Homenagem de escola de samba à cantora Fafá de Belém repercute negativamente e arquidiocese reage

Polêmica após uma enxurrada de reações e protestos, cúpula da Igreja se manifesta com repúdio ao desfile em São Paulo.

15/02/2024, 12:00
Homenagem de escola de samba à cantora Fafá de Belém repercute negativamente e arquidiocese reage
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o último dia 10, sábado de carnaval, o Pará acordou com as repercussões da homenagem que a cantora Fafá de Belém recebeu no dia anterior, à noite, no carnaval de São Paulo. A vida da cantora era o tema, mas a escola de samba Império de Casa Verde usou - e pelas reações - e abusou das figuras icônicas do Círio de Nazaré, como a Berlinda e a própria imagem da Santa, que hora aparece na Comissão de Frente, ora em uma alegoria com o rosto de Fafá carregando o que seria o Menino Jesus.


Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira custou a reagir, ao contrário das redes sociais; religioso teve o cuidado de não citar nominalmente a cantora Fafá de Belém/Fotos: Divulgação.

Foi o suficiente para uma enxurrada de reações e protestos de toda ordem. Jornalistas, políticos e uma centena de outras pessoas, direto das suas redes sociais, até chegar à cúpula da Igreja, criticada por estar atrasada com alguma manifestação, que veio pelo chefe da Igreja no Pará somente nas cinzas do carnaval.

 

Uma cantora, as reações

 

Na quarta-feira, cinco dias após o desfile, o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira, se pronunciou, sem citar nomes, mas referindo-se à escola de samba de São Paulo e A “uma cantora da nossa terra” que, juntas “tocaram na nossa devoção e na nossa prática religiosa”, disse Taveira.

 

O arcebispo considerou naturais as reações fortes. “De jornalistas, políticos E até às pessoas simples do meio do povo de Deus, todos estamos contrários a essas formas de utilização das figuras religiosas da nossa devoção pela absoluta falta de bom senso, um gesto lamentável da escola e da cantora, que prestaram um desserviço à Nossa Senhora, pelo qual estamos muito tristes”, disse ele.

 

Taveira também afirmou que não houve qualquer consulta à Igreja Católica sobre o uso dos símbolos do Círio. “Isso partiu das liberdades da figura artística, que se julgou no direito a esse uso inadequado da devoção Mariana. Esperamos que essas pessoas tenham a bondade de rever seu modo de agir e suas ações”, disse o arcebispo. Já a cantora Fafá de Belém, até o momento, não se manifestou. Nem botou a cara na varanda.

 

Novo chute na imagem


Movido pela fé vigilenga que embala sua terra natal, Vigia de Nazaré, nordeste do Estado, o jornalista Nélio Palheta resumiu o desfile a um “novo chute na imagem” de Nossa Senhora. “Chutaram novamente a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. E desta vez, não foi um pastor evangélico. Foram os carnavalescos paulistas”, disse ele em um artigo publicado em seu perfil no Facebook, onde lembrou o episódio de 1996, em que, à época do Círio, o pastor evangélico Edir Macedo chutou a imagem da Santa.

 

Ele diz que a forma como se deu o uso não se justifica por sincretismo religioso. “Considerei impróprio o uso da imagem religiosa como alegoria de carnaval. Só os desprovidos do senso religioso, conhecimento sobre a fé e ignorantes a respeito da devoção a Nossa Senhora, Mãe de Deus, fazem uma sandice dessa ordem. Foi uma apropriação deveras inadequada do mais importante ícone da religiosidade popular paraense”, escreveu Palheta, ressaltando, ainda, que o que foi visto na avenida, como alegorias semelhantes ao boi de Parintins, além de pajelanças que não são usadas na devoção Mariana nem no Brasil nem em Portugal, foge completamente ao respeito.


Vilipêndio à fé Mariana

 

O também jornalista paraense Walbert Monteiro registrou em um artigo que “a estupidez humana, na era contemporânea, parece não ter limites. E, embora se proclame a todo instante o respeito aos direitos humanos, à liberdade de crença e opinião, às etnias e às minorias, nunca se testemunhou tanta agressão e vilipêndio a todos esses princípios”, afirmou, alertando que a “a expressão artística, mesmo que se defenda total e absoluta liberdade de criação, há que ser presidida, ela também, por uma ética que não ofenda gratuitamente pessoas ou coletividades”.

 

Ele foi um dos que criticaram a demora da Igreja em dizer algo, e lamentou que o carnaval brasileiro, de uns tempos para cá, “perdeu a sua genuína pureza como símbolo maior da alegria de um povo para se transformar em manifestação onde se extravasam recalques ou a ignorância a serviço de interesses ideológicos espúrios”, afirmou.

