elém e Brasília - A menos de seis meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30, a rede hoteleira de Belém enfrenta uma pressão crescente do governo federal para baixar preços e ampliar a oferta de leitos.
O governo também exige que o setor garanta tarifas mais acessíveis para as comitivas oficiais. A cobrança é mais um capítulo da crise, não tão silenciosa, que se arrasta desde que Belém foi apontada como a sede da COP com o menor número de leitos hoteleiros entre as cidades que já receberam a conferência.
Meia solução
Ao longo da semana, o anúncio também feito pelo governo federal da contratação da empresa Bnetwork como plataforma oficial da COP30 foi apresentado como solução para mapear e organizar a oferta de hospedagem. A empresa, com histórico em outras edições da conferência, promete integrar hotéis, imóveis de temporada e até leitos em navios.
Contudo, a própria liberação do sistema está condicionada à conclusão de um inventário de leitos, que ainda não foi finalizado, deixando o cenário incerto para milhares de participantes que virão a Belém.
‘Não somos vilões’
Na prática, a exigência de Valter Correia - que pode aumentar, dependendo da adesão de hotéis fora da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Pará -, coloca a hotelaria local sob intensa pressão. Representantes do setor argumentam que o desafio vai além de vagas: envolve qualificação, infraestrutura e custos operacionais que cresceram exponencialmente diante da alta demanda.
“Estamos tentando viabilizar a COP, mas não podemos ser vistos como vilões. É preciso reconhecer os limites da rede hoteleira local”, afirmou um empresário do setor que pediu anonimato, logo ao sair da tensa reunião.
A expectativa é que novas rodadas de negociação ainda sejam realizadas, mas o recado do governo está dado: se o mercado não colaborar, medidas mais duras poderão ser adotadas, incluindo controle de preços e até requisições de leitos para garantir o sucesso da conferência.
Pressão acelerada
A pressão sobre a hotelaria de Belém para ampliar a oferta de leitos esbarra em outro obstáculo crítico: as obras lentas dos grandes hotéis e a incerteza, embora negada recentemente pela CDP, sobre o uso de cruzeiros no Porto de Outeiro como solução paliativa para a hospedagem durante a COP30.
Prometidos como reforço estratégico para a rede de hospedagem durante a conferência, os empreendimentos hoteleiros de grande porte avançam em ritmo preocupante. Canteiros de obras seguem em marcha lenta, sem garantias de que estarão concluídos a tempo para novembro, quando Belém receberá mais de 40 mil participantes da cúpula do clima.
Incerteza flutuante
A promessa de utilizar navios de cruzeiro ancorados no Porto de Outeiro para acomodar parte das delegações internacionais também entrou no radar de incertezas. Até agora, não há garantias de que a infraestrutura portuária estará pronta para receber os navios. O Porto de Outeiro, que deveria ser adaptado para a operação, ainda apresenta sinais de abandono: não há movimentação visível de obras, e somente há poucos dias a obra necessária para atracar embarcações de grande porte foi licitada.
Especialistas do setor portuário apontam que a adaptação do terminal exige intervenções complexas, como reforço de píer, sistemas de abastecimento, segurança e transporte terrestre adequado para escoar o fluxo de passageiros entre Outeiro e o centro de Belém. “Sem obras, sem cruzeiro. Prometer cruzeiro sem porto é como vender passagem de avião sem pista de pouso”, ironizou um engenheiro portuário ouvido pela reportagem.
Otimismo, afinal?
Enquanto isso, o governo mantém a narrativa otimista. O secretário Valter Correia reforçou na reunião do setor hoteleiro que a equipe trabalha “dia e noite” para viabilizar as soluções de hospedagem, mas evitou detalhar prazos concretos para a finalização de obras e a definição de contratos com cruzeiros.
Fonte da Coluna Olavo Dutra garante que outro problema gritante é a falta de plano de contingência para uso dos navios, por exemplo, por chefes de Estado. “Os protocolos de segurança para chefes de estado não têm como absorver uma hospedagem dessas. Como o chefe de um país vai ficar em um navio completamente exposto a um eventual ataque? Por onde essa autoridade vai se deslocar em uma emergência? Complicado; estão brincando com coisa séria”, diz a fonte.
