"Briga do rochedo contra o mar" para trânsito na Grande Belém e não sinaliza prazo de validade

Disputa pelo controle político e administrativo de Ananindeua, segundo maior colégio eleitoral do Estado, pode até matar de raiva, menos de tédio, apesar dos efeitos colaterais.

Por Olavo Dutra

08/05/2024 08:00
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e a arena fosse um estádio de futebol, como a Curuzu ou o Baenão, por exemplo, a capacidade de público estaria esgotada, exigindo transferência para o Mangueirão. Mas é pela métrica das redes sociais que se mede o público da arena onde vem sendo travada a guerra pelo controle político e administrativo de Ananindeua, espécie de Davi contra Golias considerando-se que a contenda envolve um governador e um prefeito, dois poderes conceitual e tecnicamente bem distantes. E a batalha, por assim dizer, é de parar o trânsito, literalmente, e não tem prazo de validade.


Vigilância Sanitária de Ananindeua entra em cena e intima hospital da família Seffer por irregularidades/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

Nesse ambiente politicamente hostil, beligerante e tóxico é bem capaz que alguém morra de raiva dentro de um carro no atravancado trânsito da BR-316, mas de tédio, não.

 

Foi justamente o que aconteceu ontem, em meio à manifestação de servidores do Hospital das Clínicas de Ananindeua, de propriedade da família Seffer, que fechou as portas por suposta falta de repasses de verbas pela prefeitura conduzida pelo médico Daniel Santos.

 

Centenas, senão milhares de pessoas paradas no trânsito por conta do fechamento da rodovia espraguejavam por falta de mobilidade, ao mesmo tempo de olhos pregados nas redes sociais, onde pipocavam críticas e comentários nada republicanos contra - contra quem mesmo? A salada política é indigesta.

 

Guerra anunciada

 

A “guerra” estava anunciada havia tempo, mas saiu dos bastidores para o espaço público no dia em que o governador Helder Barbalho anunciou seus planos - ou parte deles - para a eleição sucessória em 2026, lançando o nome da atual vice-governadora, Hana Ghassan. Na plateia do evento político na ocasião, o prefeito Daniel Santos engoliu seco, mas deve ter sentido o peso dos olhares sob os ombros - e seguiu quedo e mudo. Outros sinais paralelos apimentaram o caldo e o tacho entornou, queimando aliados de um lado e outro.

 

Freio de arrumação?

 

Na última segunda-feira, a Coluna Olavo Dutra antecipou a paralisação dos servidores do Hospital das Clínicas de Ananindeua (https://www.portalolavodutra.com.br/materia/estrategia_para_garantir_saude_financeira_de_hospital_quebra_unidades_menores_em_ananindeua), uma das consequências da batalha travada pelo controle político do segundo maior colégio eleitoral do Estado e que atinge principalmente a área da saúde, hospitais públicos e privados, negócios de família e supostos favorecimentos agora “reconsiderados” sob ótica legal. Teria sido bom enquanto durou, mas chegou à exaustão, para o bem ou para o mal.

 

Os petardos lançados no curso dessa disputa meio que insana, ante uma população atordoada e que entende tanto da arenga quanto de física quântica, têm efeitos colaterais justamente sobre a maioria, como no caso da manifestação de ontem, que paralisou a região metropolitana de Santa Isabel a Belém, em um engarrafamento raramente visto Brasil afora. E provocou a reação do prefeito.

 

A volta faz o anzol

 

Mestre Aurélio aponta quatro sinônimos para a palavra revanche: vingança, desforra, reparação e desagravo. Não se sabe que significado carrega a reação do prefeito Daniel Santos que, em meio ao furdunço, publicou em suas redes sociais: “É lamentável que um movimento político em um hospital dos Seffer, ligados à família que se acha dona do Pará e usa seu aparato midiático para atacar Ananindeua, atrapalhe a vida das pessoas. Os responsáveis serão penalizados e processados...”. Ato contínuo, a Vigilância Sanitária de Ananindeua intimou o Hospital das Clínicas de Ananindeua por irregularidades e insalubridades.

 

Risco à saúde pública

 

Em nota, acrescenta que, “com grande risco de causar danos à vida dos pacientes internados, o hospital, gerenciado pela família Seffer, não está de acordo com os parâmetros da Lei 1.320, de 30 de novembro de 1998, o Código de Vigilância Sanitária”. A informação traz imagens denunciando a precariedade do hospital, que, embora seja particular, está em condições muito mais preocupantes do que a de muitas unidades públicas de saúde.


Segundo a prefeitura, o hospital deve providenciar Licenciamento Sanitário referente aos anos de 2024 e 2025.

 

Papo Reto

 

· Belém pensa em - quase - tudo como candidata à “cidade inteligente”, como abrir um canal navegável tipo em Veneza, no Igarapé São Joaquim.

 

· Só não pensa, nem de longe, em uma alternativa inteligente para dar fim à famosa “Pedra do peixe”, à sujeira e à falta de higiene que cerca o ambiente, no Ver-o-Peso; muito pelo contrário.

 

· Atribui-se ao prefeito Edmilson Rodrigues (foto), em mandato anterior, o afundamento da estrutura deixada pelo governo Hélio Gueiros que atendia pelo nome de Entreposto pesqueiro.

 

· Emendas parlamentares cujos autores não são identificados em publicação do Diário Oficial vão irrigar 24 espetáculos artísticos no Pará através da Fundação Tancredo Neves e da Funtelpa: R$ 18 milhões.

 

· Na ponta do lápis, R$ 1,1 milhão da Fundação para dez espetáculos e R$ 660 mil da Funtelpa para o restante. Quem canta - ou dança, ou ri, seja o que for -, seus males, espanta.

 

· Suposto rombo nas contas do condomínio do Edifício Manoel Pinto da Silva, à Praça da República, provoca reunião convocada para esta sexta-feira. Moradores exigem transparência na prestação de contas. 

· A Assembleia Legislativa aprovou e o governador Helder Barbalho sancionou lei que institui o Dia do Perito Papiloscopista, cargo que não existe no Pará.

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