Deputado denuncia esquema de corrupção e propõe investigação no Iasep, mas está entre beneficiários

Hospital do parlamentar foi denunciado ao MPF por cirurgias de catarata e glaucoma em jovens, contrariando literatura médica.

01/05/2024 09:40

Deputado Erick Monteiro, dono de hospital: fraudes em recursos do SUS/Fotos: Divulgação.


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a última segunda-feira, 29, quando o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado, Gaeco, braço do Ministério Público Pará, visitou servidores ligados ao Hospital Santa Maria, de propriedade do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, o deputado Erick Montteiro, do PSDB, aliado de Daniel, assumiu a posição de porta-voz do prefeito, ao ponto de conceder entrevista tanto defendendo a administração quanto acusando o governo do Estado.


Pelo que revelou aos jornalistas, o tucano deixou subentendido que há um esquema de corrupção envolvendo diferentes hospitais do Estado, todos atendidos com verbas do SUS - o Sistema Único de Saúde -, inclusive em Ananindeua, onde, segundo ele, “uma clínica ligada a um político recebe R$ 2,5 mil por uma endoscopia”. Erick sabe das coisas. O Hospital Modelo, de sua propriedade, também era ligado ao suposto esquema.  

 

No meio do pitiú


Em agosto do ano passado, por exemplo, o Hospital Modelo foi alvo de denúncias sobre supostas fraudes envolvendo verbas do SUS. Àquela altura, a Coluna Olavo Dutra denunciou, com exclusividade, a realização de cirurgias de glaucoma e catarata em pessoas jovens no hospital. Esses procedimentos causam estranheza por serem, de acordo com a literatura médica, normalmente realizados em pessoas acima dos 40 anos, para glaucoma, e acima dos 60, para catarata. Casos em crianças e jovens são extremamente raros.


Silêncio do MPF

 

À época, uma denúncia chegou a ser feita pelo médico Wirley de Barros, então auditor do Sistema de Regulação da Secretaria de Saúde de Ananindeua, ao Ministério Público do Pará, por meio da Procuradoria do Município de Ananindeua, e ao procurador Bruno Valente, titular da Procuradoria da República do Ministério Público Federal (MPF) no Pará. Nada foi para a frente, ao que se sabe.


Conta do Modelo

 

Só em 2021, o Hospital Modelo recebeu quase R$ 4 milhões do SUS. Desse montante, mais da metade, R$ 2.294.759,97, relacionada a cirurgias oftalmológicas em pacientes jovens, todas recomendadas pelo mesmo médico, o oftalmologista Carlos Augusto Alves, sempre com as mesmas justificativas.


Outros R$ 700 mil aparecem, também pagos ao Hospital Modelo, em cirurgias de retina e tomografias, além de exames de tomografia de coerência óptica, solicitados sem o devido laudo de comprovação da real necessidade e indicação, como recomenda o Protocolo de Solicitação emitido em nota técnica pelo SUS. 

 

Casa de marimbondo

 

Mas o parlamentar dono de hospital parece querer mexer no vespeiro, sugerindo que o Iasep seja alvo de uma devassa, como se nada tivesse a explicar sobre os recursos recebidos pelo hospital de sua propriedade. Parece um comportamento “kamikaze”; e é.

 

Afinal, do jeito em que as coisas estão - e no ponto em que chegaram -, nem a expressão “em terra de cegos, quem tem um olho é rei” deve ser usada, pois não há cegos. E mais: desde a entrevista, segunda-feira, o tucano segue de bico fechado.

 

Papo Reto

  

Assíduo leitor da coluna observa duas situações interessantes com base em operações policiais que vêm ocorrendo na Grande Belém nos últimos dias: “pelo menos de tédio a gente não morre”.

 

De fato.  Segunda-feira em Ananindeua e, ontem, em Belém, eis que vem à tona o que estava sob o tapete havia anos e ninguém falava nada, a não ser nos convescotes da vida.

 

E conclui o leitor: “estou com medo do desdobramento de tudo isso... Parece que estamos vivendo uma recaída da Lava-Jato”. 

 

Aliás, para muitos, não causou surpresa a operação Plenitude, que envolve a Controladoria-Geral da União, Polícia Federal e Receita Federal, investigando supostos desvios de recursos públicos no Pará.

 

A empresa Terraplena, de Carlos Nascimento, figura no olho do furacão, acusada de fraudar licitações e lavar dinheiro público.


Pesquisa Doxa registrada no TRE aponta que o prefeito marajoara de Bagre, Clebinho Rodrigues, do PSD (foto), é o mais bem avaliado do Pará, com 93% de aprovação.

 

Nessas condições, Clebinho deixa para trás prefeitos de maior visibilidade, como a digital influencer Patrícia Alencar, de Marituba. A diferença de intenção de votos do Clebinho para os seus adversários é de quase 60%.

 

Acredite, o Brasil ultrapassou quatro milhões de casos de dengue, mas a conta não para aí.


No próximo dia 8 termina o prazo para tirar título eleitoral, sem o qual o eleitor não poderá emitir documentos como o passaporte, nem se matricular no ensino superior.


Mais de 3,4 milhões de motoristas com carteira nas categorias C, D e E estão em situação irregular no Brasil.


Detalhe: o prazo para realizar o necessário exame toxicológico terminou ontem.

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