Roleta gira para apontar futuro político de Belém, com risco de Helder topar na "máxima do cassino"

Governador lida com dilemas que poderiam ser afastados pela pesquisa eleitoral, que tiraria de cena bajuladores e “papagaios de pirata”, garantindo uma escolha segura e definitiva para concorrer à sucessão.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

14/01/2024, 08:30
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expressão "Não existe outra maneira de se proteger da bajulação a não ser fazer os outros entenderem que dizer a verdade não os ofenderá" traz uma reflexão interessante sobre a importância da fraqueza e da transparência nas relações interpessoais e políticas. Ela sugere que, se estabelecer uma postura franca e verdadeira, é possível evitar as consequências da bajulação e da manipulação por parte dos outros.


Publicação na capa do jornal da família Barbalho sugere recado para Lula sobre a eleição em Belém, além de um gesto de boa vontade, mas dilemas do governador vão além/Fotos: Divulgação.

 O autor é Nicolau Maquiavel, renomado pensador político e escritor italiano do Século XVI. Maquiavel é conhecido principalmente por sua obra "O Príncipe", na qual discute os princípios e estratégias do poder político. Embora trechos e frases suas possam parecer indutoras de uma conduta antiética, Maquiavel não deve ser rotulado como "maquiavélico", no sentido de ser manipulador e imoral.

 

Observador atento da política, o florentino buscou traduzir seus insights de forma clara e acessível para o entendimento geral, enquanto tentava compreender as dinâmicas do poder e oferecer conselhos práticos para governantes e líderes.

 

Há quem diga que, na ausência de um Maquiavel, o lugar dos conselheiros do governador Helder Barbalho foi ocupado por uma roleta, e o futuro da política no Estado, especialmente em Belém, passou a depender fortemente da sorte.

 

A máxima do cassino

 

Roletas, como se sabe, não pensam. Rolam ali apenas as peças que a mão do homem colocou para jogar. A emergência do aniversário de Belém, os problemas de imagem que o prefeito Edmilson Rodrigues acumula, a ambição desmedida do entorno do governador e os sinais trocados que ele imite acumulam rolagens vertiginosas na roleta do poder, tentando impor, para fora, a ideia de que a máxima do cassino segue valendo: a casa sempre ganha.

 

Mas a casa, no caso, o governo, ajusta um cenário de múltipla escolha em uma conjuntura em que o que abunda, prejudica. Afinal, em um universo limitado de eleitores, a subdivisão vertiginosa dos votos tende a levar ao segundo turno os líderes da pesquisa, já que o tempo de campanha propriamente dito é curto. E nenhum dos novos postulantes aparece sequer próximo dos líderes.

 

Sinais trocados

 

Os sinais trocados que Helder emite estão produzindo canibalismo interno. Secretários incensados à condição, pasmem, de supostos pré-candidatos, se acotovelam no palanque pela ignóbil chance de fazer uma foto ou pegar carona no vídeo do governador, esquecendo que a estrela é o chefe do Executivo, cujo brilho ofusca a malta que se aninha à sua volta. “Todos ali passam a ser vistos como figurantes, porque o ator principal é sobejamente conhecido”, anotou um experiente jornalista.

 

Não tivesse substituído a ciência pelo jogo de azar, Helder resolveria o processo de escolha de seus candidatos nas principais praças eleitorais pelo método tradicional: colocaria todos eles em um formulário de pesquisa, ampliaria a coleta de dados para reduzir ao máximo a margem de erro e, com base no resultado, teria um nome que já sairia fortalecido para uma campanha que, com direito à publicidade, durará cerca de sete semanas. O óbvio ululante nesse caso não está sendo ouvido.

 

Contra o tempo

 

Em uma campanha curta, com pouco tempo para a escolha e uma oferta grande de candidatos todos iguais - homens brancos, políticos profissionais -, o eleitor tende a concentrar sua intenção de voto naqueles candidatos que ele já conhece. Essa circunstância se potencializa em um cenário de polarização política global entre direita e esquerda, que não apenas se manteve no Brasil após a derrota de Bolsonaro, como se cristalizou. Em Belém, os dois lados dessa disputa têm rostos conhecidos e nomes na ponta da língua do eleitor: Edmilson e Éder Mauro. Em cada campo, há um segundo posicionado. À direita, Everaldo Eguchi; à esquerda, Úrsula Vidal, ambos conhecidos do público e identificáveis em uma disputa de curto fôlego.

 

A alta exposição da vice-governadora Hana Ghassan nesse começo de ano e a circulação liberada do boato de que ela poderia agora ser a candidata apoiada por Helder para a PMB, se não tem como meta lançá-la - o que daria um freio de arrumação em sua tropa -, ao mesmo testa seu nome nas pesquisas e mensura seu potencial.

