Helder x Daniel: a colisão política anunciada, ou não; e em Santarém, "Maria vai com as outras?"

É chegada a hora: Helder deve apontar candidato a vice na chapa do prefeito Daniel Santos que, se rejeitar, deve deixar o MDB, e se aceitar, terá selado o fim da carreira política.

Por Olavo Dutra | Com Miguel Oliveira

07/03/2024, 13:40

Sinais de desconforto entre o governador e o prefeito têm aparecido em eventos oficiais nos últimos meses, mas, em política.../Fotos: Divulgação.


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governador Helder Barbalho e o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, têm encontro marcado na esquina política brevemente. Não há data prevista, mas o “encontro”, que, na verdade, não precisa ser físico, aponta para um choque em que um dos dois deve perder; Helder, poder; Dr. Daniel, idem. A soma do “tudo junto e misturado” de hoje é imprevisível amanhã e contraria a lei da física. Não é soma, nem divisão. É chegada a hora em que a política se sobrepõe a tudo, a todos e a todes.

 

Semana passada, Helder recebeu a deputada estadual Maria do Carmo, do PT, candidata à Prefeitura de Santarém no pleito em que o MDB deve lançar candidato próprio - o secretário regional do governo, José Maria Tapajós. O eventual vencedor desta disputa, se acontecer segundo o que está posto, sucederá o prefeito Nélio Aguiar, do União Brasil.

 

Proposta indecorosa?

 

No encontro, o governador propôs à ex-prefeita a vaga de vice na chapa de Tapajós para um dos irmãos dela, com a condição de que desista da disputa em que aparece com as melhores chances entre os concorrentes.  Maria, integrante do grupo de Paulo Rocha no partido, pediu tempo, como se verá a seguir, em reportagem do Portal OEstadoNet.

 

Em Belém, como se sabe, Paulo Rocha encaminhou negociações e garantiu o apoio do partido à reeleição de Edmilson Rodrigues, atropelando o senador Beto Faro. Paulo Rocha, com quem Maria do Carmo deve conversar para responder ao governador, está com a faca nos dentes. O PT não abre mão em Belém, mas, só aqui? Vá vendo...

 

A incursão de Helder ao território do PT em Santarém atende ao projeto de poder de eleger 100 dos 140 prefeitos paraenses, mas o governador encontra resistências - políticas -, como em Parauapebas e São Geraldo do Araguaia, sudeste do Pará, - e naturais -, como a preferência do eleitorado à deputada Maria do Carmo e ao prefeito de Ananindeua. Às favas com a dor de cotovelo dos aliados: para Helder, é vencer ou vencer.

 

"Marias na janela"

 

A ideia de “janela” é subjetiva e remete à contemplação, mas, em se tratando de “janela partidária”, muda de figura. É a ditadura do tempo a que estão sujeitos políticos com mandato e sonhos de concorrer a cargo eletivo nas eleições deste ano. Essa janela, segundo as regras da Justiça Eleitoral, ficará aberta até 5 de abril, quando os candidatos deverão estar acomodados nos respectivos partidos - Daniel Santos entre eles, quer dizer, ou fica no MDB, ou “pula fora”. É a cruz e a caldeirinha.

 

Um dilema para dois

 

Não pense que o dilema pende apenas para o lado de Ananindeua. Justiça seja feita, o governador Helder Barbalho também tem lá suas preocupações, tanto que, como um dos líderes do partido, e por direito, deve propor um nome para vice na chapa de reeleição de Daniel. As especulações são muitas, mas a verdade é que o olhar de Helder nem é de 380 graus de Helder, mas “olhar 43”, com o qual, se possível, mata dois coelhos com um só cajadada. Em tempo: ultimamente, a secretária de Planejamento e Administração, Elieth Braga, que integrou a gestão de Helder na prefeitura do município, tem visitado Ananindeua - e muito.

 

A hora das escolhas

 

Quanto ao prefeito Daniel Santos, o seguinte: se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Ou larga o MDB de mão - e dá início a uma carreira solo no embalo do sucesso político atual -, ou se entrega ao MDB, ficando refém de Helder até deixar o cargo para nunca mais voltar.

