Com tecnologia precária e contratos sob suspeita, o poço parece que não tem fundo no Banpará

Em apenas três contratos, banco torra quase R$ 100 milhões, ao passo em que não atende nem seus clientes nem o controlador nacional, o Banco Central.

26/05/2025, 08:00

O sinal de alerta foi ligado pelo governo no banco estadual depois das declarações do diretor de TI/Fotos: Divulgação.


A


utonomia é uma palavra que anda em alta nos bastidores do Banco do Estado do Pará, o Banpará - seja pelo silêncio sepulcral diante das declarações comprometedoras do diretor de Tecnologia da Informação fez, recentemente - sobre a precariedade da infraestrutura interna e o caos provocado no sistema de fibra ótica da instituição ou por conta das obras da COP30 -, seja pela conivência do Banco Central, que cala diante do sistema obsoleto e inoperante que o banco insiste em usar.

Não à toa, ou por razões não esclarecidas, o governador Helder Barbalho determinou a dois auxiliares - os secretários da Fazenda, Renê Souza Júnior, e de Obras, Adler Silveira, integrantes do Conselho de Administração -, uma devassa no Banpará, onde a insatisfação de servidores e clientes cresce proporcionalmente aos problemas diários, em Belém e no interior, ligados à rotina bancária que praticamente não se vê ou são raras na rede bancária e ameaçam a credibilidade da instituição estatal, principalmente junto ao Banco Central.   

Desde 2019, o Banco Central do Brasil vem apontando, de forma reiterada, diversas deficiências nos sistemas e na infraestrutura de tecnologia do Banpará. Tais apontamentos têm evidenciado limitações estruturais que comprometem a eficiência operacional da instituição e o cumprimento tempestivo de suas obrigações regulatórias. Mas, o que faz o controlador nacional além de ‘apontar falhas'?

Esses apontamentos alertaram para falhas sérias na governança da tecnologia da informação - a falta de planejamento e riscos operacionais suficientes para comprometer o funcionamento do banco. Já em 2019, era necessário melhorar os sistemas, revisar contratos com fornecedores e adotar medidas urgentes de atualização do parque tecnológico. Além de ser uma exigência regulatória, essa renovação seria essencial para que o banco acompanhasse as novas exigências do mercado e dos próprios clientes.

Capacidade tecnológica

A partir de 2020, com o avanço da agenda de inovação do Banco Central, novas resoluções e normativas passaram a exigir das instituições financeiras maior capacidade tecnológica, interoperabilidade sistêmica e adaptação a padrões mais modernos de segurança, governança de dados e entrega de serviços digitais.

O lançamento do Pix, a implementação do open finance e a crescente exigência de integração com plataformas regulatórias em tempo real tornaram indispensável a modernização da infraestrutura tecnológica. Mas parece que o Banpará desceu do bonde no meio do caminho e, ainda hoje, faz penar quem depende do banco até mesmo para os serviços mais simples.

Falta de controle?

Chama a atenção no Banpará, também, a autonomia excessiva da área de TI, que estaria atuando sem o devido acompanhamento da gestão superior. Há relatos de que nem mesmo a presidência do banco possui forças para intervir no setor. Carlos Alexandre Silva, o diretor de TI que 'disse o que disse' em entrevista sobre o caos que ronda o setor sem sofrer qualquer advertência que o diga.

Haja dinheiro

Para além do caos, os novos contratos firmados para tentar melhorar o setor e os serviços que dele dependem acendem novos alertas sobre as políticas de governança do Banpará. A licitação do novo serviço de Internet Banking é um deles.

Realizada por meio do Pregão Eletrônico SRP nº 026/2024, o processo foi vencido por um consórcio intitulado SVTECH formado pelas empresas Sofintech (Fonseca & Rocha) e Voxdata Technology - duas companhias de pequeno porte que, segundo fontes internas, não têm qualquer experiência comprovada em grandes projetos do setor bancário. Ainda assim, o contrato de prestação de serviços foi fechado pela bagatela de R$ 84 milhões.

Mais estranho ainda é que o consórcio vencedor foi criado durante o andamento do processo licitatório. Para muitos, um sinal de que algo pode ter sido ajustado nos bastidores e que o certame pode ter sido direcionado. Mas isso é apenas “o que acham” os meros mortais que trabalham na instituição.

Outro contrato que chama a atenção é o fechado na área de internet banking com a mesma Sofintech (Fonseca & Rocha) por meio de adesões de Ata de Registro de Preços via Prodepa. E o poder da Sofintech é tão grande dentro do Banpará que, por meio dela, também abocanharam generosas contratos com o banco outras três empresas, a saber:

A IronBR, responsável por um projeto de Data Center Modular no valor de R$ 23,9 milhões; a QOS Tecnologia, que ganhou um contrato de R$ 17,3 milhões na área de segurança da informação; e a 3Structure IT, contratada por R$ 57,3 milhões para fornecer servidores e infraestrutura.

Esses contratos fazem parte de um cenário que levanta a suspeita e formam um ciclo fechado no entorno de empresas ligadas à mesma estrutura técnica, com pouca concorrência e poucos resultados práticos.

Ainda assim, o Banpará, operando com sistemas ultrapassados e infraestrutura limitada, não consegue atender às exigências dentro dos prazos previstos. A ausência de investimentos estruturantes dificultou a implementação de melhorias críticas e comprometeu a conformidade com os normativos exigidos pelo Banco Central. Ao fim e ao cabo, parece que não há dinheiro que conserte o Banpará. Um poço de problemas e gastos que parece não ter fim. 

Papo Reto

·O ministro do Turismo, Celso Sabino (foto), fará a conferência de abertura do II Congresso Nacional de Jornalistas e Comunicadores de Turismo, que será realizado em Belém de 10 a 15 de junho.

·O congresso reunirá cerca de 150 profissionais do Brasil e de alguns países da América do Sul e terá como tema principal o turismo sustentável e as boas práticas implantadas pelo setor.

·As jornalistas paraenses Benigna Soares e Mariluz Coelho estarão na mesa de debates.

·O sindicato dos professores da rede particular de ensino do Pará segue na mesa de negociação pela manutenção das cláusulas já conquistadas, bem como pelo aumento salarial discutido anualmente. 

·O segmento patronal, em mais de seis rodadas de negociação ainda, não apresentou sequer uma proposta que contemple de forma integral a inflação acumulada em 4,87%.  

·O INSS começa devolver hoje os descontos indevidos de aposentados e pensionistas lançando mão de valores que chegam a R$ 292 milhões referentes apenas ao mês de abril.

·O reembolso referente a abril será feito diretamente junto com o pagamento dos benefícios, sem que o beneficiário precise tomar qualquer providência.

·Pelo visto - e para surpresa de ninguém -, a conta sobra para o pagador de impostos, sem que nenhum dos marginais que assaltaram os velhinhos, até o momento, seja responsabilizado pelo infame roubo.

·Investigações de suspeita de gripe aviária no País já são 18, conforme atualização mais recente da plataforma de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves, do Ministério da Agricultura.

·Mais uma da série "Se a Inveja Matasse...": aterro sanitário em Manaus vai gerar biogás a partir de lixo urbano.

·Praticamente falido, os Correios têm aumento absurdo de reclamações por falhas nos serviços.

·O site Downdetector, que monitora queixas de instabilidade em aplicativos, registrou centenas de notificações sobre falhas no sistema de rastreamento, no site e em outros serviços.

·Acredite, os casos de febre amarela triplicaram nos países americanos em 2025, diz Organização Mundial da Saúde, com o Brasil liderando o infame ranking, com a taxa média de letalidade de 40%.

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