Presidente da CBF corre risco de sair do cargo pela mesma porta que entrou - a da Justiça

MPF investiga suspeita de que Ednaldo Rodrigues se aproveitou da debilidade da saúde mental do coronel Nunes para assinar documento que o mantém no cargo.

04/05/2025, 08:45
Presidente da CBF corre risco de sair do cargo pela mesma porta que entrou - a da Justiça
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o futebol, é praxe afirmar que o desempenho de um time dentro de campo é reflexo da gestão aplicada ao clube fora das quatro linhas. Levando em consideração que a teoria se aplica a todos os times, deduz-se que o péssimo momento vivido pela Seleção Brasileira é consequência do desastre administrativo que impera na CBF, a Confederação Brasileira de Futebol.

Coronel Nunes é o peso da balança que pode pender contra Ednaldo Rodrigues; ex-presidente da FPF visitou amigos na última visita da Seleção ao Mangueirão/Fotos; Divulgação.
É dela a responsabilidade de manter o nível da Seleção Canarinho a um ponto que justifique as cinco copas conquistadas até aqui - motivo de orgulho para a população de um País que possui carências muito maiores e emergenciais do que um grito de gol contra seleções de outros países.

Uma parte muito suja da história envolvendo a atual gestão da CBF foi obtida com exclusividade pela Coluna Olavo Dutra. O atual presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, pode sair do cargo pela mesma porta que entrou, o Judiciário. A história envolve um personagem muito conhecido do futebol paraense: Antônio Carlos Nunes de Lima, o coronel Nunes, que por muitos anos comandou a Federação Paraense de Futebol e, em duas oportunidades, presidiu a CBF.

Em fevereiro deste ano, Ednaldo Rodrigues foi mantido na presidência da CBF a partir de um acordo judicial homologado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o STF, envolvendo cinco dirigentes da CBF e a Federação Mineira de Futebol. Acontece que o coronel Nunes, um dos signatários desse acordo, não está em condições plenas de saúde mental, o que pode invalidar o documento.

Oportunismo barato

A suspeita do Ministério Público Federal é de que Ednaldo Rodrigues, com o apoio de outros dirigentes da CBF, tenha se aproveitado da debilitada condição de Nunes para recolher, em documentos estratégicos, a assinatura do dirigente para validar sua permanência no cargo até 2028. O acordo validado pelo STF, inclusive, anula todos os outros processos envolvendo Ednaldo.

Desde 2018, Nunes já foi submetido a delicadas cirurgias para tratar um diagnóstico de tumor cerebral. A doença tem gerado lapsos de consciência, perda de memória e déficit de atenção - todos agravados pela condição de senilidade própria da idade em que se encontra.

A situação comprometeu seriamente a capacidade cognitiva de Nunes, o que o levou a ser muito mais conhecido pelas gafes do que pelo cargo que ocupava. Em um desses episódios, o dirigente votou no Egito para sediar a Copa do Mundo de 2026, mesmo com todos os países da América do Sul fechados para eleger a candidatura conjunta de Estados Unidos, México e Canadá.

Um dos laudos médicos obtidos com exclusividade pela coluna descreve que Nunes também sofre de “ataxia com piora recente de déficit cognitivo”. O documento é assinado pelo Dr. Jorge Pagura, neurocirurgião renomado no Brasil e no exterior que, até 2023, atuava como chefe do Departamento Médico da CBF.

Além de Antônio Carlos Nunes, também foram signatários do acordo Castellar Neto, Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Rogério Caboclo, a Federação Mineira de Futebol e a própria CBF. Caso o documento seja anulado, Ednaldo pode ser afastado da presidência da CBF, como em 2023. A expectativa, em casos como este, é de que uma nova eleição seja realizada.

O processo que causou o afastamento de Ednaldo Rodrigues está ativo desde 2018, por iniciativa do Ministério Público do Rio de Janeiro, ainda referente à eleição de Rogério Caboclo, antecessor de Ednaldo.

O MP questiona o estatuto da confederação por estar em desacordo com a Lei Pelé porque prevê pesos diferentes para clubes nas votações para a escolha dos presidentes. Os dirigentes das 27 federações estaduais têm peso 3 na votação, contra peso 2 dos 20 clubes da Série A e peso 1 dos 20 da B.