 

Pente fino científico

 

Ao lado do nome de Hana no formulário da pesquisa, todos os “papagaios de pirata” dos eventos relacionados ao aniversário da capital seriam colocados à prova. O primo do governador, Igor Normando, que raramente aparece para trabalhar na secretaria que ocupa, estaria lá. O secretário de Segurança, Ualame Machado, estimulado por adversários internos a “topar” a candidatura - o que o tiraria de cena - também seria incluído. Thiago Araújo, aliado recente, entraria na lista. Juntos com eles, Zeca Pirão, deputado estadual que afirma que sua candidatura é “um fato” e não depende da escolha ou não do governador, também, ao lado da secretária de Cultura Úrsula Vidal, que parece avessa ao corpo a corpo de palanques e caminhadas, mas que vem semeando nas redes sociais falas cujo inteiro teor a direcionam para a disputa.

 

Everaldo Eguchi, alternativa de direita que nega ter sido cooptado recentemente por Helder, também seria testado. Está sendo chamado de “direita azul” por ex-aliados da direita “verde e amarela”.

 

Alguns observadores das cenas do empurra-empurra ao lado do governador e da vice por uma foto nos palanques e caminhadas dizem que Igor Normando toparia ser vice de Hana na emergência de um acordo prevendo que em 2026 a atual vice-governadora sairia candidata ao governo e o “menudo” - apelido carinhoso que recebeu na Assembleia Legislativa - assumiria a prefeitura, ganhando assim o posto de prefeito não por mérito ou voto, mas por osmose parental, por assim dizer.

 

Na hipótese dessa aposta dar certo e Hana ganhar a eleição se tornando a primeira prefeita da história de Belém, renunciar para disputar um novo cargo com apenas dois anos de mandato desperta nos mais velhos o receio da repetição da síndrome Said Xerfan.

 

Reação à desídia

 

Empresário do setor atacadista, Xerfan iniciou a vida política ao assumir a Prefeitura de Belém em abril de 1983, nomeado pelo então governador do Pará Jader Barbalho (1983-1987) e permaneceu no cargo até julho do mesmo ano.

 

Voltou a assumir o mesmo posto, dessa vez através de vitória eleitoral, em 1988. Abandonou a prefeitura em abril de 1990 para concorrer ao governo do Pará em 1990, apoiado pelo então governador Hélio Gueiros (1987-1991) e pela poderosa família Maiorana, proprietária do jornal “O Liberal”, mas terminou derrotado por Jader Barbalho, que havia rompido politicamente com Gueiros. O eleitor de Belém não perdoou a desídia. Fazer da prefeitura um trampolim foi interpretado pelo eleitor médio como traição, pura e simples.

 

Quem viver, verá

 

A lição de Maquiavel que abriu essa reflexão ilumina os dilemas de Helder diante da guerra púnica aberta em sua base aliada. Não existe outra maneira de se proteger da bajulação a não ser fazer os bajuladores entenderem que dizer a verdade.... Mas ninguém acredita que dizer a verdade ao governador não poderia ser interpretado como indisciplina. Afinal, ele está convicto de que a trajetória errática que está traçando o levará ao objetivo. Tanto que fez publicar na capa do jornal da família na edição de sábado uma foto em que ele e o irmão, ministro Jader Filho, aplaudem Edmilson Rodrigues, que havia sido vaiado minutos antes, enquanto o alcaide fala em evento no Ver-o-Peso no aniversário de 408 anos de Belém.

 

A capa tem endereço certo: será remetida a Lula como prova de bons modos. O presidente, que tem aversão a bajuladores e não se ofende com a verdade, sabe que os sinais trocados podem significar um perigoso desvio de rota. Quem viver, verá.

 

Papo Reto

 

Amigo da coluna de longa data, o advogado José Carlos Lima, o Zé Carlos do PV, funcionário do governo Lula no BNDES, provocou rápido, mas pertinente debate, ontem, após uma postagem em sua conta no Instagram.

 

Edmilson Rodrigues é o melhor prefeito para receber a COP30”, arriscou Zé, ao que o também advogado Afonso Arinos, amigo dele, respondeu de bate-pronto: “Belém está lascada”.

 

No post, Zé Carlos destaca que o prefeito “desempenhará um papel crucial” ao receber o evento - e seus 100 mil participantes -, que abrirá uma janela de oportunidade para a economia do turismo e coisa e tal.

 

 “Juntos, podemos construir um futuro mais sustentável e próspero para Belém”. Pergunta-se: nós quem, caruana?

 

O reitor Clay Chagas, Uepa, dá conta de que esteve no Comando Geral da PM discutindo com o coronel Dilson Júnior (foto) e o novo chefe do Estado Maior detalhes sobre um convênio de capacitação de policiais militares em língua inglesa. Tudo pela COP30.

 

Sinais trocados: a foto efusivamente festiva de Edmilson falando ao lado de Helder publicada na capa do jornal da família sinaliza para Lula que, mesmo que resolva tirar outra candidatura, pagará a conta da campanha de Ed50.

 

O que se diz é que o PCdoB planeja lançar o secretário de Habitação da Prefeitura de Belém, Rodrigo Moraes, para disputa de vaga à Câmara.

 

E mais: que o partido espera assinar a filiação da deputada Lívia Duarte, do Psol, que vem a ser mulher do secretário da gestão Ed50, Cláudio Puty. Sobre esse detalhe não há confirmação.

 

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