 

O jornalista também citou o que chama de constantes ataques à religião cristã no carnaval. “Há um claro e indesmentível intuito de desmoralizar o cristianismo: em passado recente, a figura de Jesus Cristo foi escarnecida na Marquês de Sapucaí, arrastada e vencida por um figurante travestido de demônio. E, no desfile paulista de 2024, uma agremiação não ‘manchou’ apenas a tradição mariana. Foi mais além e decidiu, deliberadamente e com o apoio da cantora que homenageava, ultrajar toda a população católica do Estado do Pará, dando à Mãe de Deus a caricata figura dessa artista que, em nome do pudor e da defesa das nossas mais caras tradições, deveria de pronto repelir as iniciativas do carnavalesco e não permitir a cena que se tornou mais grave e sacrílega: que na representação da Berlinda, um dos mais expressivos símbolos do Círio de Nazaré, uma sambista seminua tomasse o lugar de Nossa Senhora”, protestou Monteiro.

 

Uso recorrente do Círio

 

A tese mais presente em tantas opiniões de protesto nas redes é que de que na homenagem à cantora Fafá de Belém houve um excesso desnecessário, que a própria artista paraense, que todo ano se manifesta durante o Círio como devota fervorosa, deveria ter repudiado a inclusão da imagem da Santa entre as alegorias da escola que a homenageou.

 

Faz sentido, mas talvez não combine com o que se percebe no comportamento de Fafá anualmente em relação ao próprio Círio, único momento em que ela “chega”, por assim dizer, já que não atua em nenhum outro projeto ligado à cidade. Somente no Círio, e faturando alto para isso com o evento que nasceu como “Varanda da Fafá” e, posteriormente, mudou de nome para “Varanda de Nazaré”.

 

Faturando bem alto

 

É bom para o turismo uma leva de artistas visitando Belém no Círio? Não há relatos de pesquisas qualitativas sobre esses resultados, comparados ao custo. A coluna apurou que no ano passado o orçamento da 13ª edição do evento foi em torno de R$ 5 milhões somente das leis de incentivos, já que o evento conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e do Banpará, por meio da Lei de Incentivo à Cultura Semear.

 

Artistas sem cachês

 

Mas, para todos os microeventos da agenda, que duram em torno de quatro dias, há apoios e incentivos - leia-se investimento em dinheiro - de marcas. Porém, estranhamente à arrecadação de tantos recursos, nenhum artista convidado por Fafá para a exaustiva programação recebe cachê. O convite é a título de recompensa por visibilidade, por Fafá ser quem é e daí convidar tanto famosas, enquanto os cá de casa nada recebem.

 

Ano passado, por exemplo, além do patrocínio oficial via Lei Semear, marcaram presença junto aos cofres de Fafá a telefonia TIM, o Magalu e o Sebrae, também na condição de patrocinadores, com o apoio da Prefeitura de Belém por meio da Fumbel, do Café Santa Clara e da Cervejaria Cerpa.

 

Desde o ano passado, o evento lançou também a programação “Explora Belém” para mostrar a cidade escolhida como sede da COP30, em 2025.

 

Papo Reto

 

A situação é tão crítica na Emater que servidores de vários setores do Escritório Central, em Marituba, fazem coleta mensal para comprar toner e papel para as impressoras.

 

No mesmo escritório, denúncias de servidores voltam a colocar a chefe de Gabinete, Ana Carla da Silva Costa, no olho do furacão.

 

Prima do deputado estadual Ronie Silva (foto), a moça “é quem dita regras na empresa: se estiver de bem com a vida, autoriza demandas e pedidos; caso contrário, trava tudo”.

 

Ana Carla Silva é esposa do diretor Administrativo da Emater, Robson de Castro Silva, aquele que era servidor do Inmetro, mas dava expediente na Emater.

 

 Depois da denúncia da coluna, o espertinho foi exonerado do Inmetro e assumiu de fato na Emater.

 

O Instituto Federal do Pará - campus Belém - deve abrir processo seletivo para a contratação de professores de matemática, química e engenharia de materiais para reforçar o quadro, porque a instituição cedeu servidores para cursos pós- graduações e graduações.

 

O diretor geral, professor Hélio Almeida, conta com a vinda de novos profissionais da educação para atender áreas específicas de nível técnico, pós-graduação e graduação.

 

A colônia de pescadores Z 16, de Cametá, aprovou cerca de 40 ribeirinhos através de um projeto social e totalmente gratuito. 

 

O programa Rede de conhecimento - pescando oportunidades foi criado pelo professor e pescador José Domingos, com a aprovação do presidente da maior colônia de pescadores América Latina, José Fernandes.

 

Leme das bolsas americanas e amplamente valorizadas em Wall Street, as empresas de tecnologia conhecidas como "Sete Magníficas" venderão 12% a mais este ano e outros 12% em 2025, percentual inimaginável no mundo das empresas "normais".

 

A Alphabet, dona do Google, Apple, Amazon, Meta e Microsoft, faturaram juntas cerca de US$ 327 bilhões em 2023, 25,6% a mais do que no ano anterior, número próximo, por exemplo, do PIB total da Colômbia ou do Chile.

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