nquanto o Tribunal Regional Eleitoral do Pará cassava o mandato do senador Beto Faro, do PT, por compra de votos, um jantar promovido pelo próprio parlamentar, em Brasília, se transformava em constrangimento e debandada geral. O evento, organizado na residência oficial do senador, reunia prefeitos paraenses que se encontravam na capital federal para a Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios - evento que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reuniu chefes de Executivos municipais de todo o País.

Vexame político
O clima era de confraternização até por volta das 20h30, quando saiu a confirmação do julgamento: por 5 votos a 2, o TRE decidiu, de forma inédita, pela cassação do mandato do senador e de seus dois suplentes. Em questão de minutos, o jantar foi abruptamente esvaziado.
Relatos dão conta de que a notícia correu entre os presentes como um raio, provocando silêncio constrangedor, trocas rápidas de olhares e uma saída em massa dos convidados, ainda que pela tangente. Faro, que até então circulava entre os prefeitos em clima de celebração, viu a noite se transformar em um vexame político.
O episódio expôs, de maneira simbólica, o isolamento imediato do senador, mesmo entre aliados e interlocutores próximos. O jantar, que seria um momento de articulação e prestígio, terminou como metáfora de um mandato interrompido.
Provas robustas
A decisão do TRE foi baseada em evidências robustas de captação ilícita de sufrágio, abuso de poder econômico e assédio eleitoral. Segundo o Ministério Público Eleitoral, funcionários de uma prestadora de serviços ao governo do Estado foram cooptados com a promessa de bônus em tíquetes de alimentação para convencer eleitores a votar no petista. As denúncias foram reforçadas por gravações, documentos periciados pela Polícia Federal e depoimentos de testemunhas.
De acordo com o procurador regional eleitoral Alan Mansur, as provas demonstram a realização de reuniões na sede da empresa Kapa Capital Facilities, onde o apoio a Faro era negociado abertamente. Uma das testemunhas afirmou que o próprio senador, por videoconferência, prometeu o pagamento de R$ 25 por voto cooptado.
Cassação da chapa
Além de Beto Faro, também foram cassados os suplentes Josenir Gonçalves Nascimento (1ª suplente) e Leny May da Silva Campêlo (2ª suplente). A empresa Kapa Capital, envolvida no esquema, firmou um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público do Trabalho, reconhecendo práticas de assédio eleitoral e pagando multa de R$ 360 mil.
Nada além do fato
Os dois votos contrários à cassação já eram esperados - vieram dos juízes temporários com ligação ao governo estadual. Anete Penna de Carvalho já foi assessora da Casa Civil do Pará e atualmente disputa uma vaga de desembargadora pelo quinto constitucional da OAB. Já Marcelo Guedes é advogado com longa trajetória vinculada ao governo, tendo sido diretor do Detran entre 2019 e 2021.
Aliás, o voto contrário mal fundamentado de Guedes provocou reação direta da juíza de carreira Ezilda Pastana Mutran. Em tom firme, a magistrada questionou se o colega havia lido o processo, citando folhas específicas que, segundo ela, comprovariam a culpa de Faro, e concluiu com um contundente: “Estou convencida” (de que V. Exa não lê processos).
Bons entendedores...
O presidente do TRE, desembargador José Maria Teixeira do Rosário, também deu seu recado no julgamento. Um recado claro - ainda que indireto - a políticos que vêm adotando uma prática recorrente: confiscar celulares dos participantes de reuniões para evitar gravações comprometedoras. “Que sirva de exemplo”, declarou o magistrado.
Sem citar nomes, deixou no ar um aviso que foi amplamente interpretado como um alerta ao núcleo político do atual governo estadual. Bons entendedores entenderão.
Com a cassação da chapa, o Pará deverá passar por novas eleições para o Senado. A defesa de Beto Faro ainda pode recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral.
Papo Reto
•Desgraça pouca é bobagem: um “apagão” misterioso - e ponha misterioso nisso - “torrou” as mentes mais generosas e cheias de boa vontade na tentativa de entender o que vem acontecendo de fato na Agência de Defesa Agropecuária do Pará, a Adepará.
•Aliás, o diretor-geral da Agência, Jamir Macedo (foto), que se ausenta do País por estes dias para cumprir agenda internacional, deve nomear como substituta no cargo a diretora Lucionila Pimentel, que responde pela diretoria Vegetal.
•Jamir e Lucionila não comungam da mesma hóstia, mas a opção pela diretora ao diretor Administrativo-financeiro Raimundo Belo é sugestiva: lembra a expressão “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” - embora não se trate disso.
•Uma das maiores delegações de prefeitos estacionada em Brasília para a marcha nacional partiu de Bragança, nordeste do Pará, comandada pelo prefeito Mário Júnior, do MDB. Tá podendo.
•Boa sacada da Assembleia Legislativa: a Rádio Alepa FM 101.5 estreou na última segunda-feira o programa DHAlepa.
•O que se diz é que se trata do primeiro programa de questões em direitos humanos do parlamento brasileiro. A produção é da Fundação Rádio e Televisão da Casa.
•Acredite, em um único ano foi de R$ 32,5 bilhões o tamanho da perda das operadoras de telefonia móvel com a ascensão do WhatsApp, a partir da substituição das ligações convencionais e mensagens de texto pelas mensagens instantâneas.
•Lua mentiu? O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, desmentiu o presidente Lula ao se explicar sobre a intromissão da primeira-dama Janja em reunião com o presidente chinês Xi Jinping.
•Se a ideia também foi proteger Janja, não se sabe, mas o ministro disse sob juramento que o governo brasileiro não convidou qualquer autoridade chinesa para ajudar na regulação de redes sociais no Brasil.
•Peraí, mas foi exatamente isso que o presidente disse ao tentar justificar a gafe internacional? Égua do País?