Pará lidera índice de informalidade no País e quem está dentro não quer sair do negócio

Com índice de mais de 58%, Estado liderou ranking nacional, cuja média é de 38,6%; Belém concentra a maior parte desses trabalhadores, que parecem parados no tempo.

24/03/2025, 11:00

Rosa e Luís Carlos atuam no mercado informal que, em Belém, tomam ruas do Centro Comercial, onde é difícil circular e até ver o céu/Fotos: Divulgação.


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pesar da geração recorde de empregos formais, inclusive no território paraense, a fatia de trabalhadores sem registro formal de trabalho nunca foi tão alta em todo o Brasil. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua trimestral do IBGE, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O estudo mostra que o Pará lidera, com 58,1%, o índice de informalidade no setor entre todos os Estados do Brasil.

O índice paraense está, inclusive, bem acima da média nacional, que é de 38,6%. Os dados do IBGE refletem um mundo onde milhares de pessoas podem até garantir o sustento do dia a dia com a dignidade da atividade que desempenham, mas refletem, também, uma realidade dura, onde esses trabalhadores seguem à margem de direitos fundamentais como acesso à Previdência Social, férias remuneradas, 13º salário e seguro-desemprego.

Belém é a Meca

Na capital paraense, não é preciso andar muito para constatar a realidade mostrada pelo IBGE. Em todos os bairros, calçadas e até ruas inteiras são tomadas, cada vez mais, por pessoas que recorrem à venda dos itens mais feirantes, por conta própria, dada a necessidade de sobrevivência. Na linguagem clara, viram camelôs, ambulantes e até artistas de rua - com o tempo de um semáforo para fazer seu show.

A avenida João Alfredo, que um dia já foi a maior referência da memória portuguesa na cidade, é um dos maiores exemplos de quanto a informalidade segue sem controle no Pará. O vídeo feito a pedido da Coluna Olavo Dutra no centro da avenida mostra que já quase não se vêem pedras portuguesas ou mesmo o céu, porque o cenário agora é de apenas de roupas, brinquedos, bijuterias, sapatos e tudo mais que possa ser vendido no local.

Daqui não saio

Rosa Maria da Silva gerencia a barraca de bijuterias e joias junto com sua filha. Conta que ganha um salário como pensionista, mas viu na informalidade uma maneira de melhorar a renda. "Aqui sempre foi muito tranquilo. Nunca me roubaram, não mexem nas nossas coisas e todo mundo se conhece e se dá bem. E a clientela ainda é muito boa. Não tenho do que me reclamar".

Há 20 anos no mercado formal, Luís Carlos Corrêa conta que registra os riscos de trabalho por conta própria. “Sei que falta décimo (terceiro), férias, INSS. Mas, por outro lado, sou dono do meu próprio negócio. Viajo quando quero, folgo quando dá e Deus vai me dando saúde para trabalhar sempre. Sei que o ideal era abrir uma loja, mas a carga tributária não permite isso. Então, a gente vai arranjando por aqui mesmo”.

Um incidente entre Rosa Maria e Luís Carlos também remete a outro dado interessante apontado pela pesquisa do IBGE. Nenhum deles trocaria, hoje, a informalidade pela garantia de um trabalho com carteira assinada. De acordo com os dados, mais de 80% das pessoas estão na informalidade por escolha própria.

Parado no tempo

Prova disso é que o Pará vive, segundo o IBGE, o maior nível de geração de emprego formal desde 2012. Mesmo assim, a informalidade é maior entre os Estados brasileiros. Pesa para isso, ainda, uma queda na diferença de rendimento entre trabalhadores formais e informais. Em 2015, os empregados de empregados com carteira supera em 73% desses sem carteira. No final de 2024, essa diferença caiu para cerca de 31%.

No Pará, o percentual de informalidade acima dos 50% faz parte do cenário local desde que o IBGE iniciou uma série histórica de pesquisas no setor. Ou seja, é uma atividade tão antiga quanto intensa. Neste contexto, é preciso levar em conta, também, o baixo acesso à educação. Quase sempre, a informalidade aumenta quando um trabalhador com baixa escolaridade e pouca qualificação precisa escolher entre um emprego formal com salário mínimo e uma ocupação informal com potencial de dobrar o rendimento.

A comodidade de garantir a renda do dia a dia por meio da informalidade leva a uma outra preocupação. A estagnação da qualificação dos jovens. Isso tem levado empresas do setor privado a terem, cada vez mais, dificuldade em contratar mão de obra comprometida.

“Para trabalhadores das periferias, consigam um emprego que pague mais que um ou dois períodos mínimos é raro, e as vagas formais não oferecem oportunidades reais de crescimento”, diz Renato Meirelles, fundador do Data Favela. Ele aponta que a solução passa por políticas como o aumento do salário mínimo - imposto pelo governo Lula -, que torna o emprego formal mais atraente e impacta até a renda dos informais, já que o piso serve de referência para o mercado.

Papo Reto

·Fonte ligada a Simão Jatene (foto) garante que o ex-governador continua sem partido, confirmando o posicionamento orientado pela direção do PL no Pará à coluna.

·O detalhe é que o ex-governador, que parecia ter se aposentado na vida pública, tem conversado com grupos políticos articulando uma possível candidatura em 2026 - mas não ao governo do Estado.

·Verdade seja dita: a Justiça de Marabá acabou de suspender a compra de um carro blindado para a Prefeitura de Marabá.

·O veículo não serviria ao prefeito Toni Cunha, como se diz, mas a autoridades públicas que eventualmente visitarão a cidade.

·A área jurídica da Prefeitura de Ananindeua alerta que não houve uso de inteligência artificial no caso da representação do PGJ Cezar Mattar.

·Nem foi preciso, em outras palavras, tão escancarada foi a cópia. Ninguém nega, porém, o uso desse recurso na esfera jurídica e nas universidades, entre outros setores .

·O Conselho Federal de Medicina já investiga, por meio de um comitê técnico, como a fé e a prática da espiritualidade interferem na prevenção do envelhecimento e na evolução positiva dos pacientes.

·No Brasil faz de conta, o Conselho Nacional de Justiça liberou pagamento mensal de até R$ 46 mil para penduricalho de juízes, mas disse que o "mimo" não afeta outros tribunais.

·Com justa razão, entidades policiais então caíram de pau no ministro da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que teve a audácia de proferir que “o Judiciário solta porque a polícia prende mal”.

·Como já era previsto por dez em cada dez juristas, o ministro Alexandre de Moraes foi obrigado a arquivar o pedido do PT para investigar e apreender o passaporte do deputado Eduardo Bolsonaro por falta de justificativa legal.


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