expressão "Não existe outra maneira de se proteger da bajulação a não ser fazer os outros entenderem que dizer a verdade não os ofenderá" traz uma reflexão interessante sobre a importância da fraqueza e da transparência nas relações interpessoais e políticas. Ela sugere que, se estabelecer uma postura franca e verdadeira, é possível evitar as consequências da bajulação e da manipulação por parte dos outros.
O autor é Nicolau Maquiavel, renomado pensador político e escritor italiano do Século XVI. Maquiavel é conhecido principalmente por sua obra "O Príncipe", na qual discute os princípios e estratégias do poder político. Embora trechos e frases suas possam parecer indutoras de uma conduta antiética, Maquiavel não deve ser rotulado como "maquiavélico", no sentido de ser manipulador e imoral.
Observador atento da política, o
florentino buscou traduzir seus insights de forma clara e
acessível para o entendimento geral, enquanto tentava compreender as dinâmicas
do poder e oferecer conselhos práticos para governantes e líderes.
Há quem diga que, na ausência de um
Maquiavel, o lugar dos conselheiros do governador Helder Barbalho foi ocupado
por uma roleta, e o futuro da política no Estado, especialmente em Belém,
passou a depender fortemente da sorte.
A máxima do cassino
Roletas, como se sabe, não pensam.
Rolam ali apenas as peças que a mão do homem colocou para jogar. A emergência
do aniversário de Belém, os problemas de imagem que o prefeito Edmilson
Rodrigues acumula, a ambição desmedida do entorno do governador e os sinais
trocados que ele imite acumulam rolagens vertiginosas na roleta do poder,
tentando impor, para fora, a ideia de que a máxima do cassino segue valendo: a
casa sempre ganha.
Mas a casa, no caso, o governo,
ajusta um cenário de múltipla escolha em uma conjuntura em que o que abunda,
prejudica. Afinal, em um universo limitado de eleitores, a subdivisão
vertiginosa dos votos tende a levar ao segundo turno os líderes da pesquisa, já
que o tempo de campanha propriamente dito é curto. E nenhum dos novos
postulantes aparece sequer próximo dos líderes.
Sinais trocados
Os sinais trocados que Helder emite
estão produzindo canibalismo interno. Secretários incensados à condição, pasmem,
de supostos pré-candidatos, se acotovelam no palanque pela ignóbil chance de
fazer uma foto ou pegar carona no vídeo do governador, esquecendo que a estrela
é o chefe do Executivo, cujo brilho ofusca a malta que se aninha à sua volta.
“Todos ali passam a ser vistos como figurantes, porque o ator principal é
sobejamente conhecido”, anotou um experiente jornalista.
Não tivesse substituído a ciência
pelo jogo de azar, Helder resolveria o processo de escolha de seus candidatos
nas principais praças eleitorais pelo método tradicional: colocaria todos eles
em um formulário de pesquisa, ampliaria a coleta de dados para reduzir ao
máximo a margem de erro e, com base no resultado, teria um nome que já sairia
fortalecido para uma campanha que, com direito à publicidade, durará cerca de
sete semanas. O óbvio ululante nesse caso não está sendo ouvido.
Contra o tempo
Em uma campanha curta, com pouco
tempo para a escolha e uma oferta grande de candidatos todos iguais - homens
brancos, políticos profissionais -, o eleitor tende a concentrar sua intenção
de voto naqueles candidatos que ele já conhece. Essa circunstância se
potencializa em um cenário de polarização política global entre direita e
esquerda, que não apenas se manteve no Brasil após a derrota de Bolsonaro, como
se cristalizou. Em Belém, os dois lados dessa disputa têm rostos conhecidos e
nomes na ponta da língua do eleitor: Edmilson e Éder Mauro. Em cada campo, há
um segundo posicionado. À direita, Everaldo Eguchi; à esquerda, Úrsula Vidal,
ambos conhecidos do público e identificáveis em uma disputa de curto fôlego.
A alta exposição da vice-governadora
Hana Ghassan nesse começo de ano e a circulação liberada do boato de que ela
poderia agora ser a candidata apoiada por Helder para a PMB, se não tem como
meta lançá-la - o que daria um freio de arrumação em sua tropa -, ao mesmo
testa seu nome nas pesquisas e mensura seu potencial.
Pente fino científico
Ao lado do nome de Hana no formulário
da pesquisa, todos os “papagaios de pirata” dos eventos relacionados ao
aniversário da capital seriam colocados à prova. O primo do governador, Igor
Normando, que raramente aparece para trabalhar na secretaria que ocupa, estaria
lá. O secretário de Segurança, Ualame Machado, estimulado por adversários
internos a “topar” a candidatura - o que o tiraria de cena - também seria
incluído. Thiago Araújo, aliado recente, entraria na lista. Juntos com eles,
Zeca Pirão, deputado estadual que afirma que sua candidatura é “um fato” e não
depende da escolha ou não do governador, também, ao lado da secretária de
Cultura Úrsula Vidal, que parece avessa ao corpo a corpo de palanques e caminhadas,
mas que vem semeando nas redes sociais falas cujo inteiro teor a direcionam
para a disputa.
