Ministério Público do Estado do Pará, por meio do procurador de Justiça Waldir Macieira da Costa Filho, peticionou um agravo de instrumento dirigido ao desembargador Luiz Gonzaga da Costa Neto, relator dos processos relacionados ao Aterro Sanitário de Marituba, cobrando em caráter de urgência o não cumprimento dos acordos já firmados com a Justiça em torno da situação do lixo de Belém. O procurador diz que, apesar de ser público o acordo feito em juízo tanto pela Prefeitura de Belém quanto pelas empresas Guamá Tratamento de Resíduos LTDA, Solvi Participações S.A e Revita Engenharia S.A, que no último dia 30 protocolaram petição informando a paralisação do recebimento de resíduos sólidos produzidos pelo município de Belém, o que na visão do procurador caracteriza improbidade administrativa por não cumprimento de decisão judicial em acordo homologado pelas próprias partes envolvidas.

No entanto, até o final do
expediente judiciário da última sexta-feira, 3, nenhuma manifestação ou
despacho saiu do gabinete do desembargador Luiz Gonzaga Neto.
No fim da semana, o lixo em
bairros mais populosos, como Pedreira e Guamá começou a ser recolhido aos
poucos. No feriado de finados, os cemitérios ainda acumulavam muito lixo e,
para amenizar, mais funcionários da prefeitura foram recolher o lixo dos
Cemitérios Santa Izabel e São Jorge, os dois mais visitados. Mas o problema
maior, do aterro sanitário e do lixo doméstico, continua sem solução, causando
transtornos para a população da cidade e para o meio ambiente, na Belém que
pretende sediar uma conferência mundial em atenção ao meio ambiente e às
mudanças climáticas.
Dívida da prefeitura
O motivo alegado pelas empresas para cruzar os braços é a dívida da Prefeitura de Belém, de mais de R$ 15 milhões, em valores atualizados. “No momento em que a prefeitura não paga, e pelo menos essa é a alegação das empresas, ela está descumprindo uma determinação judicial de um acordo onde estão previstas penalidades pelo seu descumprimento. E é isso que o Ministério Público quer, já que em nenhum momento o desembargador efetivamente tomou providências para coibir que essas situações aconteçam”, afirmou o procurador Waldir Macieira.
Obrigação de fazer
Diante da aparente passividade do
desembargador Luiz Gonzaga Neto em relação à falta de respeito geral com o que
foi firmado em juízo, o MP é o único órgão que pode cobrar as providências que,
por ironia, já deveriam ter sido tomadas quando os entes deixaram de cumprir o
acordado em audiência de conciliação de 2017, sobre a manutenção dos pagamentos
por parte da prefeitura, e dos serviços por parte das empresas, até que seja
encontrada uma solução definitiva para o lixo.
O procurador afirma que o agravo de
instrumento foi para o desembargador Luiz Gonzaga Neto porque este chamou para
si toda e qualquer demanda dos processos referentes a essa questão do lixo.
“Nós já recorremos anteriormente pelo Ministério Público em relação a essa
questão. Então, esse agora é mais um pedido dos outros já que já foram feitos,
para que sejam aplicadas as penalidades previstas, com vistas à regularização
dessa situação que aflige a toda a população de Belém e também de Marituba e
Ananindeua”, afirmou o procurador em entrevista à coluna.
TAC de milhões, e nada
O próprio Ministério Público já
havia requerido em 2019 o cumprimento das chamadas tutelas de urgência firmadas
em um Termo de Ajustamento de Conduta pelos riscos dos impactos ambientais e,
como garantias desse cumprimento, o bloqueio de mais de R$ 100 milhões. O
pedido foi deferido pelo Juízo de 1º grau da Comarca de Marituba, porém, foram
efetivamente bloqueados, naquela oportunidade, em torno de R$ 22 milhões.
A novela do lixão
Os agravos no segundo grau, ou
seja, ao desembargador relator do caso, tornaram-se necessários porque, desde
2019, as partes envolvidas, basicamente, entram com petições, reúnem-se e
discutem as questões do Aterro Sanitário de Marituba e dos resíduos sólidos da
Região Metropolitana de Belém, sem chegar a qualquer solução concreta.
Em 2019, após o anúncio unilateral
da empresa Guamá Tratamento de Resíduos Ltda. de que as atividades seriam
encerradas naquele ano por causa dos problemas operacionais existentes,
inclusive com o aumento do passivo de chorume, apesar do TAC ambiental firmado.
Em razão disso, foi viabilizada a prorrogação, com a promessa de se buscar um
local para um novo aterro sanitário.
Mas, passados três anos, essa
possível solução vem sendo sucessivamente adiada, como ocorreu em 30 de agosto
passado, com mais um pedido de prorrogação do Aterro de Marituba, que já está
esgotado.