Reitora da Ufra antecipa candidatura à reeleição e esbarra na reação da comunidade acadêmica

Professora Herdjania Veras coloca “carroça na frente dos bois” ao pedir licença do cargo ainda que a Universidade não tenha sequer edital publicado sobre nova consulta.

07/02/2025, 11:30
Reitora da Ufra antecipa candidatura à reeleição e esbarra na reação da comunidade acadêmica
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ão é exatamente porque se trata de uma universidade de ciências agrárias que a atual reitora da Universidade Federal Rural da Amazônia, Herdjania Veras, tem o direito de colocar “a carroça adiante dos bois”. Este ano, a Ufra terá eleição para escolha da lista tríplice para a escolha do novo reitor - e a magnífica entra em campo para tentar a reeleição, embora enfrentando, desde já, a reação da comunidade acadêmica.

Herdjania Veras encaminhou documento no último dia 5 e provocou reações, além de suspeitas de receber informações privilegiadas/Fotos: Divulgação.
Ontem quinta-feira, 6, os bastidores da Universidade descobriram, com espanto, que, mesmo sem edital de eleição lançado, sem data definida e sem consulta prévia, a professora Herdjania Veras enviou o Ofício 17/2025 à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas solicitando afastamento do cargo, a partir de 8 de fevereiro de 2025, para se candidatar à reeleição. 

“Venho por meio deste solicitar afastamento, em razão de candidatura ao cargo de reitora, conforme parágrafo segundo do artigo 26 do Estatuto da Universidade Federal Rural da Amazônia, a partir de 8 de fevereiro de 2025, até a homologação do resultado da consulta prévia”, diz o texto datado de 5 de fevereiro.  O tal parágrafo diz: “O Reitor poderá concorrer a uma reeleição desde que se afaste do cargo por um período de 90 (noventa) dias antes da eleição”.

Reação imediata  

As reações ao ofício de Herdjania - de professores, funcionários e alunos - foram imediatas. Ao final da tarde de quinta-feira, já se encontrava nas redes sociais uma Nota de Esclarecimento da União dos Centros Acadêmicos e um manifesto, com link para assinaturas, repudiando a iniciativa, sob o título “Um chamado à democracia” na Ufra. Veja:

Nós, estudantes, professores, técnicos administrativos em educação e demais membros da comunidade acadêmica da Ufra, expressamos nossa profunda preocupação com os rumos da gestão da universidade, que tem se caracterizado por práticas antidemocráticas, autoritárias e desrespeitosas com a autonomia universitária e com a participação da comunidade acadêmica nos espaços de diálogo, debate e decisão”.

Uma fonte ouvida pela Coluna Olavo Dutra na Universidade avalia que precisaria haver um edital publicado visando à eleição para consumar o pedido de afastamento da reitora. “Como ela pede afastamento sem ter nada que diga o período de eleição? A informação sobre o futuro pleito foi socializada apenas dentro da bolha da gestão, em um tratamento desigual aos outros possíveis candidatos. Se não tem edital, nem data publicada, a ação da reitora se caracteriza como informação privilegiada”, explica.  

Centros acadêmicos

Em postagem no Instagram, a União dos Centros Acadêmicos da Universidade reafirma seu compromisso com a imparcialidade aduzindo que, recentemente, circularam em grupos de WhatsApp informações alegando que uma aluna, utilizando a bandeira da entidade, estaria publicamente apoiando uma pré-candidata à Reitoria e, ao mesmo tempo, disseminando informações difamatórias contra outra pessoa. “Esclarecemos que tal posicionamento nunca foi discutido ou deliberado, nem houve qualquer consulta prévia ao corpo discente que representamos”. 

“A entidade é apartidária e quaisquer declarações de apoio ou manifestações que envolvam difamação representam opiniões exclusivamente pessoais, sem qualquer vínculo com o posicionamento institucional da organização. Além disso, tais condutas vão de encontro ao que estabelece a Resolução 294 Consun, Capítulo VI, Art. 18”. 

“Reiteramos que a imparcialidade política e a autonomia dos Centros Acadêmicos é princípio fundamental para a preservação da representatividade estudantil. Qualquer manifestação pública em nome da organização deve ser fruto de deliberação coletiva e democrática, garantindo que as decisões reflitam os interesses da comunidade acadêmica. Reiteramos também que não temos associações com nenhum movimento político estudantil”. 

Legal, mas sem apoio

Um dos comentários à postagem diz: “Um show de horrores os áudios dessa aluna. As eleições sequer começaram e os alunos já se encontram nesse nível”. Outro comentário: “Vamos derrotar a interventora que quer dar um novo golpe na democracia interna da Ufra”.  

O comentário ss refere a que a reitora Herdjania Veras não foi a mais votada na eleição para a Reitoria na lista tríplice, e ainda assim foi nomeada para o cargo, por meio de arranjos políticos, ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2021.  

Marido em campanha

O marido da reitora, Paulo Farias, servidor da Universidade, publicou, em seus stories, fotos dele com o deputado federal do Pará, Eder Mauro, do PL, mesmo partido do ex-presidente Bolsonaro, com legendas como “A Ufra terá um candidato de direita na próxima eleição”. Em outra postagem, Paulo Farias escreveu: “Obrigado ao Bolsonaro e ao deputado Eder Mauro pela amizade e parceria que culminou com a maior mudança na Ufra. Não sou traidor; continuo filiado ao PL e lutando contra os comunistas dentro da Ufra. Na foto, Paulo está trocando um aperto de mão com Eder Mauro e há figurinhas da bandeira do Brasil em ambas as postagens

Papo Reto

·O deputado Rogério Barra, do PL, se inscreveu - diz que - para “confrontar, no campo dos debates”, o governador Helder Barbalho na reabertura da Assembleia Legislativa. Foi barrado.

·Para se manifestar em nome da oposição, a direção da Casa indicou o deputado Coronel Neil (foto), eleito pelo partido de Eder Mauro, mas que de oposição não tem nada.

·Aliás, a oposição ao governador Barbalho na Assembleia está cada vez mais reduzida: além do Coronel Neil, Aveilton Souza, também eleito pelo PL, se mudou para o PSD e é todo governo.

·O tucano Erick Monteiro, que foi oposição ao governo até se divorciar da “República de Ananindeua” e do prefeito Daniel Santos, está perfeitamente integrado à máquina do Estado.

·Um inquérito civil instaurado pelo procurador federal Paulo José Rocha promete vasculhar a falta de transparência da Presidência da República relacionada ao número de assessores da primeira-dama Janja da Silva.

·Esse caso está parecendo uma bola de neve. Janja não tem cargo formal nem foi eleita, mas, por ser mulher do presidente, ocupa uma sala no Palácio do Governo e conta com mais de dez assessores.  

·A despesa com pagamento de diretores dos Correios deu um salto de R$ 5,9 milhões em 2022 para R$ mais de R$ 8 milhões no ano seguinte. Ano passado, o déficit na empresa bateu a casa dos R$ 3 bilhões.

·O agro brasileiro passou a investir pesado na geração própria de energia solar visando reduzir custos.

·Inclusive, já testa a integração da fonte renovável com baterias, uma nova fronteira tecnológica que permite estabilizar o suprimento elétrico nas fazendas, reduzindo a dependência do diesel.

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