 

Nem ele, nem a República de Ananindeua.

 

Maria pede tempo a Helder
para analisar proposta de
indicação de vice na chapa
do MDB e desistir da luta


A deputada estadual Maria do Carmo, do PT, foi recebida em audiência, na semana passada, pelo governador Helder Barbalho. O assunto principal do encontro girou em torno da sucessão do prefeito Nélio Aguiar, aliado de primeira hora do governador do Estado. Helder, como já se sabe, definiu apoio a Zé Maria Tapajós, estando prevista para dia 16 sua participação em ato do MDB para lançamento da candidatura do atual secretário regional de governo, que deixará o cargo no dia 5 de abril.

 

Durante a conversa, Helder revelou, pela primeira vez à ex-prefeita, que o MDB teria candidato majoritário em Santarém, e, segundo Maria, fez a proposta para que o PT indicasse o vice na chapa, tendo sugerido os nomes do vereador Carlos Martins e do secretário-adjunto de governo, Inácio Corrêa. Mas, segundo o portal O EstadoNet apurou (https://bit.ly/49Iyyyk), teria sido a própria deputada quem teria indicado, para vice, o nome de Carlos Martins, caso viesse a concordar com a proposta apresentada pelo governador.

 

Eu conversei com Maria do Carmo, nesta quarta-feira, logo após a deputada regressar a Santarém. Vamos ao que ele me afirmou:

 

1- Confirmou o encontro com Helder e a maioria das informações que o portal já havia colhido junto a uma fonte bem situada no Palácio dos Despachos, em Belém.

 

2- Quanto à proposta para retirada de sua candidatura à Prefeitura de Santarém, diz que apenas ouviu e nada respondeu naquele momento, argumentando que precisava realizar consultas junto à cúpula do PT, em Brasília, e a apoiadores tradicionais do partido, em Santarém.

 

3- Que não tomou a iniciativa de apresentar o nome de seu irmão Carlos Martins para a vaga de vice, o que segundo ela, foi sugestão do governador.

 

4- Que ainda não sabe quando voltará a conversar com o governador, e portanto, mantém sua pré-candidatura no cenário eleitoral de Santarém.

 

5- E por último, deixou claro que qualquer decisão que venha a tomar será precedida de uma consulta junto ao presidente Lula, que mantém com o governador Helder Barbalho uma aliança política sólida, inclusive, com a participação de Jader Filho no Ministério das Cidades.

 

Se alguém me perguntar, hoje, sobre o futuro de Maria, apostaria que haverá uma composição com o MDB, uma acomodação até mais fácil a que será travada para acalmar importantes aliados do governador em Santarém, que demonstram desconforto com uma provável aliança com o PT, com receio de federalizar e polarizar a disputa com um candidato bolsonarista.

 

O prefeito Nélio Aguiar (União Brasil) e o ex-deputado Lira Maia e o deputado federal Henderson Pinto (MDB) já revelaram que preferem que o vice de Zé Maria seja de um partido de centro, embora também não haja consenso quanto ao nome. O prefeito tem sugerido dois nomes de secretários municipais, Emir Aguiar e Alberto Portela. Lira Maia, embora não confirme, torce para que o nome escolhido para vice seja, também, o de um integrante do secretariado de Nélio, mas do sexo feminino. a titular da Semed, Maria José Maia.

 

O tão sonhado acordo MDB-PT só não aconteceria se o presidente Lula, ou a presidente do PT, Gleise Hoffman, bancarem uma candidatura praticamente solo, em Santarém, apostando na máquina federal que, por essas bandas, é incipiente.

 

Mas, como em política no Brasil, manda quem pode, obedece quem tem juízo, não será surpresa se recomendações emanadas do Planalto e da Planície sejam acatadas, sem dissidências, após muito choro e ranger de dentes. É esperar para ver.

(Matéria originalmente publicada no Portal OESTADONET https://bit.ly/49Iyyyk)

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