prática

 

Como garantiu o texto da Agência Pará de 23 de dezembro de 2023, “ao valor de R$ 12 milhões”, o Estado entrega a nova orla da praia de Ajuruteua com a presença do governador Helder Barbalho”. Em um trecho do comunicado, segue a garantia de uma “área urbanizada, drenada e pavimentada”.  Algo passou batido na informação. A cidade de Bragança está inserida em uma região detentora de uma das maiores reservas de manguezais do mundo e forte presença da Universidade Federal do Pará, que mantém em Bragança um mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental na linha de manguezais.

 

No dia da inauguração, em dezembro do ano passado, no calor do discurso, o governador Helder Barbalho destacou Ajuruteua como um “lugar tão fantástico” que traria mais turistas e investimentos e fortaleceria a economia. Feito o dever de casa no componente midiático, o governador fez uma caminhada pela orla, mas parece ter ignorado a contaminação a partir do despejo de esgoto na área do Porto do Guarás. Normal: Helder é político, não engenheiro e fez o que sabe fazer.

 

Sem banheiro público

 

O escândalo da contaminação do mangue traz a reboque um odor insuportável, de esgoto, pelas ruas de Ajuruteua. Alguns moradores dizem que as caixas e as instalações de tubulações destinadas ao fluxo de esgoto estão sob suspeitas. “As caixas estão se desfazendo por conta da qualidade do material e da obra”, critica um morador,

 

Durante a inauguração, dez quiosques teriam sido entregues aos permissionários, mas muitos outros não estão funcionando e teriam virado banheiros, sobretudo aos finais de semana. “As pessoas vêm à praia e acabam fazendo as necessidades dentro dos quiosques fechados. Não tem banheiro público, não tem alternativa”, diz outro morador.

 

Piada pronta


Nesse episódio, vem uma das mais marcantes contradições: a gestão do prefeito Raimundo Nonato de Oliveira é responsável pela obra da tubulação, mas mantém uma propaganda sobre o período de defeso do caranguejo (imagem). No mínimo é a certeza da impunidade.

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