governador Helder Barbalho e o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, têm
encontro marcado na esquina política brevemente. Não há data prevista, mas o
“encontro”, que, na verdade, não precisa ser físico, aponta para um choque em
que um dos dois deve perder; Helder, poder; Dr. Daniel, idem. A soma do “tudo
junto e misturado” de hoje é imprevisível amanhã e contraria a lei da física.
Não é soma, nem divisão. É chegada a hora em que a política se sobrepõe a tudo,
a todos e a todes.
Semana
passada, Helder recebeu a deputada estadual Maria do Carmo, do PT, candidata à
Prefeitura de Santarém no pleito em que o MDB deve lançar candidato próprio - o
secretário regional do governo, José Maria Tapajós. O eventual vencedor desta
disputa, se acontecer segundo o que está posto, sucederá o prefeito Nélio
Aguiar, do União Brasil.
Proposta indecorosa?
No
encontro, o governador propôs à ex-prefeita a vaga de vice na chapa de Tapajós
para um dos irmãos dela, com a condição de que desista da disputa em que
aparece com as melhores chances entre os concorrentes. Maria, integrante
do grupo de Paulo Rocha no partido, pediu tempo, como se verá a seguir, em
reportagem do Portal OEstadoNet.
Em
Belém, como se sabe, Paulo Rocha encaminhou negociações e garantiu o apoio do
partido à reeleição de Edmilson Rodrigues, atropelando o senador Beto Faro.
Paulo Rocha, com quem Maria do Carmo deve conversar para responder ao
governador, está com a faca nos dentes. O PT não abre mão em Belém, mas, só
aqui? Vá vendo...
A
incursão de Helder ao território do PT em Santarém atende ao projeto de poder
de eleger 100 dos 140 prefeitos paraenses, mas o governador encontra
resistências - políticas -, como em Parauapebas e São Geraldo do Araguaia,
sudeste do Pará, - e naturais -, como a preferência do eleitorado à deputada
Maria do Carmo e ao prefeito de Ananindeua. Às favas com a dor de cotovelo dos
aliados: para Helder, é vencer ou vencer.
"Marias na janela"
A
ideia de “janela” é subjetiva e remete à contemplação, mas, em se tratando de
“janela partidária”, muda de figura. É a ditadura do tempo a que estão sujeitos
políticos com mandato e sonhos de concorrer a cargo eletivo nas eleições deste
ano. Essa janela, segundo as regras da Justiça Eleitoral, ficará aberta até 5
de abril, quando os candidatos deverão estar acomodados nos respectivos
partidos - Daniel Santos entre eles, quer dizer, ou fica no MDB, ou “pula
fora”. É a cruz e a caldeirinha.
Um dilema para dois
Não
pense que o dilema pende apenas para o lado de Ananindeua. Justiça seja feita,
o governador Helder Barbalho também tem lá suas preocupações, tanto que, como
um dos líderes do partido, e por direito, deve propor um nome para vice na
chapa de reeleição de Daniel. As especulações são muitas, mas a verdade é que o
olhar de Helder nem é de 380 graus de Helder, mas “olhar 43”, com o qual, se
possível, mata dois coelhos com um só cajadada. Em tempo: ultimamente, a
secretária de Planejamento e Administração, Elieth Braga, que integrou a gestão
de Helder na prefeitura do município, tem visitado Ananindeua - e muito.
A hora das escolhas
Quanto ao prefeito Daniel
Santos, o seguinte: se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Ou larga o
MDB de mão - e dá início a uma carreira solo no embalo do sucesso político
atual -, ou se entrega ao MDB, ficando refém de Helder até deixar o cargo para
nunca mais voltar.
Nem
ele, nem a República de Ananindeua.
Maria
pede tempo a Helder
para analisar proposta de
indicação de vice na chapa
do MDB e desistir da luta
A
deputada estadual Maria do Carmo, do PT, foi recebida em audiência, na semana
passada, pelo governador Helder Barbalho. O assunto principal do encontro girou
em torno da sucessão do prefeito Nélio Aguiar, aliado de primeira hora do
governador do Estado. Helder, como já se sabe, definiu apoio a Zé Maria
Tapajós, estando prevista para dia 16 sua participação em ato do MDB para
lançamento da candidatura do atual secretário regional de governo, que deixará
o cargo no dia 5 de abril.
Durante
a conversa, Helder revelou, pela primeira vez à ex-prefeita, que o MDB teria
candidato majoritário em Santarém, e, segundo Maria, fez a proposta para que o
PT indicasse o vice na chapa, tendo sugerido os nomes do vereador Carlos
Martins e do secretário-adjunto de governo, Inácio Corrêa. Mas, segundo o
portal O EstadoNet apurou (https://bit.ly/49Iyyyk),
teria sido a própria deputada quem teria indicado, para vice, o nome de Carlos
Martins, caso viesse a concordar com a proposta apresentada pelo governador.
Eu conversei
com Maria do Carmo, nesta quarta-feira, logo após a deputada regressar a
Santarém. Vamos ao que ele me afirmou:
1-
Confirmou o encontro com Helder e a maioria das informações que o portal já
havia colhido junto a uma fonte bem situada no Palácio dos Despachos, em Belém.
2-
Quanto à proposta para retirada de sua candidatura à Prefeitura de
Santarém, diz que apenas ouviu e nada respondeu naquele momento, argumentando
que precisava realizar consultas junto à cúpula do PT, em Brasília, e a
apoiadores tradicionais do partido, em Santarém.
3-
Que não tomou a iniciativa de apresentar o nome de seu irmão Carlos
Martins para a vaga de vice, o que segundo ela, foi sugestão do governador.
4-
Que ainda não sabe quando voltará a conversar com o governador, e portanto,
mantém sua pré-candidatura no cenário eleitoral de Santarém.
5- E
por último, deixou claro que qualquer decisão que venha a tomar será precedida
de uma consulta junto ao presidente Lula, que mantém com o governador Helder
Barbalho uma aliança política sólida, inclusive, com a participação de
Jader Filho no Ministério das Cidades.
Se
alguém me perguntar, hoje, sobre o futuro de Maria, apostaria que haverá uma
composição com o MDB, uma acomodação até mais fácil a que será travada para
acalmar importantes aliados do governador em Santarém, que demonstram
desconforto com uma provável aliança com o PT, com receio de federalizar e
polarizar a disputa com um candidato bolsonarista.
O
prefeito Nélio Aguiar (União Brasil) e o ex-deputado Lira Maia e o deputado
federal Henderson Pinto (MDB) já revelaram que preferem que o vice de Zé Maria
seja de um partido de centro, embora também não haja consenso quanto ao nome. O
prefeito tem sugerido dois nomes de secretários municipais, Emir Aguiar e
Alberto Portela. Lira Maia, embora não confirme, torce para que o nome
escolhido para vice seja, também, o de um integrante do secretariado de
Nélio, mas do sexo feminino. a titular da Semed, Maria José Maia.
O tão
sonhado acordo MDB-PT só não aconteceria se o presidente Lula, ou a
presidente do PT, Gleise Hoffman, bancarem uma candidatura praticamente solo,
em Santarém, apostando na máquina federal que, por essas bandas, é
incipiente.
Mas,
como em política no Brasil, manda quem pode, obedece quem tem juízo, não será
surpresa se recomendações emanadas do Planalto e da Planície sejam acatadas,
sem dissidências, após muito choro e ranger de dentes. É esperar para ver.
(Matéria
originalmente publicada no Portal OESTADONET https://bit.ly/49Iyyyk)