Pé no freio
A situação dos leitos ainda é crítica. No final de abril, um levantamento publicado pelo “Jornal de Brasília” apontava que a capital paraense ainda tinha cerca de 14 mil leitos a menos do que o necessário para atender à demanda prevista. Os números reforçam o alerta sobre o risco de preços abusivos e sobrecarga na infraestrutura local.
Dois meses antes, em fevereiro, o próprio secretário Valter Correia deu um termômetro da situação. Em entrevista ao Portal ClimaInfo, ele disse que os governos precisavam “baixar a bola” e repensar o tamanho das delegações, em uma tentativa de aliviar a pressão logística e evitar um colapso na cidade.
A linha parece ter sido seguida. A fonte da coluna garante que Israel, país desenvolvido e disposto a investir na Amazônia, pediu ajuda ao Comitê Estadual da COP30 para trazer uma delegação de 180 pessoas, entre chefes de estado, empresários e investidores, mas o responsável pelo contato teria sido aconselhado a reduzir o número para módicas dez pessoas.
No colo do visitante
Para o setor hoteleiro, a situação é um campo minado. Além de ter que segurar preços sob pressão, os hotéis locais ainda são cobrados a compensar os atrasos de obras que deveriam ampliar a capacidade da cidade. Empresários se queixam de que não há diálogo claro sobre como o uso de navios afetaria a demanda por hospedagem em hotéis e imóveis, criando um ambiente de incerteza que impacta a gestão de reservas e a política de preços.
Enquanto isso, o clima entre governo e setor hoteleiro segue tenso - e a conta, mais uma vez, pode acabar no colo do visitante.
Papo Reto
·O que se diz é que o Vaticano estuda uma programação casada do Papa Leão XIV (foto), em novembro. O Santo Padre viria para a COP30. em Belém, e visitaria o Peru, país em que viveu e adquiriu cidadania.
·Governo e Igreja estão demandando todos os esforços diplomáticos para ter a presença do Papa na capital paraense.
·Dom Alberto Taveira questionou a permanência de dom José Azcona na Prelazia do Maranhão, depois de anunciada sua aposentadoria compulsória. ·Para o arcebispo, a presença do prelado aposentado na ilha poderia atrapalhar o trabalho do pastor indicado para substituí-lo. Então, tá.
·Faça o que eu mando, não faça o que eu faço: rumores nos bastidores do clero de Belém dizem que a regra que valia para Dom Azcona não vale para Dom Alberto Taveira, que decidiu estabelecer morada definitiva em Belém, mesmo depois de passar o báculo para o seu substituto.
·Dom Alberto vai residir no Tabor, no Distrito de Icoaraci, casa de retiro da Arquidiocese de Belém.
·As almas inquietas e escravas dos prazeres desenfreados da carne festejam a inauguração do primeiro motel na Ilha do Combu.
·A embarcação NS-42, que vai ser usada na simulação de um vazamento de óleo no bloco 59 na Foz do rio Amazonas, sairá do Rio de Janeiro para a margem Equatorial, onde a Petrobras planeja perfurar.
·O exercício deve cumprir uma das exigências do Ibama para liberar a licença de exploração na região, o que pode acontecer até o mês de julho.
·O governo brasileiro contratou a empresa Bnetwork, com experiência em eventos internacionais de grande porte, para ser a plataforma oficial de hospedagem na COP30, em novembro de 2025, em Belém.
·Essa mesma empresa já atuou na COP em Dubai, em 2023, nos Emirados Árabes Unidos, e em Baku, em 2024, no Azerbaijão.
·O objetivo é facilitar o acesso a oferta de hospedagem durante o evento em só ambiente digital, leitos disponíveis em hotéis e imóveis particulares.
·A liberação da ferramenta está condicionada à conclusão do processo de inventário da capacidade de hospedagem da cidade, que está sendo concluído.