MP denuncia ex-diretor da Hileia Hélio Melo por estelionato em compra milionária de trigo

O empresário é acusado de simular compras e receber R$ 1,5 milhão, mas produto não chegou à fábrica da empresa.

28/02/2025, 08:50
MP denuncia ex-diretor da Hileia Hélio Melo por estelionato em compra milionária de trigo
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fastado em dezembro do ano passado da direção da empresa Hileia por uma decisão judicial, o agora ex-diretor Hélio Moura Melo Filho foi denunciado por crime de estelionato pelo Ministério Público do Estado após extensa investigação no capítulo da briga empresarial que ficou conhecido como "trigo fantasma". Hélio também presidiu a Junta Governativa que assumiu o controle da Fiepa por decisão da Justiça do Trabalho.  

Segundo a denúncia do Ministério Público do Estado, empresário apresentou documentos falsos e notas frias na operação que nunca aconteceu/Fotos: Divulgação.
O empresário é acusado de simular operações de compra de 8 mil sacos de trigo junto a um moinho do Paraná, transação pela qual recebeu mais de R$ 1,5 milhão em recursos de fundos de investimento, mas nenhum grão chegou à fábrica da empresa.

Documentos falsos

De acordo com o Inquérito Policial nº 00280/2023.100682-4, que resultou no Processo 0810106-39.2024.8.14.0015, Hélio Filho teria falsificado os documentos fiscais para comprovar as transações inexistentes no valor exato de R$ 1.579.200,00, cifra que segundo a investigação pode ter sido destinada diretamente para as contas pessoais do ex-diretor.

A investigação apurou que foi do próprio Hélio Melo Filho a assinatura do canhoto de recebimento das mercadorias, como se o trigo tivesse sido entregue a ele na cidade de Pato Bragado, no Paraná, quando, na realidade, Hélio estava na cidade de Castanhal, onde ficam as operações centrais da Hileia. Trocando em miúdos: Hélio atestou um recebimento de mercadoria que nunca ocorreu.

E notas frias

Para concretizar a fraude, na suposta venda foram emitidas 16 notas fiscais em nome da Hileia, das quais 12 foram negociadas com seis fundos de investimento diferentes. Porém, a emissão das notas se deu contrariando as normas internas da própria empresa, sem a devida autorização estatutária, já que a Hileia não tinha ciência da negociação, feita unilateralmente por Hélio Melo Filho.

A empresa só tomou conhecimento da fraude ao receber as cobranças dos fundos investidores da operação, em outubro de 2022, quando parte dos acionistas denunciou a situação, investigada por quase três anos, até a formalização da denúncia pelo MP, pela qual o empresário poderá responder criminalmente, com penas que vão de prisão a multas. A defesa de Melo Filho ainda não se manifestou sobre as novas acusações.

Afastamento forçado

Em janeiro deste ano, uma assembleia geral extraordinária da Hileia decidiu pela suspensão dos direitos políticos do empresário Hélio Moura Melo Filho, impedindo sua participação na gestão da companhia. A decisão foi tomada por ampla maioria dos acionistas, considerando os riscos financeiros e reputacionais para a empresa.

A decisão de decidir pelo afastamento que permitiu a realização da assembleia de janeiro foi tomada em dezembro passado pelo Tribunal de Justiça do Pará. Na ocasião, o desembargador Alex Centeno julgou um agravo e restituiu aos postos de diretores da empresa Pedro Araújo, Silvio Gabriel e Maria Luzinete Araújo.

Agora, com mais essa denúncia, os acionistas da Hileia argumentam que as evidências são consistentes e demonstram um padrão de condutas irregulares na gestão da empresa.

Mancha no legado

Filho de um dos sócios fundadores, Hélio Melo herdou o controle da empresa com os irmãos. O outro braço da gestão, da família Gabriel, entrou na Hileia em 1994, quando o engenheiro mecânico Sílvio Gabriel, envolvido com a empresa como técnico desde seu estágio na faculdade, assumiu a diretoria Industrial. Em setembro de 2012, com o falecimento de Sílvio Gabriel, a direção industrial foi transferida para seu irmão, Sérgio Gabriel.

Na família Araújo, Odilardo Júnior havia iniciado como estagiário na Hileia em 1987 e, ao ser efetivado, assumiu uma posição na área administrativo-financeira, crescendo dentro da empresa. Hoje, a família Araújo é representada pela holding “Araújo Participações". A família Melo segue com Hélio Melo Filho como acionista principal, junto com os irmãos.

Persona non grata

Antes de ser expulso da Hileia, Hélio Moura Filho também foi afastado da Federação das Indústrias do Pará, a Fiepa, por outra decisão judicial. Os detalhes da briga de família em torno do controle da Hileia foram divulgados há um ano, em março do ano passado, com exclusividade pela Coluna Olavo Dutra.

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Papo Reto

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