A Justiça anulou em 2021 a eleição de Rogério Caboclo e determinou uma intervenção na CBF, nomeando Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Reinaldo Carneiro Bastos, como os interventores. Essa decisão foi cassada pouco tempo depois.

A CBF e o Ministério Público fizeram um acordo extrajudicial e assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta. Na nova eleição, em 2022, Ednaldo Rodrigues, que estava como presidente interino, foi eleito para um mandato completo de quatro anos, até março de 2026.

Decorativo sempre

O problema é que Antônio Carlos Nunes é definido como presidente “decorativo" da CBF desde que assumiu o cargo pela primeira vez. Nunes chegou ao comando da entidade após uma manobra de Marco Polo Del Nero, banido do futebol após o escândalo de corrupção da Fifa, que nomeou ao cargo o mais velho dentre os oito vices da entidade.

“Eu não diria com tanta convicção que se trata de um presidente decorativo, e sim de um presidente que fez o que precisava ser feito no momento. Porque a CBF é assim: os papéis são pré-definidos e a instituição acaba funcionando de forma mecânica e previsível”. A opinião é do radialista Cláudio Guimarães, amigo do coronel Nunes desde os tempos em que o ex-presidente da FPF era da Aeronáutica.

Cláudio teve o privilégio de cumprimentar Nunes pela última vez em setembro de 2023, quando o dirigente veio a Belém para assistir à partida entre Brasil x Bolívia pela abertura das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. “Ele já estava se locomovendo em cadeira de rodas, mas fez questão de ir até a cabine - da Rádio Clube do Pará-, onde nos cumprimentou sempre com o mesmo carinho e apreço”.

Apesar da debilidade física, o radialista não percebeu deficiências cognitivas em Antônio Carlos Nunes naquele momento. “Falou normalmente comigo e os demais colegas que estavam lá, mas de maneira rápida e objetiva. Nenhuma conversa que me fizesse perceber algo preocupante”, definiu Cláudio.

Falar pouco, aliás, foi o que os demais dirigentes da CBF impuseram a Nunes desde que as gafes o tornaram motivo de chacota entre as confederações. Da Rússia, por exemplo, ele voltou da mesma forma que viajou: calado. Para muitos, acompanhou o mundial como um presidente decorativo, de boca fechada e mãos atadas pelos dirigentes que, em tese, seriam seus subordinados.

O que Ednaldo Rodrigues não imaginava era o quanto o silêncio de Nunes poderia lhe custar caro. Caso fique comprovado que o dirigente não tinha condições mentais adequadas para assinar qualquer documento que o mantém no cargo, o jogo poderá sofrer uma reviravolta, mostrando que, nem sempre, quem está calado - ou com as mãos atadas - pode ser, de fato, inofensivo. 

Papo Reto

Dizem que a festa - que prometia ser “do arromba” - para marcar a entrada oficial do vice-prefeito licenciado de Belém e secretário do governo do Estado, Cássio Andrade (foto) -, teve mais ônus do que bônus.

•O esforço para mobilizar seguidores, adeptos e admiradores esbarrou na falta de interesse de quem quer que seja em um ato que remete ao filme que já se viu dez vezes, com os mesmos personagens  

A empresa do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, tem contrato com o governo do Pará, através do Banco do Estado, o Banpará.

•Não seria exagero trazer para o Banpará a mesma investigação que devastou os bastidores do INSS. Este é o clamor de muitos servidores públicos lesados. 

•Há um clima de tensão entre a realidade e a possibilidade: a Mpox é fato nas estatísticas da doença seguida de morte nos dados oficiais da Sesma, mas a Secretaria garante que os números registrados estão sob controle.

•A Prefeitura de Ananindeua implantou um Ambulatório Mpox para receber pacientes com sinais ou sintomas da doença popularmente conhecida como "varíola dos macacos". 

O ambulatório fica localizado na Primeira Rua Rural, n° 33, em frente à Clínica Saúde da Família Distrito Industrial, com funcionamento de segunda a sexta-feira, das 8h às 13h.

•A Equatorial informa que acompanha a demanda da etnia Gavião junto ao Ministério Público Federal, e que já realizou um levantamento sobre o fornecimento de energia para a localidade. 

No momento, a empresa aguarda os estudos por parte da Funai para que possa seguir para os próximos passos. A Equatorial permanece à disposição para dialogar com a comunidade.

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