Everaldo Eguchi, alternativa de
direita que nega ter sido cooptado recentemente por Helder, também seria
testado. Está sendo chamado de “direita azul” por ex-aliados da direita “verde
e amarela”.
Alguns observadores das cenas do
empurra-empurra ao lado do governador e da vice por uma foto nos palanques e
caminhadas dizem que Igor Normando toparia ser vice de Hana na emergência de um
acordo prevendo que em 2026 a atual vice-governadora sairia candidata ao
governo e o “menudo” - apelido carinhoso que recebeu na Assembleia Legislativa
- assumiria a prefeitura, ganhando assim o posto de prefeito não por mérito ou
voto, mas por osmose parental, por assim dizer.
Na hipótese dessa aposta dar certo e
Hana ganhar a eleição se tornando a primeira prefeita da história de Belém,
renunciar para disputar um novo cargo com apenas dois anos de mandato desperta
nos mais velhos o receio da repetição da síndrome Said Xerfan.
Reação à desídia
Empresário do setor atacadista,
Xerfan iniciou a vida política ao assumir a Prefeitura de Belém em abril de
1983, nomeado pelo então governador do Pará Jader Barbalho (1983-1987) e
permaneceu no cargo até julho do mesmo ano.
Voltou a assumir o mesmo posto, dessa
vez através de vitória eleitoral, em 1988. Abandonou a prefeitura em abril de
1990 para concorrer ao governo do Pará em 1990, apoiado pelo então governador
Hélio Gueiros (1987-1991) e pela poderosa família Maiorana, proprietária do
jornal “O Liberal”, mas terminou derrotado por Jader Barbalho, que havia
rompido politicamente com Gueiros. O eleitor de Belém não perdoou a desídia.
Fazer da prefeitura um trampolim foi interpretado pelo eleitor médio como
traição, pura e simples.
Quem viver, verá
A lição de Maquiavel que abriu essa
reflexão ilumina os dilemas de Helder diante da guerra púnica aberta em sua
base aliada. Não existe outra maneira de se proteger da bajulação a não ser
fazer os bajuladores entenderem que dizer a verdade.... Mas ninguém acredita
que dizer a verdade ao governador não poderia ser interpretado como
indisciplina. Afinal, ele está convicto de que a trajetória errática que está
traçando o levará ao objetivo. Tanto que fez publicar na capa do jornal da
família na edição de sábado uma foto em que ele e o irmão, ministro Jader
Filho, aplaudem Edmilson Rodrigues, que havia sido vaiado minutos antes,
enquanto o alcaide fala em evento no Ver-o-Peso no aniversário de 408 anos de
Belém.
A capa tem endereço certo: será
remetida a Lula como prova de bons modos. O presidente, que tem aversão a
bajuladores e não se ofende com a verdade, sabe que os sinais
trocados podem significar um perigoso desvio de rota. Quem viver, verá.
Papo Reto
Amigo da coluna de longa data, o advogado José Carlos Lima, o Zé Carlos
do PV, funcionário do governo Lula no BNDES, provocou rápido, mas pertinente
debate, ontem, após uma postagem em sua conta no Instagram.
Edmilson Rodrigues é o melhor prefeito para receber a COP30”, arriscou
Zé, ao que o também advogado Afonso Arinos, amigo dele, respondeu de
bate-pronto: “Belém está lascada”.
No post, Zé Carlos destaca que o prefeito “desempenhará um
papel crucial” ao receber o evento - e seus 100 mil participantes -, que abrirá
uma janela de oportunidade para a economia do turismo e coisa e tal.
“Juntos, podemos construir um
futuro mais sustentável e próspero para Belém”. Pergunta-se:
nós quem, caruana?
O reitor Clay Chagas, Uepa, dá conta de que esteve no Comando Geral da
PM discutindo com o coronel Dilson Júnior (foto) e o novo
chefe do Estado Maior detalhes sobre um convênio de capacitação de
policiais militares em língua inglesa. Tudo
pela COP30.
Sinais trocados: a foto efusivamente festiva de Edmilson falando ao lado
de Helder publicada na capa do jornal da família sinaliza para Lula que, mesmo
que resolva tirar outra candidatura, pagará a conta da campanha de Ed50.
O que se diz é que o PCdoB planeja lançar o secretário de Habitação da
Prefeitura de Belém, Rodrigo Moraes, para disputa de vaga à Câmara.
E mais: que o partido espera assinar a filiação da deputada Lívia
Duarte, do Psol, que vem a ser mulher do secretário da gestão Ed50, Cláudio
Puty. Sobre esse detalhe não há confirmação.
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