Pastor quer Lula perto das igrejas e afirma que reeleição do presidente depende dos evangélicos

Não basta ao presidente se apresentar ao povo evangélico; tem que tirar foto e fazer vídeo com pastor, levar Lula a igrejas e cultos para o pastor impor as mãos sobre sua cabeça.

23/04/2025, 08:00
Pastor quer Lula perto das igrejas e afirma que reeleição do presidente depende dos evangélicos
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ados do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, apontam que o número de evangélicos no País passou de 9% da população em 1990 para 22,2% em 2010. Estudos recentes mostram, ainda, que esse percentual já se aproxima de 30%. No mesmo período, o número de templos passou de 17 mil para 62,8 mil, no Brasil - de acordo com o pesquisador Victor Augusto Araújo Silva, aumento motivado por ciclos de crescimento econômico e não de crises.

Concepção do pastor Oliver Goiano está longe de ser unanimidade no PT, onde nomes mais antigos da sigla definem os evangélicos como “oportunistas”/Fotos: Divulgação.
Os números impressionam qualquer leigo, mas, para o coordenador do Núcleo Nacional dos Evangélicos do PT, o pastor Oliver Costa Goiano, é necessário que eles impressionem mesmo é o presidente Lula. Em recente entrevista concedida a um jornal de circulação nacional, Goiano afirma que é preciso aumentar em pelo menos 10% as intenções de voto de eleitores evangélicos, caso o presidente queira se manter no poder.

O problema é que, para se aproximar dos evangélicos, Lula teria que se afastar de muitos que hoje o apoiam. É como diz a Bíblia: não tem como servir a dois senhores ao mesmo tempo. Esse afastamento se daria de maneira natural, já que, para conseguir aumentar o número de votos entre os evangélicos, Lula precisaria, segundo o pastor Goiano, abrir mão de discursos “identitários”, se declarar contra o aborto, rejeitar o debate LGBT e deixar de mão a ala esquerdista mais radical.

Também faz parte da estratégia de Goiano mostrar Lula em fotos com pastores, de preferência, com os líderes religiosos impondo as mãos sobre sua cabeça. “Nossa oração é para que o presidente Lula acelere as mudanças que ele tem dito que vai fazer - ampliar linhas de crédito para evangélicos. Mas Lula ainda tem que 'se apresentar' ao povo evangélico, tem que tirar foto com pastor, fazer vídeo com pastor”. A prioridade, segundo ele, é levar o presidente Lula a igrejas e aos cultos.

Petistas divergem

A concepção do pastor Oliver Goiano está longe de ser unanimidade no PT. Membros mais antigos da sigla definem os evangélicos como “oportunistas”, coordenados por líderes que encaminham seu eleitorado para onde mais for conveniente. “Exemplo disso é o apoio dado a Bolsonaro na última eleição”, afirma uma liderança petista ouvida pela coluna. Opção que Goiano afirma, de pés juntos, que não se repetirá.

Outra fonte ouvida pela coluna até concorda que Lula precisa deixar de lado as pautas “identitárias”, mas porque esse tipo de assunto “divide a classe trabalhadora, quando o PT foi criado para uni-la, o que significa que a prioridade deveriam ser as bandeiras comuns e universais, não o contrário”. Ao mesmo tempo, a fonte discorda que “fazer fotos com pastores com a mão cabeça do presidente” ajudaria em alguma coisa.

O estudo realizado pelo pesquisador Victor Silva, que também integra o departamento de Ciência Política da Universidade de Zurique, na Suíça, analisou o crescimento das religiões evangélicas entre 1920 e 2019. Nesse período, o Brasil passou de 17.033 para 109.560 novos templos, aumento de 543%.

Para o bispo Antônio José da Silva Esteves, presidente do Conselho de Pastores, Teólogos Evangélicos do Brasil e do Exterior, assim como em várias áreas da sociedade, também existem, no movimento evangélico, pessoas que se aproveitam da facilidade da situação de abrir templos.

“Na Europa, se você não comprovar que é pastor, não abre templo. No Brasil, é mais fácil”, afirma o bispo. Em contextos de bonança econômica, os incentivos para a abertura de novos templos aumentam, uma vez que as famílias, sobretudo aquelas de renda média e baixa, possuem dinheiro excedente para transferir às igrejas na forma de dízimos e ofertas”, ressaltou o pesquisador.”

Quebrando resistência

Oliver Goiano afirma, ainda, que o núcleo evangélico do PT ainda não está tão poderoso quanto precisa para ajudar o partido a furar a bolha entre os evangélicos, mas está melhor do que antes. “Estamos nos tornando uma voz ouvida pelo nosso presidente Lula. Estamos quebrando resistências dentro do partido para sermos uma voz ouvida”.

No ano passado, o pastor chegou a afirmar que se cada cidade lançasse um pastor candidato pelo PT, a sigla conseguiria "furar a bolha" e ampliar a presença de petistas entre os evangélicos. A meta, porém, não foi alcançada.

“O futuro de qualquer sociedade depende do grupo mais organizado. Não existe no Brasil uma instituição mais poderosa do que a igreja evangélica. Ela se tornou esse fenômeno cultural ao chegar a todas as classes sociais. O futuro do PT também depende das igrejas evangélicas”, afirma Goiano.

Quando Lula assumiu em 2023 ele tinha dois desafios: apaziguar as Forças Armadas e falar com evangélicos. Hoje, militares radicais estão sendo punidos. O próximo desafio é falar com o povo evangélico. Como, quando e no que isso realmente vai resultar, só o tempo vai dizer. E o tempo urge.

Como diz a fonte ouvida pela coluna, “criar um crédito específico para evangélicos, algo como ‘Bolsa Bíblia’ ou qualquer tipo de assistência envolvendo dinheiro, provocaria um desastre político sem precedentes entre os membros da sigla. Principalmente por ser, o Brasil, um País de maioria católica e centenas de milhares de terreiros de cultos afro em cada Estado. 

Com informações do Portal Uol.

Papo Reto

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