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áudios supostamente vazados por algum integrante da chamada “Milícia Digital”
da Prefeitura de Belém - de efeitos políticos inimagináveis tanto no presente,
quanto no futuro - colocam em xeque o prefeito Edmilson Rodrigues e o seu chefe
de Gabinete, Aldenor Júnior - ou ambos, dependendo do ponto e vista ou do gosto
do freguês. A partir dos áudios, ou o prefeito se divorcia de Aldenor, ou
Aldenor chama quem de direito para, digamos assim, “discutir a relação”. A
escolha está aberta.
“Esse governo afundou!” -, adverte uma proeminente figura do núcleo de poder da prefeitura e da Tendência Socialista, a mesma do prefeito, referindo-se à gestão Edmilson Rodrigues. Do outro lado da linha, o interlocutor ouve a peroração - com cheiro de intriga - quedo e mudo. A advertência sai grave e em um tom irritado, senão autoritário, próprio de quem está habituado a mandar: “Aproveita estes últimos meses pra te organizar na tua vida”. Esse áudio foi claramente editado.
Conversa de comadres
A
fala poderia ter sido travada entre duas pessoas comuns se aventurando na
avaliação política e administrativa do prefeito Edmilson Rodrigues nesses quase
quatro anos de mandato. É recorrente entre oito de cada dez moradores de Belém,
principalmente ante a proximidade das eleições, na qual o prefeito vai tentar
conquistar a reeleição. Só que não. A advertência, que corre entre grupos de
WhatsApp ligados à administração, é atribuída a ninguém mais do que Maria
Gracione, a Nice, também conhecida por “Nice Tupinambá”, candidata derrotada
nas últimas eleições, que vem a ser mulher do chefe de Gabinete de Edmilson
Rodrigues, Aldenor Júnior. O interlocutor, segundo comentários nesses grupos, é
Paulo Stark, ambos “considerados” no partido. O segundo áudio, atribuído a
Paulo Stark, é mais esclarecedor (veja abaixo; transcrição na íntegra).
"Não tô nem aí..."
"Eu
não tô nem aí pra DAS, pra emprego, porque eu sou uma pessoa muito boa no que
eu faço. Eu sei fazer política, mas... Mas a decepção, sabe, que eu tô, porque
eu conheço a Nice tem uns 12 anos, né? E ela me tratou de uma forma totalmente
deplorável. Se te mandar os áudios dela aqui, como ela falava comigo, sempre
ameaçando. Ah, tu vai ser exonerado, tu vai ser exonerado. se tu não fizer
isso, o governo do Edmilson acabou, afundou. Entendeu? E eu tô recebendo
propostas, sabe? Várias propostas. Mas ainda tô avaliando pra onde é que eu
vou. Eu não tô nem aí não pra DAS, pra emprego, porque isso é de menos. O mais
triste é uma pessoa que Ela usa o fato de ser esposa do Aldenor Júnior, chefe
do gabinete, pra humilhar as pessoas, pra cometer assédio moral. E não foi só
comigo, não. Foi com várias pessoas, sabe? Muita gente reclama dela. Tá me
entendendo? Que trabalha com ela. Então eu não aguentei mais isso. Eu rompi
definitivamente com ela. E vou me desfiliar do PSOL. Não tô nem aí. Comuniquei
já a Leila, comuniquei a Araceli Lemos, que é a presidente do partido. E eu não
tô nem aí, sabe? porque eu sou bom no que eu faço.
Tem
gente, principalmente gente do MDB vindo atrás de mim, sabe? Eu tô avaliando
algumas propostas que eu recebi. Então eu não tô nem aí, não. O mais triste
estou decepcionado, porque eu acreditava muito nela. Entendeu? Eu acreditava
muito que ela podia ser uma renovação, mas não é, é mais do mesmo, muito pior.
Se sem mandato ela já faz isso, imagine uma pessoa dessa com mandato, tá me
entendendo?"
PSM que afundou
Desde
o ano passado, Maria Gracione Nice Tupinambá vem sendo acusada no âmbito da
Prefeitura de Belém de liderar o “Gabinete do ódio” contra desafetos políticos
da gestão municipal, entre eles a atual vereadora Sílvia Letícia. Paulo Stark
seria o “chefe da guerrilha”, portanto, supostamente ligado a Nice nessa
empreitada. Paulo Stark não tem mais cargo de confiança na prefeitura, mas Nice
atua como uma “coordenadora” dos serviços do Pronto Socorro do Guamá, estes
sim, que já afundaram, para usar a expressão dela.
Entre Fênix e Sísifo
Depois
de praticamente quatro anos de mandato e uma gestão trôpega, permeada pela
pandemia de covid, da qual foi vítima, derrotas financeiras e orçamentárias,
perdas pessoais - infelizmente -, e danos coletivos, o prefeito Edmilson
Rodrigues ensaia uma reviravolta capaz de lhe garantir a reeleição com base na
força da militância, mas o voo da Fênix está sendo minado por baixo, dentro da
própria gestão, o que ameaça empurrar o prefeito para a mitológica e dramática
situação de Sísifo da mitologia grega, condenado a empurrar eternamente uma
pedra ladeira acima, de onde invariavelmente sempre que atingia o topo.
Plenos poderes
Não
se sabe se por influência do marido, Aldenor Júnior, ou por qualidades e
esforço pessoais, Maria Gracione é apontada como detentora de “poderes
extraordinários” na gestão municipal, o que implica que sua atuação não se
restringe a oferecer bons atendimentos aos pacientes do PSM do Guamá - não é o
que dizem os funcionários. Sua atuação dentro da corrente Primavera Socialista,
que abriga o prefeito, também é destacada. Então, o que explicaria expressar
sua “leitura” sobre a gestão da qual participa, inclusive com o poder do
próprio marido, dono da caneta, senão estabelecer uma espécie de “vale-tudo” no
partido às vésperas de uma eleição sem o menor desconforto aparente? Bem, “o
inimigo do meu inimigo é meu amigo”, diz o provérbio árabe.
Volta por cima?
A
quem interessar possa, a Coluna Olavo Dutra teve acesso a um vídeo
institucional da Prefeitura de Belém, provavelmente caríssimo, de cerca de
cinco minutos, que dá bem a medida do esforço do prefeito Edmilson Rodrigues e
das agências contratadas para tentar reverter as adversidades colecionadas pela
administração no curso do atual mandato. É um chamado à militância, pela qual
sempre foi embalado em suas campanhas vitoriosas.
Não
parece que Maria Gracione tenha dado importância à peça publicitária, que, ao
menos por enquanto, circula apenas nos gabinetes da prefeitura.